Globo desesperada. Não existe Carioca sem o Flamengo
A emissora se rebela com o fato de o clube exigir mais dinheiro pelos jogos no Estadual. O Flamengo aprendeu com a próprio Globo em 2011
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A Globo prova do próprio veneno.
Depois de nove anos, a emissora carioca sente o reflexo de ter incentivado, via Flamengo e Corinthians, a implosão do Clube dos 13.
Em 2011, o monopólio da transmissão do Campeonato Brasileiro esteve realmente abalado. Os clubes estavam revoltados com as cotas, baixíssimas, em relação ao mundo.
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E decidiram que haveria um leilão realmente aberto pela transmissão. O Clube dos 13, presidido por Fabio Koff, deixou claro que a competição seria aberta como nunca foi. E havia duas fortes interessadas na tevê aberta.
A Bandeirantes já começava a viver sua crise financeira. O SBT também carregava o trauma de Silvio Santos, que vê até hoje que o futebol é um produto da TV Globo.
A Rede TV! sonhava, ao menos, em dividir as transmissões.
A Record TV era a grande favorita e o mercado, na época, sabia que a emissora estava pronta para disputar, de verdade, com a Globo, o direito de mostrar os jogos do Brasileiro.
Mas, com o apoio do então presidente Ricardo Teixeira, que temia o nascimento de uma liga de clubes, que esvaziaria o poder da CBF, dirigentes do Flamengo e do Corinthians agiram em favor da Globo.
Como?
Decidindo que iriam negociar a transmissão dos seus jogos de maneira individual, não coletiva, como acontecia desde 1987, quando foi criado o Clube dos 13.
Com os clubes mais populares do lado da Globo, via o ex-diretor Marcelo Campos Pinto, com o respaldo da CBF, o Clube dos 13 perdeu a razão de existir.
E nem houve disputa.
A emissora da família Marinho seguiu com o monopólio.
Flamengo e Corinthians foram recompensados.
Com a excelente desculpa de serem os clubes mais populares do país, passaram a ganhar muito mais do que as outras equipes do Brasileiro.
Se na aberta, a situação seguia como sempre, no ano passado, houve a revolução na tevê a cabo. A bilionária Turner deu respaldo para os seus canais de Esporte, Esporte Interativo, comprarem o direito da transmissão dos jogos de Athletico, Bahia, Ceará, Coritiba, Fortaleza, Internacional, Palmeiras e Santos entre 2019 e 2024.
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Só que houve revolução mundial nos grandes grupos de comunicação. O maior exemplo foi a compra da Fox pela Disney. A Turner decidiu parar de investir no futebol no Brasil. E os canais Esporte Interativo foram extintos. Mas os contratos assinados obrigaram que o dinheiro aos oito clubes seguisse sendo pagos até 2024.
A Globo viu a vibrante Fox Sports perder toda sua volúpia por transmissão de campeonatos, com a incorporação à ESPN, da Disney.
Se viu sozinha.
Mas não percebeu que os clubes acordaram para sua força.
Principalmente o Flamengo.
Há tempos, as diretorias já queriam se livrar do Campeonato Carioca. Não há mais sentido em disputar o esvaziado Estadual, expor seus jogadores caríssimos contra adversários fraquíssimos, em estádios vergonhosos.
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Acabar com a pré-temporada para perder dinheiro, expor o time montado para tentar vencer competições muito mais importantes como Libertadores, Brasileiro, a milionária Copa do Brasil.
Espertamente, o Flamengo foi adiando a renovação do Carioca.
Até que ela chegou, em 2020.
E, para falta de sorte da Globo, o clube foi campeão da Libertadores, do Brasileiro, revolucionou o futebol deste país, com o trabalho de Jorge Jesus.
No início desta temporada já tem dois troféus importantes para disputar, mal começou 2020. No dia 16 de fevereiro, disputará a Supercopa do Brasil, em Brasília. Como campeão brasileiro, enfrentará o Athletico Paranaense, vencedor da Copa do Brasil. A data, por coincidência, é a mesma de um dos jogos semifinais da Taça Guanabara.
Três dias depois, o Flamengo inicia, no Equador, a disputa da Recopa Sul-Americana. Como campeão da Libertadores terá pela frente o Independiente del Valle, vencedor da Copa Sul-Americana. A decisão será no Maracanã, dia 26 de fevereiro.
Ou seja, não há motivo real para o Flamengo colocar seus jogadores importantes no Carioca.
Mesmo assim, o campeão de audiência do Brasil, não quer desperdiçar dinheiro. E, como é obrigado a disputar o Carioca, para não ser desfiliado pela CBF, o clube exige o preço de ter sua camisa em campo.
Pouco importa se Fluminense, Vasco e Botafogo se contentaram com R$ 15 milhões. Da Globo, o Flamengo quer R$ 100 milhões pelo Carioca.
Aprendeu a negociar isoladamente, com a própria emissora, na implosão do Clube dos 13.
Com extrema dificuldade financeira, depois da distribuição proporcional de propagandas do governo federal, a Globo vive uma política de contensão. Não mandou inúmeros profissionais embora, em todas as áreas, por acaso.
E não quer pagar a mais para o Flamengo.
Pela primeira vez, o grupo Globo usa um dos seus veículos, o globoesporte.com para expor sua briga com o Flamengo. Tenta jogar a opinião pública contra o clube.
"Não há interesse da Globo em um campeonato desequilibrado", diz o diretor de direitos esportivos, Fernando Manuel.
Ou seja, ele avisa se pagar a mais para o Flamengo, o Carioca ficará pendente para o rubro-negro.
Jogo de palavras descabido.
O Flamengo já é muito mais forte que todos os outros clubes. E merece receber mais. Simples assim.
Mas a emissora carioca tinha de dar satisfação aos patrocinadores do futebol, que bancam R$ 1,8 bilhão em 2020. Pelo fato de não mostrar jogos do clube mais popular no Carioca.
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O diretor ainda avisa pelo portal esportivo que, se o Flamengo não ceder e aceitar ganhar o mesmo que os outros clubes grandes, o dinheiro será diminuído para todas as equipes, já que a Globo não terá as partidas do clube mais popular do Brasil.
O máximo da ironia veio nas seguintes frases de Fernando Manuel.
"A grande questão, e isso explica por que a negociação coletiva das grandes ligas funciona bem, é que a indústria precisa ser sustentável."
Ou seja, ele defende agora que as negociações dos clubes para as transmissões sejam feitas de forma coletiva.
Como eram no Clube dos 13, que a própria Globo incentivou a implosão para que não perdesse o seu monopólio.
O tempo é o senhor da razão.
E, por ironia, o Flamengo, sempre tão parceiro da emissora, faz a Globo sentir na alma o fim de seu domínio absoluto sobre os clubes.
Athletico Paranaense e Palmeiras já haviam mostrado o caminho.
E o clube mais popular do Brasil decidiu.
Enfrenta o império.
O presidente Rodolfo Landim entendeu.
Não é o Flamengo que precisa da Globo.
É a Globo que precisa do Flamengo.
E de todos os grandes clubes do país.
A saída, se quiser, é pagar mais.
Pelo jogos do clube, como ensinou em 2011.
A dona do monopólio do futebol está encurralada...
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