Num triunfo desenxabido a Juve assegura o seu octocampeonato
Placar de 2 X 1 sobre a Fiorentina, mas uma comemoração murcha por causa do desalento da sua eliminação nas quartas-de-final da Champions
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Depois de uma terrível “settimana”, perder da pequena SPAL em Ferrara e adiar a conquista do “scudetto” do Calcio, e daí perder do Ajax da Holanda em seu próprio gramado de Turim e partir pateticamente da Champions League, enfim neste sábado, dia 20 de Abril de 2019, a Juventus açambarcou o seu 35º título no campeonato da Bota, o seu oitavo consecutivo. Um sucesso significativo, claro. No entanto, um mero prêmio de compensação, aliás, literalmente cavado bem no fundo do poço. Impossível esperar prazer de um elenco desalentado. Até os astros milionários se abalam com seus fracassos.
Protocolar, a celebração ao menos aconteceu em casa, no Allianz Stadium da capital do Piemonte, repleto em seus 41.507 lugares, sem contar os inevitáveis 2.000 penetras. E ocorreu no oitavo duelo que a “Senhora” travou com a Fiorentina no belo complexo arquitetônico que, em 2011, substituiu o obsoleto Delle Alpi. Numa trajetória perfeita diante da equipe “Viola”, a Juve costurou a oitava vitória graças ao resultado de 2 X 1, na soma 16 gols a 6.
Ironicamente, o cronômetro ainda não havia alcançado os 6’ quando uma barbeiragem da zaga da Juve, a confusa dupla de Rugani e Bonucci, permitiu a Milenkovic fazer 1 X 0, na “rete” mais rápida que a “squadra bianconera” havia sofrido até então neste campeonato. E aquela do empate, aquela que já poderia determinar o título, apenas adveio aos 36’, corner de Pjanic que Alex Sandro espanou de cocuruto. A visitante, admitamos, se demonstraria muito mais vibrante e mais perigosa no desenrolar de toda a etapa inicial.
Então, aos 53’, Cristiano Ronaldo investiu através do flanco direito, cruzou rasteiro, e o infortunado argentino Germán Pezzella fulminou a própria meta. Desanimou-se a equipe “Viola”. E o público, até ali calado, despertou da letargia. No coletivo, a “Senhora” exibia mais inércia do que dinamismo. Compensava a sua mediocridade, no entanto, a vontade que o CR7 mostrava de menos anotar o seu gol de campeão. Inútil disposição. Ao contrário, aos 89’, foi o arqueiro Szczesny quem evitou a igualdade de Dabo.
Aos 108 anos, 5 meses e 22 dias de vida, batizada Juventus Football Club, hoje domiciliada no número 32 do Corso Galileo Ferraris, no “quartiere della Crocetta”, código postal 10128, a apelidada “Zebra” subiu, na tabela de classificação, aos 87 pontos em 99 disponíveis, 20 à frente do Napoli, que ainda recebe, na segunda-feira, a Atalanta de Bérgamo, e poderá escalar os 70. Como só restarão outras cinco rodadas, nem com um milagre de San Gennaro, o padroeiro da Terra da Pizza, o “Burro” ultrapassará a "Zebra".
Nos gramados, efetivamente, a “Zebra” acumulou outros dois “scudetto” que as antologias não contam. No torneio de 2004/05, reuniu 86 pontos contra 79 do Milan. E, no de 2005/06, obteve 91 contra 76 da Internazionale. Só que se envolveu no “calciopoli”, um escândalo de indicações de árbitros supostamente simpáticos às suas cores. A Justiça Esportiva invalidou o certame de 2004/05, que ficou sem ganhador. E, no de 2005/06, anulou todos os resultados da “Senhora”, a derrubou à Série B, e passou a taça à Inter.
Principiada em 1898, a aventura do Campeonato Italiano se subdivide em dois segmentos bem distintos. Até 1929 a disputa era precária, mistura de grupos e de mata-matas. A Juve abiscoitou o “scudetto” de 1905. Porém, dois clubes prevaleceram. O Genoa, que amealhou um tri entre 1898 e 1900 e outro entre 1902 e 1904. E o Pro Vercelli, tri de 1911 a 1913, mas que, depois, mergulhou no subterrâneo da decadência, tanto que hoje perambula na Série C-2.
A partir de 1929/30, enfim, o certame se cristalizou num formato clássico, à Série A em turno e returno, de pontos corridos, com o descenso dos rabeiras à Série B e com o correspondente acesso dos melhores da divisão de baixo. Em duas ocasiões houve um pentacampeonato. De 1931 a 1935, com a Juventus dirigida por Carlo Carcano (1891-1965) e por Virgìnio Rosetta (1902-1975). E, de 2006 a 2010, com a Inter de Roberto Mancini e José Mourinho.
O formidável Torino da década de 40 talvez obtivesse o seu penta, não fosse o acidente aéreo que vitimou toda a sua delegação, em 4 de Maio de 1949, um choque sobre o morro de Superga, a caminho da sua aterrissagem, após uma partida amistosa com o Benfica em Lisboa, Portugal. Era o líder inconteste do Calcio naquela década, dono de um tetra desde a temporada de 1945/46.
Absoluta no Futebol da Bota desta década, a “tifoseria”, a torcida da “Zebra”, espera que tal primazia redunde em sucesso nas competições da Europa, em particular a tão ambicionada Champions League. Ficará para a edição 65, em 2019/20. Pois nesta CL de 2018/19, na sua aparição de número 21, a Juve se frustrou amargamente. Nem ao menos se qualificou às semifinais. Caiu nas quartas. Pior, já esteve em nove decisões e só levantou a taça em duas.
Em 1985, fez 1 X 0 no Liverpool, no cotejo do Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, quando houve 31 mortos e além de 600 feridos, num entrevero provocado por vândalos ingleses. E em 1996, placar de 1 X 1 nos 90 minutos e na prorrogação, nos penais fez 4 X 2 no Ajax da Holanda. Aliás, o mesmo Ajax que acaba de detonar a sua insistente fantasia da temporada perfeita.
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