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Silvio Lancellotti Copa 2018

As semis da Copa, sem a anfitriã e com a volta de duas velhas campeãs

Nos penais, a Croácia despachou a Rússia de Mário Fernandes, o brasileiro herói/vilão. E voltam a lutar pelo pódio d Inglaterra de 66 e a França de 98.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Subasic, da Croácia, de novo crucial no bingo dos penais
Subasic, da Croácia, de novo crucial no bingo dos penais

Nas vinte edições anteriores da Copa do Mundo, apenas em seis a seleção anfitriã levantou a taça diante da sua torcida. Aconteceu com o Uruguai/30, com a Itália/34, a Inglaterra/66, a Alemanha Ocidental74, a Argentina/78 e a França/98. Em outras duas ocasiões a equipe dona-da-casa soçobrou: em 1950 o Brasil perdeu do Uruguai, em 1958 a Suécia perdeu do Brasil. Aliás, fazia duas décadas que uma hospedeira não atingia a decisão, desde a França que, lá atrás, em 1998, devastou o time do Brasil por 3 X 0.

Inglaterra 2 X 0 Suécia, com gol de Maguire, o número 6
Inglaterra 2 X 0 Suécia, com gol de Maguire, o número 6

Como se portaria a Rússia dentro da Copa que tão bem organizou em seus domínios, vastíssimos a ponto de os jogos se desenvolverem em dois fusos horários diversos? Razoavelmente, no seu Grupo A da fase de classificação, triunfos de 5 X 0 contra a Arábia Saudita, de 3 X 1 contra o Egito e uma derrota assimilável, Uruguai 3 X 0. Daí, a pugna dramática diante do tiquetaca patético da Espanha, que mandou nos 90’ do tempo normal e nos 30’ suplementares, além dos acréscimos, a "Fúria" que deu 1.135 passes e daí empacou na fria agilidade de Igor Akinfeev, defensor de dois dos penais do bingo fatal.

Akinfeev, dois penais defendidos contra a Espanha
Akinfeev, dois penais defendidos contra a Espanha

Nem mesmo as joviais Yekaterina e Mariya, as filhas de Vladimir Putin, o manda-sol-e-chuva da Rússia desde os inícios deste Século XXI, imaginavam que a sua seleção, a única sem um apelido simpático dentre as 32 inscritas, poderia se estender tanto na competição. Conseguiu, no entanto. E neste sábado, 7 de Julho de 2018, participou da contenda derradeira das quartas-de-final da sua Copa. Curiosidade: enfrentou a Croácia que, nos tempos em que ainda existia a União Soviética, integrava a Iugoslávia, uma das nações que até a década de 90 adotavam o regime comunista no planeta.

Cheryshev, Rússia 1 X 0
Cheryshev, Rússia 1 X 0

Pelo menos 20% dos espectadores que preencheram o Estádio Olímpico Fisht de Sochi envergavam o simpático fardamento quadriculado da Croácia, a “Vatreni”, ou a “Ardente”. Foram os torcedores da Rússia, todavia, que vibraram antes, aos 31’, graças a um petardo belíssimo de Denis Cheryshev que paralisou o ótimo arqueiro Subotic. Detalhe: Cheryshev começou a Copa no banco do elenco de Stanislav Cherchesov, que se obrigou a colocá-lo em campo, aos 24’ da estreia diante da Arábia Saudita, por causa de uma contusão do titularíssimo Dzagoyev. Pois Cheryshev marcou dois dos gols da sua equipe nos 5 X 0 daquela exibição e se tornou o artilheiro da Rússia.


Kramaric, Croácia 1 X 1
Kramaric, Croácia 1 X 1

O seu quarto tento na competição animou a plateia mas serviu, também, para despertar a “Vatreni”. Logo aos 39’ o sempre impetuoso Mandzukic investiu junto à lateral canhota e, quase na linha de fundo, cruzou precisamente na direção da testada de Kramaric, 1 X 1. Muito melhor do que a Rússia, no papel e na teoria, a Croácia deparava com dificuldades exclusivamente por não se abstrair dos chamados fatores campo e entornos. Poderia ter definido a sua superioridade aos 60’, numa confusão absurda na área da rival e numa pelota que sobrou para Perisic, livre e diante da meta desprotegida. De chapa, Perisic bateu no cantinho, a bola tocou o interior do poste e, para a perplexidade do croata que já ameaçava celebrar, deslizou sobre a linha e se despediu.

Perisic bate... no poste...
Perisic bate... no poste...

Embora menos volumoso do que Cherchesov, também Zlatko Dalic, o treinador da Croácia, passou a ocupar, nervoso, o espaço técnico ao lado do campo. E haveria uma prorrogação. A segunda em sequência para a Rússia e para a “Ardente”. Mais uma batalha de pulmões e de mente, de fôlego e de caráter, do que um choque tático. E Dalic depararia, já aos 96’. com um dilema impiedoso. Dispunha de uma derradeira substituição a realizar. O seu arqueiro Subasic mancava. O zagueiro Vrsaljko também. Correu o seu risco e trocou Vrsaljko por Corluka. Indiretamente, o destino lhe daria razão


Confusão na área da Rússia, Croácia 2 X 1
Confusão na área da Rússia, Croácia 2 X 1

Aos 100’. Modric levantou um escanteio, Vida cabeceou atabalhoadamente, a pelota rolou por entre pernas variegadas e resvalou na panturrilha de Corluka, sem a chance para Akinfeev, 2 X 1, virada da “Vatreni”. Claro que a batalha se tornou cada vez mais acirrada, exacerbada. E um brasileiro fulguraria em Sochi. Aos 115’, Erokhin cobrou uma falta do ângulo esquerdo da área grande da “Ardente” e Mário Figueira Fernandes, paulista de São Caetano do Sul, naturalizado russo, de cocoruto cravou 2 X 2. Aos penais. E o herói virou vilão em menos de dez minutos. Chutou fora, o dele. Croácia nas semis.

Mário Fernandes, Rússia 2 X 2
Mário Fernandes, Rússia 2 X 2

Mais cedo, no jogo da manhã, aqui no Brasil, a Suécia e a Inglaterra brigaram pela outra vaga nas semis. Um prélio medíocre, no qual a esquadra das “Três Coroas” de Janne Andersson não se dispôs ao ataque nem depois de sofrer 1 X 0 dos “Três Leões”, uma testada portentosa do becão Maguire, aos 30’. Nas raras contra-ofensivas que armou, a Suécia esbarrou na inacreditável elasticidade de Jordan Pickford, o arqueiro britânico, meros 24 de idade.


Pickford, apenas 24 anos
Pickford, apenas 24 anos

Aliás, impressionante a juventude do time do treinador Gareth Southgate. O avante Harry Kane, o seu capitão e artilheiro da Copa, 6 tentos, também tem 24. Antes de a competição principiar, não chegava a dez o número das pelejas acumuladas, com a seleção, pelos três goleiros de Southgate. Ele mesmo, nascido em 1970 e eternamente em seu colete quase de lorde, não realizara ainda vinte no comando do elenco. Dele Alli, autor do segundo tento do “English Team”, está com 22 . Detalhe: também um gol de cabeça, 2 X 0 para os “Três Leões. Dos 11 que a Inglaterra fez na Copa, 5 surgiram de cabeça.

Dele Alli, Inglaterra 2 X 0
Dele Alli, Inglaterra 2 X 0

As duas semifinais: em 10 de Julho, em São Petersburgo, França X Bélgica; em 11 de Julho, no Luzhniki/Moscou, Croácia X Inglaterra. Até este sábado a competição já registrou 157 gols em 60 cotejos, média bem fraquinha de 2,616, a décima pior desde o Uruguai/30, e um número acumulado de 2,62 milhões de espectadores, a excelente proporção de 43.634. Nesta Copa, só dois dos doze estádios propostos á FIFA têm mais de 45.000 lugares.

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