Numa partida memorável, a Croácia supera a Inglaterra e vai à decisão
Mesmo exausta por duas prorrogações anteriores, a seleção de Modric e Perisic resiste a mais um tempo suplementar e agora desafia a França
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Neste próximo dia 15 de Julho, no Estádio Luzhniki de Moscou, o Futebol do planeta conhecerá o seu campeão na Copa da Rússia/2018. E talvez seja, até, um campeão inédito. Duas seleções que, no passado, arrebataram a taça da competição, poderiam brigar pelo troféu. Numa das semifinais de agora, ganhadora em seus domínios, em 1998, de uma taça redesenhada e batizada de FIFA, a França sobrepujou a Bélgica. Na outra, contudo, a Inglaterra, conquistadora da velha Jules Rimet também dentro de sua casa, em 1966, sucumbiu à Croácia. Que tentará um primado que, diante da inventora do Ludopédio, pareceu inacessível durante boa parte da porfia.
O sucesso dos “Bleus” orientados por Didier Deschamps, exatamente o capitão da equipe gaulesa de 98, contra os “Rouges” de Roberto Martínez, 1 X 0, ocorreu na terça, dia 10. A promessa de triunfo dos “Três Leões” de Gareth Southgate, diante da “Ardente” de Zlatko Dalic, neste dia 11, quarta-feira, no mesmo Luzhniki, repleto, 78.011 espectadores, ameaçou a se delinear logo no inicio da peleja, aos 5’, quando Modric atropelou Dele Alli bem na entrada da área e Kieran Trippier acertou uma cobrança belíssima.
Foi o primeiro gol de Trippier em onze partidas com a camisa dos “Três Leões”. E, inusitadamente, um gol de falta, ele que, pelo seu clube, o Tottenham, em 42 jogos, também só ostentava um tento, mas em lance normal. Existe uma explicação lógica. Que se relaciona com um desastre na carreira de Southgate. Em 1996, na Eurocopa que a Inglaterra organizou, zagueiro titular na seleção, a equipe de Gareth enfrentou a da Alemanha numa das semis. No tempo regulamentar e na prorrogação, resultado de 1 X 1. Daí, no bingo dos penais, o placar exibia 6 X 5 em favor dos tedescos quando Southgate desperdiçou a sua chance. Desde que virou treinador, se obriga a treinar exaustivamente todos os seus atletas em cobranças de falta e de penais.
Dificílima a missão de resgate da “Ardente” de Dalic. A Inglaterra havia chegado aos penais, na Copa da Rússia, uma vez, em 3 de Julho, 4 X 3, depois de 1 X 1 no tempo regulamentar, e Trippier tinha anotado o seu gol. Pobre Croácia, porém, atravessara a tormenta brutal dos penais nas oitavas e nas quartas, Dinamarca (dia 1º, 1 X 1 e 3 X 2) e Rússia (dia 7, 2 X 2 e 4 X 3). Tradução: um elenco muito mais desgastado, fisica e mentalmente). Ninguém poupa músculos e fôlego, todavia, quando se enfrenta a possibilidade rara e inusitada de chegar a uma decisão crucial. A Inglaterra se acomodou e, nas tripas e no coração, a “Ardente” multiplicou a sua incrível fogosidade.
Aos 68’, arriscadamente acomodados os “Três Leões”, Sime Vrsaljko levantou da direita, o esperto Ivan Persisic se antecipou a Alan Walker e, quase de sola, tocou para dentro da meta do surpreendido Jordan Pickford, 1 X 1. Enquanto a Inglaterra, atônita e perplexa, procurava se reaprumar, a Croácia malbarataria duas oportunidades de cravar os 2 X 1. Lindo e impiedoso Futebol. Mais uma prorrogação cruenta. Para a “Ardente”, aliás, um total de 90’ de escaramuças suplementares, basicamente um combate cruel, inteirinho.
Claro que o ritmo se rebaixou radicalmente, claro que as trocas se sucederiam de ambos os lados. Assim como, claro, as emoções. Aos 99’, Trippier alçou um escanteio e John Stones, já com dois gols de cabeça na Copa, desferiu um bólido que Vrsaljko rebateu sob o travessão. Sem pernas, o estoico Modric furou um sem-pulo ginasiano aos 105’. O inviável, no entanto, se transformou em milagre aos 109’, quando Modric alçou, Rebic desviou de cocuruto e, no ângulo da pequena área, o inefável e incansável Mario Madzukic, o provável parceiro de Cristiano Ronaldo no futuro ataque da Juventus da Itália, virou de canhota e desnorteou de vez a Inglaterra, 2 X 1.
Pior, para Southgate, aos 116’ o quase herói Trippier se lesionou e o treinador já havia esgotado a sua quota de trocas. A Inglaterra com dez. Cunyet Cakir, o árbitro da Turquia, sinalizou mais quatro minutos de acréscimos. E o drama no Luzhniki testou a cardiologia de ambas as partes na torcida. Derradeiros sessenta segundos. Harry Kane, o artilheiro da Copa, em branco no prélio, cavou uma falta nos seus estertores. Inútil. A “Ardente” estará na decisão do domingo. Com que pernas? Tamanha é a força de vontade dos pupilos de Dalic, tão gigantesca é a sua aplicação, que talvez nem de pernas necessite.
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