'Assumir' macaco no nome é o protesto de Edenilson. Pela certeza de impunidade de Rafael Ramos, do Corinthians
O meio-campista tem uma certeza, depois do laudo da Polícia Civil gaúcha, que não conseguiu encontrar a palavra macaco na discussão com Rafael Ramos. O jogador não será punido na justiça civil nem na desportiva
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Não iriam nos calar?
"Já nos calaram.
"Se ofendidos aceitem, engulam a seco.
"Finjam que não escutaram.
"É uma luta desleal, é uma luta inconclusiva."
Macaco Edenilson Andrade dos Santos.
Jamais um jogador de futebol no Brasil mostrou tanta fúria nas redes sociais envolvendo o racismo.
O capitão do Internacional decidiu que seu nome seria precedido no Instagram pelo substantivo macaco.
O motivo é a revolta com o resultado do laudo oficial da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que analisou a discussão entre o meio-campista do Internacional e o lateral do Corinthians, o português Rafael Ramos, na noite de 14 de meio, no empate em 1 a 1, no Beira-Rio.
Edenilson acusou Rafael Ramos de ter o usado a palavra 'macaco' para ofendê-lo. Usar a cor de sua pele negra para compará-lo a um símio.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul estava envolvida porque Edenilson prestou queixa ainda no Beira-Rio, depois do jogo. O que ocasionou a prisão de Rafael Ramos. Ele só foi solto porque o Corinthians pagou R$ 10 mil.
A delegada responsável pelo caso, Ana Luiza Caruso, recebeu o laudo de 40 páginas ontem. E nele não fica provado que o lateral corintiano chama o jogador do Internacional de 'macaco'.
Diante do laudo, está mais do que evidente que o caso será arquivado.
E o reflexo da investigação também refletirá no STJD, que também analisa se pune ou não o português.
No raciocínio correto de Edenilson, o laudo, que não consegue comprovar a acusação do jogador Internacional, também refletirá na Justiça Desportiva.
E o corintiano não será punido.
Em nenhuma área da justiça.
O laudo provocou enorme alívio no Corinthians.
E indignação na cúpula do Internacional.
O laudo do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul é muito claro.
"O Instituto-Geral de Perícias remeteu hoje à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre o Laudo Pericial sobre o pedido de perícia de leitura labial acerca dos fatos ocorridos em jogo no Estádio Beira Rio em 14 de maio.
"Quatro vídeos foram enviados para análise. Um deles foi selecionado, por apresentar maior extensão da cena questionada e melhor qualidade de sinal. As imagens foram tratadas com softwares de melhoramento e apresentaram qualidade suficiente para análise. Da cena questionada, foram extraídos 41 frames.
"Não sendo possível identificar os movimentos realizados na porção interna da cavidade oral do jogador de camiseta branca, é tecnicamente inviável localizar todos os vestígios que definem a sequência de consoantes e vogais emitidas. A maior parte dos gestos que compõem a fala ocorrem justamente no ambiente intraoral ou em outras porções internas, como a faringe e a laringe. Nem em vídeos com excelente qualidade de imagem é possível obter as informações do que se passa na parte não visível do aparelho fonador.
"Sobre o pedido de exame pericial de leitura labial, ressalta-se que não foi encontrada metodologia científica, aplicada à análise forense de vídeos, que sustente esse tipo de trabalho. Existem apenas publicações sobre percepção visual da fala e aprendizagem de leitura labial. Além disso, o registro enviado não possui o som das falas que interessavam à investigação, tornando impossível a perícia de áudio.
"Por essas razões, é impróprio que a perícia criminal oficial do Estado afirme, com responsabilidade do ponto de vista processual e científico, o que foi proferido pelo jogador na cena questionada. O Laudo afirma que “sem que haja o respectivo sinal sonoro para realização de adequada análise percepto-auditiva e acústica, é conceitualmente inviável a definição confiável e inequívoca da pauta sonora proferida por um indivíduo a partir, exclusivamente, das informações relativas aos gestos articulatórios componentes que sejam exteriormente visíveis (como os de lábios e mandíbula)”.
"Resultados advindos da tentativa de mapeamento do que teria sido enunciado por um locutor questionado em uma imagem sem o áudio de fala associado (e consequente sinal acústico) seriam meramente exploratórios, representando muito mais conjecturas em torno de possibilidades anatomofuncionais do que evidências materiais."
Edenilson sabe que não há possibilidade de Rafael Ramos ser punido.
Daí seu protesto.
Ter 'assumido' o substantivo macaco antes de seu nome nas redes sociais...
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