CR7 na Juve, a fantasia dinástica da Família Agnelli em busca da CL
Andrea, filho de Umberto e sobrinho de Gianni, na Itália ganhou até o hepta inédito. Mas lhe falta a "Orelhuda", um sonho que agora pode se realizar.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
![A capa do site oficial da Juventus](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/XREWZVOC4RKNNLNYCAW3JPNBEM.jpg?auth=6a7b86e8951e75b79bc1c561807448071e56c7755f137e2d0aa3192ad2f3ff48&width=660&height=360)
E eis que madrugada dessas a bela Emma Winter acordou sobressaltada ao perceber que o seu marido Andrea não estava ao seu lado na cama. Levantou-se, viu que os dois filhos, Baya e Giacomo Dai, dormiam sossegados, e saiu a procurá-lo através da sua lindíssima propriedade numa das colinas vizinhas a Turim, no Piemonte da Itália. Encontrou Andrea no escritório, sentado à sua mesona de trabalho doméstico, a meditar solitário. Sem incomodá-lo, percebeu que o marido cofiava as barbas ralas e fitava, sem piscar, duas figuras emolduradas em porta-retratos de filigrana: Umberto e Gianni, respectivamente o pai e o tio de Andrea. Então, o marido se apercebeu da presença solidária da mulher, suspirou, suspirou e desabafou:
![Andrea Agnelli](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/XU7ZHOOB4JOXJBM7JRWIP5LAHY.jpg?auth=dd546f640e8230fe936dae14a9f24c02fdac359eecf44492cead49e0db73c3e8&width=660&height=360)
“Eles conseguiram. Meu babbo e meu zio ganharam tudo aquilo a que se propuseram. Foram campeões do Calcio, da Champions League e até do Mundial Interclubes. E eu, por que razão, eu que cheguei ao recorde inacreditável de sete títulos consecutivos em meu país, não consigo levantar aquela taça a que todos chamam de ‘Orelhuda’?” Emma, lógico, não soube responder. Porém, de algum recanto do seu pensamento Andrea capturou a obviedade. Porque o pai e o tio dispuseram do melhor do planeta.
![Umberto e o jovem Andrea](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/AAXUU24B7BO7DJXWTSIVUSTENM.jpg?auth=75f97e7f6333e5bbfaad690dafefe260b4abe0fb9968e0cc77f5fd89cbc25afa&width=660&height=360)
Claro que a historieta que eu acabo de contar não passa de uma terna fantasia. Marido e mulher já não moram na mesma casa desde Abril. De todo modo, trata-se de uma fantasia baseada na verdade. Umberto e Gianni, pai e tio de Andrea, conquistaram tudo aquilo que se propuseram. Porque, além de um esquadrão formidável de atletas, além de excelentes treinadores e correlatos, além de uma extraordinária organização desde a base até o time de cima, dispuseram, digamos, do melhor do planeta.
![Sivori, John Charles e Boniperti](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/TDMNAQM6HRLYFLZD35ZU5Z4ALE.jpg?auth=79c23636dc8c4c3d6d287e73ff55b1ed2686618ed393ba2b228abea8ac549632&width=659&height=359)
Bem, senão o melhor, um ou mais do que um dos principais talentos dos seus tempos de comando da agremiação. Os dinamarqueses John Hansen, Karl Hansen, Praest e Laudrup. O galês John Charles, O espanhol Del Sol. O argentino Omar Sívori. Os alemães Haller e Koehler. Os franceses Platini e Zidane. O polonês Zibi Boniek. O holandês Davids. O tcheco Nedved. E quando não havia estrangeiros no mercado, a Juve estruturou elencos nativos de magia, como aquele em que predominava Giampiero Boniperti, seu futuro presidente, e os que municiaram as seleções da Bota nas décadas de 70 e de 80: Dino Zoff, Gentile, Cuccuredu, Cabrini, Tardelli, Causio, Bettega, Benetti, Scirea, Paolo Rossi. Ou, mais recentemente, Roby Baggio e Del Piero.
![Baggio e Del Piero](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/E77ZK4KFDFKFDHKWF2I2I4R6AQ.jpg?auth=428a79b715f2a8940add1af1b6f321d628c624f70c5ec7183c1202dc5a44f3f2&width=660&height=360)
Neste Século XXI, por causa de um escândalo nas intermediações de arbitragens, a Juve chegou a perder dois de seus títulos (um, revogado; outro, entregue à Internazionale de Milão). Mas, humildemente, desceu à Série B e, com um certo Didier Deschamps como o seu treinador, reconquistou o direito de disputar a primeira divisão. A queda aconteceu em 2006. Depois do seu reacesso, na temporada de 2007/08, a agremiação de novo arrebatou um scudetto em 2011 e desde então não mais deixou o topo do pódio.
![A celebração do Hexa](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/7UJHQNLXJ5MDZHEELS5MQEXNOM.jpg?auth=5b394b5e14cedafd9aa088ae98c32b8450db582a0ac405abfca53be2c79ab325&width=660&height=360)
Faltou, porém, a Champions. Em 2015 e 2017, quase, se limitou à vice colocação e a olhar por baixo os sucessos do Real Madrid. E que melhor vingança seria, claro, tirar dos “Merengues” o seu astro maior, Cristiano Ronaldo? Evidentemente, só a contratação do CR7 não significa a automática posse da “Orelhuda”. Mas, convenhamos, no mínimo, garante a continuidade dinástica do poder da Juve dentro do Calcio. Ou, da Itália dentro da Itália.
Importante: a Família Agnelli comanda o futebol da Bota desde os anos 20 do século passado. Os seus rivais de Milão, o Milan e a Internazionale, hoje, estão nas mãos de estranhos bilionários do Oriente. A Lazio já sofreu com a falência e inclusive com a condenação judicial de proprietários. Manda na Roma um grupo ligado aos esportes típicos dos EUA, como o Beisebol. Na Itália, apenas o Nápoli, do clã De Laurentiis, permanece com as suas raizes financeiras em casa. Criticar a Juve por esbanjar na contratação do CR7 é estupidez.
![O CR7, por CR7](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/DF7ZWAHQAJICFITNBBM5IYW5WI.jpg?auth=affa5f281626cb89030eb7f9638d5a77ad228ba819cac0046445dd20585a63df&width=659&height=359)
Até porque, desde que a suspeita da contratação subiu à superfície, as ações da Juve na bolsa se valorizaram em mais de 50 milhões de Euro. Sem dizer que um simples pré-estoque de camisas zebradas com o nome e o número de Cristiano Ronaldo, 100.000 unidades, já se esgotou apenas por compras virtuais. E sem dizer que os direitos de transmissão dos prélios da “Velha Senhora”, agora rejuvenescida, fatalmente subirão à estratosfera.
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