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Jogador adota sobrenome indígena e reacende debate racial no Chile

Jean Beausejour contrariou federação em homenagem a líder mapuche assassinado. Para biógrafo do atleta, 'futebol deve ser mais que chutar bola'

Especiais|André Avelar, do R7

Chilenos se dividiram com gesto de La Roja ao homenagear líder mapuche
Chilenos se dividiram com gesto de La Roja ao homenagear líder mapuche

Ainda que muita gente não queira, o futebol deu mais uma vez mostras de que naturalmente abriga assuntos extra-campo. O jogador chileno Jean Beausejour reacendeu o debate racial ao conduzir na semana passada uma homenagem ao líder indígena assassinado no país, em amistoso da seleção local contra Honduras. O atleta já tinha preparada sua camisa com o sobrenome mapuche, Coliqueo, às costas.

O líder mapuche Camilo Catrillanca, de um dos povos que deram origem aos chilenos, foi morto em 14 de novembro com um tiro na cabeça durante uma operação policial que desencadeou uma série de protestos naquele país. Ele dirigia um trator ao lado de um adolescente, na região Centro-Sul do Chile. Chefes da polícia e um governador local pediram renúncia de seus cargos após o episódio. 

Sensibilizados com a morte do líder comunitário e também adeptos às manifestações vindas de Santiago, os jogadores da La Roja pediram à federação de futebol do país a realização de ‘um minuto de silêncio’, antes da partida contra Honduras, no estádio German Becker, em Temuco. A resposta dos dirigentes, essa sim, não foi nada ‘amistosa’ já que disseram que não abririam espaço para um ‘evento não-esportivo’.

Mesmo assim, os jogadores de Chile e Honduras contrariaram as determinações, se reuniram no centro do campo e protagonizaram um gesto que ultrapassou o país. Ainda antes da morte de Catrillanca, o veterano Beausejour, um dos mais respeitados jogadores da equipe, havia decido fazer uma homenagem para seus familiares mapuche e, por isso, utilizou o sobrenome Coliqueo na camisa.


Autor da biografia “Beausejour — Sangue, terra e futebol”, Ignacio Briso disse em entrevista ao R7 que, justamente por conhecer o caráter do jogador, não se surpreendeu com a homenagem na camisa; mas sim com o gesto dos atletas em peitar a ordem vinda dos dirigentes e se reunirem no centro do campo para um minuto de silêncio. 

“Conhecia as raízes dele, sabia de onde vinha e sabia que nunca havia escondido sua herança. Acabou que o momento foi também adequado para o gesto”, disse Briso, que também contou que o bisavô de Beausejour era um chefe da tribo mapuche e o atleta foi criado em meio a hábitos da cultura indígena. Ainda assim, o autor não sabe dizer se há preconceito em seu país.


“Existe algo estranho. É um tema de formação racial. Tendo a dizer que o povo chileno em geral é racista porque há muita coisa arraigada na formação do país. Certamente, foi uma atitude muito além do futebol, da confederação, dos clubes ou dirigentes. Os jogadores tomaram as rédeas da situação e decidiram fazer a homenagem. Ali, o recado foi dado: futebol é mais que chutar uma bola”, completou.

Acusação de oportunismo político

Por outro lado, nem todo mundo no Chile, no entanto, viu o gesto como positivo. A crítica mais dura veio de Cristian Valenzuela, em coluna intitulada “Mapuche por conveniência”. Ao jornal La Tercera, o diretor da faculdade de direito da Universidad de Chile classificou a atitude como “oportunista”.


Protestos com rosto de líder tomaram capital Santiago
Protestos com rosto de líder tomaram capital Santiago

Segundo Valenzuela, Beausejour não teve a mesma atitude quando também poucos dias antes de uma partida do Chile, em setembro de 2009, o também mapuche Jaime Mendoza Collio foi assassinado com um tiro pelas costas em confronto com ‘caribineros’. No entendimento do autor, as diferentes posições políticas dos governos presidenciais são a razão para gestos diferentes.

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"O duplo padrão de Jean Beausejour é o mesmo que afeta toda a esquerda. Por Mendoza Collio não houve uma homenagem, tampouco uma interpelação ou pelo menos acusação consitucional", escreveu Valenzuela.

"Os chilenos não devem se confundir com os gestos de Jean Beausejour ou qualquer outro líder político de esquerda que hoje tenta parecer indignado quando, na realidade, nem se importam. Eles não estão interessados no povo mapuche e fazem isso só por conveniência", completou.

Atuais bicampeões, os chilenos defenderão o título da Copa América em solo brasileiro. A competição acontece de 14 de junho a 7 de julho em seis sedes: Arena Grêmio, Arena Corinthians, Morumbi, Maracanã, Mineirão e Fonte Nova.

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