O Santos foi enganado pelo pai de Neymar. Garante carta póstuma

Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro tinha 73 anos.

Estava com a saúde completamente debilitada por um cancêr que lhe consumia o aparelho digestivo.

Sua sentença de morte já havia sido decretada.

Médicos do hospital Albert Einstein, referência na América Latina, foram sinceros.

Sua saúde já era frágil há anos.

Em 2010, lutou contra uma pancreatite e problemas cardíacos. Em 2012, a batalha foi por uma grave problema nos pulmões. Até que o câncer se espalhou no aparelho digestivo. Era a metástase decretando a sentença de morte.

Laor tinha conseguido chegar ao cargo pelo qual sempre sonhara. Presidente do Santos Futebol Clube. Derrotou, em 2009, Marcelo Teixeira, que representava uma dinastia na Vila Belmiro. Foi reeleito com mais de 80% para um segundo mandato, que não conseguiu terminar, precisou se afastar, por causa da saúde debilitada.

Tinha grande orgulho do que havia conseguido como dirigente. O tricampeonato paulista (2010, 2011 e 2012), a Copa do Brasil (2010), a Recopa Sul-Americana (2012). Seu maior prazer foi a conquista da Copa Libertadores da América de 2011, depois de 48 anos.

Mas o dirigente à beira da morte tinha uma enorme mágoa. Percebeu que não seria lembrado pelos títulos. Mas pela absurda venda de Neymar para o Barcelona.

O mundo do futebol considera que o Santos foi extremamente lesado pela negociação. Vendeu barato demais, o melhor jogador que já vestiu a camisa do clube, depois de Pelé.

Os números aceitos como verdadeiros, depois de inúmeras investigações do fisco espanhol, são impressionantes.

Envolveram R$ 284,5 milhões.

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Só vieram à tona depois de intensa investigação. Graças à tentativa de burlar o fisco, sonegando, mentindo sobre o valor da transação, Sandro Rosell perdeu não só o cargo de presidente do Barcelona. Acabou preso por manipulação, desonestidade, em várias negociações, entre elas, a de maior relevância foi a do brasileiro, que contratou do Santos.

Abaixo, os números.

R$ 193 milhões para Neymar e sua família.

R$ 22,5 milhões para o grupo DIS.

R$ 2,8 milhões ao grupo Teisa.

R$ 8,9 milhões de comissões a empresários.

O Santos ficou com apenas R$ 57,2 milhões.

A revolta dos conselheiros, torcedores, imprensa foi enorme.

Laor se defendeu, disse que o Santos foi obrigado a fazer a venda. "Neymar e seu pai me disseram que queriam a negociação. Ele não ficaria mais no clube. Eu tive de vender", rebateu, em 2013.

Mas sua mágoa maior era pelo pai de Neymar ter assinado um contrato com o Barcelona. Em 2011, recebeu 10 milhões de euros, cerca de R$ 42 milhões na época. Recebeu o dinheiro seis dias antes de o Santos enfrentar o próprio clube catalão na decisão do Mundial de Clubes, no Japão. O time brasileiro foi goleado por 4 a 0. A atuação de Neymar foi pífia, como a de todo o time.

Luís Álvaro não iria morrer com essa mancha.

Não queria ser visto como um traidor do clube. Tratou de arrumar uma maneira para deixar para a posteridade que não havia concordado de maneira alguma, com esse dinheiro que a família de Neymar recebeu, às vésperas de enfrentar o próprio Barcelona na chance que o Santos tinha de conseguir seu tricampeonato mundial.

Decidiu escrever registrou a carta em cartório, no dia 19 de junho de 2014, dois meses antes de morrer. Ela foi escrita no dia 15 de março do mesmo ano.

O relato é direto, sem meias palavras.

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“O Santos e eu pessoalmente jamais recebemos qualquer informação ou qualquer documento sobre o fato de que antes da final no Japão o senhor Neymar, pai do atleta, já havia se comprometido com o Barcelona e recebido pagamentos.

“O Santos disputou aquela final com um jogador que havia recebido dinheiro do adversário. Isso influenciou o desempenho de Neymar Júnior daí para frente no Santos.

“Não era o mesmo jogador brincalhão, que ia para cima dos adversários. Ele parecia estar contando os minutos para sair. Isso já foi dito por mim à imprensa e, infelizmente, é um fato."

Esses foram os trechos que Laor reservou ao polêmico episódio do dinheiro recebido antecipadamente por Neymar Sênior, e divulgado hoje pela Folha de São Paulo.

A situação vem à tona justo quando foi revelado que o pai de Rodrygo, nova revelação santista, de 17 anos, viajou para a Espanha. Para reuniões com a direção do Barcelona.

O presidente José Carlos Peres já avisou para conselheiros próximos. "Comigo não haverá novo caso Neymar", desabafou. Tanto que o atacante tem uma multa contratual de 50 milhões de euros, cerca de R$ 210 milhões. Seu contrato foi assinado em 2017 e tem a validade até 2022.

Peres não está satisfeito. E quer já uma prorrogação. Aceita dar um aumento ao garoto porque pretende uma multa ainda mais alta. Se possível, o dobro. 100 milhões de euros, R$ 420 milhões.

O pai de Neymar sempre se defendeu dos ataques de Luís Álvaro. E não aceita a tese que ele foi traído. Divulgou uma carta que o próprio presidente assinou, em novembro de 2011.

Nela está escrito.

"O Santos (...) informa expressamente que concorda e autoriza o atleta Neymar a iniciar tratativas, desde já, com quaisquer entidades de prática desportivas, nacionais ou internacionais, podendo concretizar eventual transferência, desde que isso somente ocorra a partir de 2014 e respeite os termos de contrato mantidos com o Santos Futebol Clube."

O documento leva a assinatura de Luís Álvaro.

Só que o falecido ex-presidente santista cansou de afirmar: não iria imaginar que o pai de Neymar receberia dinheiro antecipado do Barcelona. Não a apenas seis dias da decisão do Mundial de Clubes, em uma partida entre o próprio Santos e o time catalão. Neymar era a principal arma do treinador Muricy naquela decisão.

Laor morreu extremamente magoado.

Sabia que seus feitos seriam esquecidos pela maioria da torcida santista.

Entre eles, a conquista da Libertadores.

Tinha medo que ficasse lembrado pela venda de Neymar, que rendeu pouquíssimo aos cofres santistas. R$ 57 milhões, em julho de 2013. Seis meses depois, o clube comprometeu R$ 43 milhões com Leandro Damião.

Infelizmente, para o legado de Luís Álvaro, ninguém se esquecerá da pior negociação da história do Santos. Com o clube recebendo quase três vezes menos do que o jogador embolsou.

Algo inaceitável.

Assim como o pai de um jogador que vai decidir um título mundial, receber 10 milhões de euros do time rival, a seis dias da decisão.

Revoltante...

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A lesão no pé direito fez Neymar retornar ao Brasil em cadeira de rodas. O brasileiro foi operado pelo médico Rodrigo Lasmar no dia 3 de março, em Belo Horizonte (MG) Veja também: Neymar desembarca em Paris para iniciar fase final de recuperação

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