Dia 15: inédito, o Fair Play leva o Japão às oitavas da Copa/2018
Os "Samurais Azuis" se igualaram em pontos ao Senegal. Ficaram com a vaga, porém, graças ao novo quesito da disciplina, menos cartões amarelos.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
E nesta quinta-feira, dia 29 de Junho, enfim se definiram todos os emparceiramentos dos mata-matas da Copa da Rússia. Já se conheciam os adversários do sábado, dia 30 – França X Argentina e Uruguai X Portugal. Do dia 1º de Julho, um domingo – Espanha X Rússia e Croácia X Dinamarca. Já se sabia que na segunda, dia 2, duelarão o Brasil e o México. Que, na terça, 3, se defrontarão Suécia e Suíça. Até então, eram oito seleções da Europa, três da América do Sul e uma solitária da América do Norte.
Dentre as oito equipes que se debateram nesta jornada, já tinham se despedido, antecipadamente, no Grupo G, uma da América Central, Panamá; uma da África, Tunísia; e, no Grupo H, uma da Europa, a Polônia. No G, Inglaterra e Bélgica se defrontariam pela primazia da liderança. No H, porém, ainda existiam diversas complicações nas rotas de Japão (Ásia), Senegal (África) e Colômbia (América do Sul). Complicações que se decidiriam cedo, no horário da manhã aqui no Brasil, em dois prélios simultâneos.
Na calorama de Samara, a cidade mais quente das onze subsedes da Copa, numa arena para 41.970 pessoas, se digladiaram o Japão, com 4 pontos, e a decepcionante Polônia, ainda zerada. No clima ameno de Volgogrado, a sua arena com 43.713 lugares, combateram o Senegal, 4 pontos, e a Colômbia, 3. Ao Japão, obviamente, bastava um empate para se classificar. Senegal, também, seguiria adiante com uma igualdade. À Colômbia, todavia, só uma vitória serviria. Caso ficasse na igualdade e o Japão caísse, sobreviveriam os “Samurais Azuis”: no desafio direto com os “Cafeteros”, tinham feito 2 X 1.
Outras peculiaridades envolviam a porfia de Samara. Por exemplo, o Japão buscava realizar a sua 19ª exibição sem receber um cartão vermelho, um recorde em torneios da FIFA. As “Águias Brancas” da Polônia lutavam ao menos por uma reprise de 2002 e de 2006, quando escapuliram do fracasso absoluto e ganharam os cotejos derradeiros. Sem dizer que o seu craque, o seu artilheiro Robert Lewandowski, ainda não havia anotado um só gol.
Lewandowski permaneceu absolutamente mudo. De todo modo, em honra da sua bandeira, as “Águias Brancas” sobrepujaram os “Samurais” por 1 X 0, gol de Bednarek, um zagueiro, ao aproveitar, no limiar da área pequena, um levantamento, cobrança de uma falta, aos 59’. Por um quarto de hora o elenco de Akira Nishino ainda tentou, atabalhoado, sofregamente, correr atrás da igualdade. No entanto, aos 74’, baixou em Samara a informação de que a Colômbia havia inaugurado o placar diante do Senegal. Fato inédito na aventura dos Mundiais: um critério novo, o Fair Play, decidiria a vaga.
Uma simples questão de aritmética. Um primeiro cartão amarelo acarreta a perda de um ponto na tabela do Fair Play. Um segundo amarelo, ao mesmo atleta, aquele que, pela soma, se transforma em vermelho, leva à perda de três pontos. Um vermelho direto, menos cinco pontos. Àquela altura, o Japão ostentava menos quatro e Senegal, menos seis. E os “Samurais” se aferraram à posse estéril de bola e, num show de anti-jogo, aguardaram na preguiça que se esgotasse o tempo regulamentar. Bem mais do que a confirmação do recorde da sua 19ª exibição sem um vermelho, protagonizaram uma irônica primeira qualificação da história em nome da suposta disciplina.
Claro, se caracterizou por uma tensão imensamente maior o jogo de Volgogrado. Enquanto os “Leões de Taranga” de Aliou Cissé se recordavam da sua única peleja contra uma seleção da Conbemol, 3 X 3 diante do Uruguai em 2002, então o seu atual treinador como médio-volante, a Colômbia esperava se tornar a quarta representante da América do Sul na competição – já despachado, dentre os cinco inscritos do continente, exclusivamente o Peru.
A Colômbia se apavorou logo aos 18’ quando Sánchez, num carrinho, aparentemente derrubou Mané dentro da sua área grande. Milorad Mazic, o árbitro da Sérvia, apontou a marca fatal. No entanto, aceitou se consultar com o VAR e verificou que Sánchez havia atingido a bola, com o seu calcanhar, e que o tombo de Mané não passara de consequência da trombada.
Daí, aos 31’, James Rodríguez, o craque primordial dos “Cafeteros”, sentiu uma contusão e pediu substituição. O treinador José Pekerman mandou ao gramado o agressivo Muriel. E, aos poucos, a Colômbia assumiu o controle das ações, até que, aos 74’, Yerry Mina, o seu zagueiro artilheiro, testou o gol que seria o da vitória. Por mais que se empenhassem, os “Leões de Taranga” não alcançaram o empate. Tristeza na África: pela primeira vez, desde 1986, o continente sem uma seleção promovida além da fase de chaves.
E o Grupo G, de que valeriam os seus combates, na tarde aqui do Brasil? O estreante Panamá, que tanto celebrara o seu primeiro gol, aquele de Felipe Baloy nos 6 X 1 em favor da Inglaterra, sonhava em conquistar, também, na Arena Mordóvia de Saransk, 41.685 espectadores, a sua primeira vitória, mesmo. Curiosidade: a Tunísia queria uma primeira vitória de outro tipo. Estreante na Copa da Argentina/78, havia batido o México, 3 X 1, logo no seu prélio inicial. Daí, havia acumulado outros catorze sem ganhar.
Aos 33’ o placar se movimentou – mas com um gol bem singular. Em favor do Panamá, oficializado na súmula com o nome de um atleta da Tunísia, um chute de José Luís Rodriguez que o mediador Nawaf Shukkrala, do Bahrein, optou por emprestar a Meriah, culpado por um desvio involuntário. Aos 51’ a Tunísia faria 1 X 1 graças a um tento de moto próprio, Ben Youssef, livre diante do arqueiro Penedo. E as “Águias de Cartago” duplicariam aos 66’ com Khazri, o seu armador, contratado pelo Rennes da França. Por 2 X 1, enfim um sucesso da Tunísia numa Copa, quatro décadas depois.
Como no caso do Japão, também a liderança do Grupo G poderia advir do critério do Fair Play. As duas esquadras pisaram no gramado de Kaliningrado, 33.973 lugares, essencialmente com seus reservas, oito nos “Três Leões”, nove nos “Diabos Rubros”. Mas, por menos dois pontos a menos três, a Inglaterra dispunha de uma pré-vantagem insólita, que lhe permitiria, nas oitavas, pegar o Japão ao invés da Colômbia. Pior, para a Bélgica, ainda na etapa inicial o árbitro Damir Skomina, da Eslovênia, ampliou a conta para menos dois a menos cinco ao mostrar duas vezes o amarelo aos “Diabos Rubros”.
Confiante de que uma folga tão vasta não seria batida, o elenco de Gareth Southgate aceitou passivamente que os pupilos de Roberto Martínez preservassem a sua posse de bola. E o conformismo dos britânicos acabou punido aos 51’, quando Adnan Januzaj, de família nativa do Kosovo, desferiu um lindo petardo em diagonal, no ângulo, sem chance para o arqueiro Pickford. Bélgica 2 X 1. No dia 2, segunda, em Rostov, pega o Japão. Dia 3, em Moscou, no estádio do Spartak, Inglaterra X Colômbia.
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