Também a Esgrima do Brasil erra e daí recebe uma bronca do TCU
Erros graves de contabilidade, entre os anos de 2014 e 2017, ganham uma auditoria que, paralelamente, de novo, acaba por envolver o COB
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Aconteçam, quando for possível, os Jogos Olímpicos de Tóquio, ao menos uma atleta representará a Esgrima do Brasil na competição: Nathalie Moellhausen, hoje nos 34 de idade, a campeã mundial da arma da Espada em Budapeste, na Hungria, 2019. Faz dois meses, dias antes de se iniciar a dramática quarentena provocada pela disseminação universal da Covid-19, a divulgação do ranking internacional da modalidade apresentou Nathalie na segunda colocação da sua especialidade e assegurou o seu lugar no evento. Bravo, maravilha, sabe-se lá em que momento e em que condição, talvez, talvez 2021, a chance de uma medalha inédita, pioneira da Esgrima na História da competição.
Covid? Surpreende que a CBE, Confederação Brasileira de Esgrima, continue a agir como se nada ocorresse nos seus próprios bastidores. Nesta semana, em comunicação oficial, Arno Schneider, o seu vice-presidente, especulou que já existem três cenários para a retomada das disputas ainda em 2020:
“O primeiro, ideal, um retorno das atividades no início de Agosto. Salvaríamos mais da metade do calendário. Se não der, começamos trinta dias depois, em Setembro. O que ainda permitiria um terço de disputas. Em última hipótese, haveria só um campeonato brasileiro, a se realizar, no final do ano, e em duas fases.” Bela e mera fantasia. Escondida numa ilha de sonhos e ilusões, a CBE sumariamente ignora alguns pecados capitais que cometeu.
Praticamente na mesma data, o 13 de Maio, a Associação Brasileira de Esgrimistas, uma entidade de representação dos atletas, com mais de duzentos inscritos, publicou um documento no qual reforça a importância de um acórdão do TCU, o Tribunal de Contas da União, em um processo instaurado em 2016 e agora, 4 de Março de 2020, depois de relatado pelo ministro Augusto Sherman Cavalcanti, já co-assinado pelo presidente José Múcio Monteiro e a procuradora-geral Cristina Machado da Costa e Silva.
Tal acórdão admite que a CBE, entre 2014 e 2017, gestões de Gerli dos Santos e do seu vice e, daí, desafeto e sucessor Ricardo Machado, irregularmente torrou R$ 3.8 milhões com o pagamento de dirigentes, de funcionários e até mesmo de organização de assembléias, quando o certo, pela Lei Agnello/Piva, não deveria suplantar a fronteira de, no máximo, R$ 2,1 mi.
Explico, sinteticamente, porque o texto do acórdão, todo em termos jurídicos, se estende através de 15 páginas. A Lei não permite que uma Confederação qualquer utilize, em custos administrativos, mais de 1/4 do que recebe nos repasses do COB, o Comitê Olímpico Brasileiro. A ABE constatou que, no período em questão, a CBE extrapolou o limite em 20% e, em petição enviada ao TCU, a acusou de maquiar a sua contabilidade para adequar os números à proporção obrigatória. O TCU concordou. E, para não prejudicar os atletas nas vésperas de Tóquio, se absteve de condenar a CBE a não receber as ajudas financeiras do COB. Mais, indiretamente, ainda culpou o COB, a quem caberia a fiscalização da CBE, de acolher sem reparos as suas prestações de contas.
A denúncia da Associação é meticulosa. Chega ao ponto de relembrar que a Confederação incluiu, nas prestações que o COB hospedou, despesas com um suposto Centro de Treinamentos, um CT inexistente: os esgrimistas usam as instalações da Escola de Educação Física do Exército. E também protesta contra o fato de o COB tolerar tortuosidades nas afirmações da CBE.
O caso de aceitar como esportivas, por exemplo, as inúmeras despesas com os funcionários de administração. Um apelo, justíssimo, complementa a denúncia: “Resta a nós, atletas, (só) torcer para que, a partir de agora, o dinheiro público seja gasto como manda a Lei, (...) o mínimo que se espera da CBE.” Como, aliás, se espera que o COB não seja conivente com a ginástica obtusa de estranhas manobras aritméticas. Haverá umpróximo capítulo cujo enredo, afinal, promete dissabores. A Associação mobilizou o Ministério Público e o episódio talvez se torne, de fato, um caso de polícia.
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