Goleada expõe desgaste precoce de Jair e Santos. O clima é péssimo
Diretoria atolada em dívidas e oferecendo um elenco limitado, ainda se irrita com o técnico. Não aceita a goleada por 5 a 1 para o Grêmio
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
A última vez que o Santos perdeu por 5 a 1 foi contra o Coritiba, em novembro de 2008. A equipe terminou o Campeonato Nacional na 15ª colocação. A goleada histórica abalou o técnico era Márcio Fernandes, que perderia o emprego em 2009.
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O vexame pelo mesmo placar, ontem à noite em Porto Alegre, diante do Grêmio teve consequências.
O prestígio de Jair Ventura foi atingido em cheio.
Conselheiros, dirigentes importantes ligados ao presidente Antônio Carlos Peres e torcedores foram pelo mesmo caminho. Acharam uma irresponsável falta de visão do técnico. Após o forte e encantado time de Renato Gaúcho abrir 3 a 1, dominando completamente a partida, o treinador santista abriu ainda mais a equipe.
De maneira ingênua, o Santos passou a atuar no 4-2-4, como nos anos 70, quando o pai do treinador, Jairzinho se impunha como um dos grandes atacantes da história do futebol deste país. Quarenta anos depois, atuar dessa maneira, contra uma equipe que atua com quatro ou até cinco atletas nas intermediárias, é implorar para ser goleado.
Ao aceitar o convite do Santos e largar o Botafogo, Jair Ventura apostou que abriria fronteiras. Sairia do clube que tinha raízes profundas, iniciou sua carreira como treinador. Acreditou nas promessas de Peres que o Santos buscaria uma equipe competitiva, com contratações importantes e excelente geração na base.
Só que Jair encontrou um elenco fraco, limitado. E a única contratação importante foi a de Gabigol, que não foi pedida por ele. Mas imposta por Peres, que acredita que a equipe precisava de um ídolo, depois da saída de Lucas Lima para o Palmeiras e de Ricardo Oliveira para o Atlético Mineiro.
Só que o dinheiro gasto com Gabigol daria para bancar pelo menos quatro atletas de um nível competitivo no futebol brasileiro. E o atacante segue não rendendo, mostrando o porquê de a Inter de Milão se arrepender por haver gasto R$ 108 milhões por ele. Além de o Benfica abrir mão de seu empréstimo, antes do prazo.
O Santos ontem só tinha um marcador no meio de campo, Alison. E o excelente goleiro Vanderlei, desesperado com a goleada, e com enxurrada de chances criadas pelo Grêmio, desabafou seu ódio com o volante. Como se ele pudesse se desdobrar em quatro para tentar travar o time gaúcho.
A discussão foi deprimente. Com palavrões e ameaça de briga. Se Pericles Bassols quisesse, poderia até ter expulsado os dois, por ofensa. Mas se fingiu de surdo e nem deu os obrigatórios cartões amarelos.
Léo Cittadini e Jean Motta não têm a menor capacidade de atuarem como os meias que o Santos precisa. Mas são o que Jair Ventura tem às mãos. Os dirigentes já estão com a certeza que os têm escalado para mostrar o quanto seu elenco é carente. Contra o poderoso Grêmio, teve a capacidade de tirar Cittadini e colocar Copete.
A situação ficou bizarra. O Santos com Gabigol, Sasha, Rodrygo e Copete na frente. Esperando a bola que nunca chegava. Alison estava desesperado, feito de 'bobinho' pelo meio de campo gremista e Jean Motta perdido.
E Daniel Guedes, Lucas Veríssimo, David Braz e Dodô formam um sistema defensivo fraco, que não merece confiança diante de equipes grandes, atuando fora de casa, bem estruturadas. Será sempre sufocada. Em jogos que Vanderlei não faz milagres, o vexame é quase uma certeza.
A campanha na Libertadores no grupo formado pelos decadentes Nacional e Estudiantes e ainda mais o fraquíssimo Real Garcilaso, acalma a ira dos conselheiros. Apesar de toda a irregularidade. Três vitórias e duas derrotas e mesmo assim, a primeira colocação e certeza de classificação para as oitavas.
Jair Ventura deu toda a razão aos torcedores que picharam a subsede do Santos, em São Paulo.
"Escala direito, Jair fdp."
"Time sem vontade."
"Cadê o meia Peres?"
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Eram as frases. Os torcedores tocaram em pontos delicados e importantes. Querem que o treinador tenha a responsabilidade de escalar uma equipe mais defensiva, sem o meio de campo escancarado para os adversários. E também exigem mais disposição, confundindo que atacantes não têm por hábito fechar as intermediárias, se não forem treinados, cobrados para fazer a obrigatória recomposição.
E o presidente Peres segue prometendo desde janeiro a chegada do argentino Lucas Zelarayán. O meia de 25 anos atua no Tigres do México. Só que quase cinco meses de negociação não foram suficientes para fechar a vinda do jogador.
Como ensinava o ex-presidente corintiano Alberto Dualib, quando o time vai mal, toma uma goleada, a melhor coisa é anunciar uma contratação. Seja ela qual for. Desvia o foco. Técnico e dirigente ganham fôlego.
Seguindo essa cartilha, o Santos precisa desesperadamente de dois meias talentosos, versáteis. Mas está negociano a sério a contratação de mais um atacante, que gosta de atuar parado na frente, esperando bola.
Hernán Barcos.
Aos 34 anos, o andarilho de 13 times e 15 anos de carreira está tentando se livrar da LDU de Quito, para jogar na Vila Belmiro. A contratação também não é um pedido de Jair Ventura. O treinador, pressionado, com um elenco fraco não vai dizer não a qualquer reforço que a diretoria conseguir contratar.
A verdade é uma só.
O relação de harmonia de Jair Ventura e o Santos está se deteriorando. A decepção é dos dois lados. R$ 420 milhões em dívidas já fizeram o Santos acabar com a concentração e receber o castigo de ganhar 20% a menos para concordar que a Globo mostre seus jogos pela tevê aberta. A punição nasceu do fato de haver assinado com o Esporte Interativo nos jogos a cabo, entre 2019 e 2014.
Não há condição de grande contratações.
O time competitivo prometido não existe.
Jair Ventura era considerado o treinador revelação no Brasil.
Sua passagem pelo depauperado Botafogo foi brilhante.
Mas está cometendo erros infantis na Vila Belmiro.
Se não tem jogadores de talento, que não exponha a equipe.
O descontentamento já é dos dois lados.
Se não houver uma mudança radical, a relação pode acabar.
E muito mais rápido do que se poderia imaginar...
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