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Novas mudanças alteram (bem pouco) as velhas Leis do Futebol

São mudanças superficiais ou absolutamente ridículas, como a definição do punível toque da bola na "manga da camisa" do jogador que defende

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

O cenário da reunião do IFAB em Belfast
O cenário da reunião do IFAB em Belfast O cenário da reunião do IFAB em Belfast

Quase meio século atrás, na Universidade de Stanford, Califórnia, num curso de Psicologia da Comunicação, aprendi com Jimmy Breslin (1928-2017) um conceito do qual nunca me afastei: “No papel, no rádio ou na TV, fale sempre com uma única pessoa. E não hesite, num dia seguinte, se for o caso, de reprisar a mesma informação. Imagine que aquela única pessoa poderá ser uma outra”. Um clássico repórter investigativo, o Jimmy chegou a se infiltrar na “Cosa Nostra” de NY e, descoberto, levou uma surra brutal de esbirros do “capo” Tommy Luchese. Sobreviveu e escreveu “O Traidor”, um excelente livro sobre a “Máfia” norte-americana, citado em meu “Honra ou Vendetta”.

Jimmy Breslin
Jimmy Breslin Jimmy Breslin

Pois eu me valho do conceito que aprendi com o Jimmy para iniciar este raciocínio a respeito da comunicação na qual o International Football Association Board, o IFAB, acaba de expor as suas mais recentes orientações sobre a aplicação das 17 regras do Ludopédio. Perdoe-me quem já sabe mas eu repito que o IFAB data oficialmente de 8 de Dezembro de 1883. Que, em seus começos, o IFAB, de oito integrantes, só abrigava delegados da Inglaterra, da Escócia, da Irlanda e do País de Gales. Que, em 21 de Maio de 1904, nasceu a FIFA, e que, em 1905, a FIFA ganhou o direito de ostentar um membro no IFAB. E que apenas em 1958 a FIFA ampliou a sua presença no IFAB para quatro, contra quatro cartolas da Grã-Bretanha. A maioria obrigatória para qualquer alteração nas leis, porém, continuou nos seis votos.

O Colluden Hotel
O Colluden Hotel O Colluden Hotel

Desde a sua criação o IFAB se reúne sempre em torno da oitava semana de cada ano, cada vez numa cidade de uma das nações da Grâ-Bretanha. Neste 2020, o “meeting”, o 134º da história, se desenvolveu, entre 29 de Fevereiro e 1º de Março, em um castelo-hotel de 1876, o Culloden de Craigavad, na vila de Holywood, na região metropolitana de Belfast, capital da Irlanda do Norte. Sob a liderança de David Martin, da entidade da Irlanda do Norte, além dos integrantes do IFAB, lá estiveram Gianni FIFA Infantino e mais um elenco de assessores. Em 15 de Março, graças ao meu acesso a um rascunho das decisões do encontro, pude perpetrar uma pré-análise. Já considerei bem confusas as idéias então propostas. E o texto final do relatório, que o IFAB divulgou, neste dia 7 de Abril, não melhorou muito. Minha tradução:

A checagem do VAR, dentro do gramado
A checagem do VAR, dentro do gramado A checagem do VAR, dentro do gramado

UTILIZAÇÃO DO VAR

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No caso de uma ocorrência subjetiva, um lance que exija uma interpretação e o responsável pelo vídeo considerar necessário, deverá obrigatoriamente notificar o árbitro de campo que, então, obrigatoriamente, deverá consultar o monitor de TV localizado na lateral do gramado. Caberá ao árbitro de campo, de todo modo, a decisão final.

Minha opinião: fundamental.

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CERA MALANDRA DO ARQUEIRO

No caso de um arqueiro bater um tiro de meta ou cobrar uma infração e o seu companheiro, imediatamente, lhe recuar a pelota com a cabeça ou com o peito, caberá ao árbitro interromper o lance, advertir os dois atletas e então determinar que a cobrança se repita. Daí, no caso de haver uma insistência no artifício, cartão amarelo a ambos.

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Minha opinião: absolutamente lógico.

DESVIO DA DEFESA X IMPEDIMENTO

No caso um jogador de ataque se localizar em posição de impedimento e a pelota lhe sobrar em função do desvio, na cabeça, na perna ou no pé, de um defensor, o árbitro não deverá invalidar o avanço. No caso de haver, porém, o desvio com a mão ou com o braço, caberá ao árbitro a interpretação da intenção. Dentro da área, deverá marcar o pênalti, cartão vermelho. Fora, poderá decidir se exibirá um amarelo ou um vermelho.

Minha opinião: desnecessariamente complicado.

COBRANÇA DE PÊNALTI

Não mais haverá a repetição, no caso de o arqueiro se adiantar, quando o batedor chutar na trave ou para fora. O arqueiro, porém, receberá um cartão amarelo no caso de defender ou mesmo de o batedor desperdiçar a sua chance. Esse cartão, aliás, não terá efeito cumulativo no caso de o arqueiro já ter visto o amarelo no tempo regulamentar. Quer dizer: não será expulso.

Minha opinião: fricote.

O gráfico, ridículo, da definição do toque a ser punido
O gráfico, ridículo, da definição do toque a ser punido O gráfico, ridículo, da definição do toque a ser punido

BOLA NA/O MÃO/BRAÇO DO DEFENSOR

Num golpe de caneta, o IFAB redesenhou a anatomia do corpo humano. "Com a finalidade de se determinar com clareza a infração de mão, se estabelece o limite do braço no ponto inferior da axila". Algum sábio tentou explicar que essa região inescrutável significa a manga da camisa do jogador. Ora, no caso da manga curta, pode haver uma infinidade de comprimentos. E no caso da manga longa, como fica a medida? E ainda no caso do jogador que opta pela manga longa enrolada? Não seria mais lógico dizer que é proibido desviar a pelota com a parte inferior do braço que fica abaixo do cotovelo?

Minha opinião: absolutamente ridículo.

BOLA NA/O MÃO/BRAÇO DO ATACANTE

A determinação presentemente em vigor estabelece como infração qualquer tipo de toque de um jogador de ataque. Pela proposta agora aprovada, o árbitro deverá considerar como toque, e invalidar o lance, somente no caso daquele desvio de mão ou de braço que se mostrar decisivo, o gol ou, na interpretação do árbitro, o tal do “perigo de gol”.

Minha opinião: pior a emenda do que o soneto.

Os cartolas presentes à reunião do IFAB em Belfast
Os cartolas presentes à reunião do IFAB em Belfast Os cartolas presentes à reunião do IFAB em Belfast

Tradicionalmente, a cada ano, as orientações do IFAB entram em vigor no dia 1º de Junho, quando a maioria dos campeonatos do calendário da Europa atinge o seu período de recesso ou de férias. Neste 2020, todavia, são inúmeras as competições ainda em andamento e que não se encerrarão em tal data. Cabe a cada federação nacional ou regional decidir se adota ou não as novas normas para os torneios que a Covid-19 interrompeu. Estaduais aqui no Brasil, Libertadores, Champions e Europa League, certames de Alemanha, Espanha, Inglaterra, Itália etc., são livres para adotar a rota mais conveniente.

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