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Cosme Rímoli - Blogs

O cala-boca de Felipão. O resgate do respeito aos 70 anos

O treinador que foi execrado em 2014, é o campeão brasileiro e iguala recorde no Palmeiras. Ninguém ganhou tantos títulos no século XXI

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Felipão desfruta. Deu a volta por cima. Pelo menos dentro do Brasil
Felipão desfruta. Deu a volta por cima. Pelo menos dentro do Brasil

São Paulo, Brasil

Ressentido com a imprensa brasileira.

Com a CBF.

Com a Globo.


Com o narrador Galvão Bueno.

Acredita que foi a maior vítima dos 7 a 1.


Derrota tamanha que conseguiu encobrir o histórico Maracanazo, a perda da Copa do Mundo para o Uruguai, na final de 1950. Até então, a mais dolorida derrota da Seleção deste país.

Sentiu a solidão do fracasso. 


Ao contrário de 2002, quando a conquista teve inúmeros pais: ele, Ronaldo, Rivaldo, Marcos e até mesmo Ricardo Teixeira, que se gaba de ter conseguido, nos bastidores, que o Brasil não fosse prejudicado pelos árbitros.

Até mesmo o primeiro clube do coração, o Grêmio, o tratou sem paciência. Sonhava em limpar seu nome no Brasil, mas tendo de sair 'de sua casa', depois de dez meses de novo trabalho pífio.

Se exilou do outro lado do mundo. Liga dos Campeões Asiáticos, tricampeão chinês, Copa e Supercopa da China.

Aos 69 anos e oito meses, milionário, com propriedades no Brasil e Portugal, quando analisava se valeria a pena seguir trabalhando ou iria desfrutar tudo o que conseguiu, veio o inesperado convite.

A vida oferecia a grande chance que ele mesmo não acreditou que teria. 

Voltar ao Palmeiras, clube que ganhou a Libertadores, mas encaminhou para a Segunda Divisão. 

Só ele sabe o quanto sofreu nos 7 a 1. E o erro em confiar no hoje presidiário Marin
Só ele sabe o quanto sofreu nos 7 a 1. E o erro em confiar no hoje presidiário Marin

Com a experiência de quem tinha 36 anos como treinador, trabalhando em sete países diferentes, campeão do mundo, vice da Eurocopa, bicampeão da Libertadores, ele sabia o que tinha nas mãos.

Estrutura que comparou à do Chelsea. Clube de maior potencial financeiro da América Latina. Moderna arena particular com a melhor localização no país. Melhor elenco. 

Maior salário do que todos os técnicos do país, recebe mais do que Tite na Seleção. Contrato até dezembro de 2020, com multa altíssima.

Poder ilimitado no futebol.

Patrocinadores bilionários.

O Palmeiras atual é um oásis em um país ainda mergulhado na recessão.

Mas para quem conseguir domá-lo.

Luiz Felipe Scolari encontrou o desafio que queria.

Teria toda a infraestrutura de calar seus críticos que o massacraram e tanto fizeram sua família sofrer em 2014.

E também mostrar que é o Felipão da conquista da Libertadores e não o de postura egoísta, que pensou em vencer a Copa do Brasil, e fez o clube trilhar para seu segundo vergonhoso rebaixamento.

Montou uma equipe à sua semelhança. De trás para a frente. Fortíssima na defesa, compacta nas intermediárias e veloz no ataque. Sem paciência para troca de bola. Vertical, objetiva na frente.

A volta por cima começou na China. Mas ele queria voltar a vencer no Brasil
A volta por cima começou na China. Mas ele queria voltar a vencer no Brasil

Sem vergonha de fazer faltas, travar o adversário com rispidez.

Especialista em bolas paradas, fundamento que é treinado à exaustão por Felipão.

E aquela pitada de raiva com que o treinador faz questão de manter nos times que dirige. Presente em cada bola disputada, em cada reclamação com o árbitro, bandeira.

Chegou até a semifinal da Libertadores. E deu um espetáculo no Brasileiro, não perdendo sequer um jogo desde que assumiu em julho. Fez o Palmeiras o indiscutível campeão.

Se vingou não dando entrevista exclusiva para ninguém.

Virou as costas para a Globo e a CBF de uma vez, não indo buscar seu prêmio como melhor técnico do Brasileiro.

Acompanhou o vexame que foi o humorista Carioca receber o troféu no seu lugar.

Saboreou o ridículo.

Começou 2019 querendo trilhar um caminho forte na Libertadores e vencer o Paulista, para Maurício Galiotte se vingar da Federação Paulista de Futebol. Nas semifinais, os pênaltis derrubaram seu time contra o São Paulo.

Mas a equipe já está classificada antecipadamente para as oitavas da Libertadores. Joga em casa para terminar a fase de grupos em primeiro lugar. Não precisa nem vencer, basta empatar na quarta-feira contra o San Lorenzo.

A partida de ontem contra o Internacional foi a sua 460ª no comando do Palmeiras. É o segundo da história, só atrás de Oswaldo Brandão, com 580 partidas. Já deixou longe o terceiro, Vanderlei Luxemburgo, com 369 jogos.

E Felipão sabia que a noite era de comemoração. Ele igualou a marca histórica de Brandão, com a vitória por 1 a 0, chegou a 26 partidas no Brasileiro sem derrotas, somando a competição de 2018 e a deste ano.

Brandão conseguiu o mesmo no bicampeonato nacional de 1972 e 1973. Basta empatar com o Atlético Mineiro, no próximo domingo, em Belo Horizonte, e a marca será derrubada.

Felipão não perdeu um jogo sequer na conquista do Brasileiro em 2018
Felipão não perdeu um jogo sequer na conquista do Brasileiro em 2018

Firme, ele não se deixava contagiar com o feito.

Na coletiva, destacava que o importante era o título.

Scolari sabe que tem elenco para vencer novamente o Brasileiro.

Só que o sonho é a Libertadores.

Além da competição que mais gosta, a Copa do Brasil, que venceu quatro vezes.

Scolari se vê cercado das palavras vitórias, títulos, recordes.

No mesmo país que o execrou, o condenou.

O apontou como ultrapassado.

E agora precisa enaltecer seus feitos.

Aos 70 anos.

Como ser o treinador brasileiro mais vencedor do século XXI.

São 15 títulos até agora: Copa Sul-Minas: 2001 (Cruzeiro) Copa do Mundo FIFA: 2002 (Seleção Brasileira), Campeonato Uzbeque: 2009 e 2010 (Bunyodkor), Taça Uzbequistão: 2010 (Bunyodkor), Copa do Brasil: 2012 (Palmeiras), Copa das Confederações: 2013 (Seleção Brasileira), Campeonato Chinês: 2015, 2016 e 2017 (Guangzhou Evergrande), Liga dos Campeões da Ásia: 2015 (Guangzhou Evergrande), Copa da China: 2016 (Guangzhou Evergrande),Supercopa da China: 2016 e 2017 (Guangzhou Evergrande) e Brasileiro de 2018 pelo Palmeiras.

Scolari conseguiu o que queria ao aceitar, voltar pela terceira vez, ao Palestra Itália.

Calou a voz dos críticos.

O pecado dos dez gols que fez o Brasil tomar dez gols, na semifinal e, na decisão de terceiro lugar da Copa de 2014, foi pura empolgação, que o fez deixar a maneira espartana com que monta times competitivos.

Além de estar certo na avaliação que José Maria Marin, hoje presidiário, e Marco Polo del Nero, se recusaram a ler, após a Copa de 2014.

Felipão alertava sobre a fragilidade, a imaturidade da atual geração de jogadores brasileiros. Citava a necessidade de um trabalho intenso, próximo de Neymar e de seus contemporâneos. 

Incrível, mas o treinador foi ingênuo. Acreditou na palavra de Marin, que ficaria comandando o Brasil, fosse qual fosse o resultado da Copa no Brasil. 

Só que o vexame dos 7 a 1 foi grande demais.

Foi entregar o relatório que fez da Copa para Marin, mas chegou demitido no prédio. E, por coincidência, lógico, havia uma equipe da rede Globo na entrada do prédio do agora presidiário ex-presidente da CBF.

Scolari jurou dar a volta por cima.

Mostrar que não estava acabado para o futebol.

Viu o vexame de Tite, seu ex-protegido, na Copa da Rússia.

Acompanha o comportamento infantil de Neymar.

Segue a instabilidade da mediana geração atual da Seleção.

E se cala.

Apenas desfruta a sensação da certeza na análise de 2014.

Mas quer distância da Seleção, da CBF.

De Galvão Bueno, que foi seu confidente no Mundial.

Dos seis jornalistas amigos com quem se queixou na Copa.

Percebeu os erros que cometeu em 2014.

Felipão sabe que tem respaldo e dinheiro no Palmeiras. Respeito aos 70 anos
Felipão sabe que tem respaldo e dinheiro no Palmeiras. Respeito aos 70 anos

Virou a página.

E calou os críticos dos 7 a 1.

Pelo menos por aqui.

Neste país.

Segue a satisfação de estar no clube certo.

Na hora certa.

O futebol deste país ainda se dobra a Felipão...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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