Nas Copas da UEFA, um time pode valer tanto como todo o Brasileirão
Impressionam os valores que a entidade do Futebol do Velho Continente vai designar para a Champions e para a Europa League agora em 2019/20
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Quem me lê que me perdoe. Porém, aqui, e em público, eu serei obrigado a cometer o pecado da Inveja. Ocorre que a UEFA, a entidade que organiza o Futebol no Velho Continente, acaba de divulgar o montante de dinheiro à disposição dos clubes que disputarão, na temporada de 2019/20, as suas duas grandes competições, a Champions e a Europa League. Na Champions, que inaugurou a sua fase de pré-classificação em 25 de Junho e se desenrolará até o futuro 30 de Maio, se inscreveram 79 times de 54 afiliadas. Na Europa, que começou em 27 de Junho e se desenvolverá até o futuro 27 de Maio, se habilitaram 213 times das mesmas 54 e mais a LFV do Liechtenstein.
Entre os valores relativos à mera participação num mata-mata eliminatório e os prêmios pelos títulos respectivos, a UEFA disporá da bagatela líquida equivalente a quase 12 bilhões de Reais. Um butim do qual a entidade reservará 780 milhões para o seu usufruto e daí destinará o restante aos clubes. Restante? Palavra ofensiva, essa. Como achar que se trata de restante uma quantia de mais de 11,2 bi? Mesmo na divisão entre Champions e Europa os valores são absurdos em relação aos parâmetros do Campeonato Brasileiro. Em 2018, a CBF distribuiu menos de 64 mi, por todo o certame. O Palmeiras, que escalou o topo do pódio, abiscoitou limitados 18 mi.
Claro que, mesmo dentro de um tesouro tão gigantesco, como o da UEFA, existem disparidades. Os disputantes da Champions têm direito a 80% do total. Todavia, ah, a Inveja, ainda sobram, pois é, sobram, as migalhas de 2,2 bi para os clubes da Europa League. Apenas para aqueles que acabarem desclassificados, já no seu primeiro duelo, a entidade designará um consolo de 42 mi a se partilhar. Só esse consolo por pouco não empata com o total do que a CBF ofereceu em 2018. E, fique absolutamente explicitado, os times ainda detêm o apoio específico dos seus patrocinadores individuais.
Nas duas competições, lógico, os números evoluem, de modo escalonado, de acordo com os seus desempenhos. Apenas por obter uma colocação entre as 48 da fase de grupos da Europa, cada uma das equipes abocanhará 12,2 mi. Apenas por obter um lugar entre as 32 da fase de grupos da Champions, mais de 64 mi. Ou, inveja!, o montante com que a CBF agraciou todo o Brasileiro.
Daí, a cada jogo da fase de grupos, cada vencedor poderá encher o caixa com outros 11,4 mi. No caso de empate, ambos os adversários abiscoitarão 3,8 mi. Uma economia de 3,8 mi quando acontecer uma igualdade? Nada disso. O volume supostamente não desfrutado passará a integrar um pacote comum, a ser fracionado, depois, de forma proporcional à quantidade de triunfos de cada agremiação. Tudo minuciosamente pensado e programado.
Dos grupos em diante cada patrimônio gradualmente se amplia. À parte os prêmios por triunfo, há bonificações, degrau a degrau, desde as oitavas-de-final até a grande decisão. Quem arrebatar a taça da Europa League deverá acumular mais 48 mi suplementares. Quem levar o troféu da Champions, mais 215 mi. E eu interrompo este texto por aqui, antes de incorrer, também, no pecado capital da Ira. Dói constatar que existe uma coerência inexorável no fato de o Futebol do Brasil precocemente entregar à Europa, cada vez mais cedo, infelizmente, a imensa maioria das suas jovens promessas.
Gostou?Clique em “Compartilhar”, em “Twittar”, ou deixe a sua opinião em “Comentários”. Muito obrigado. E um grande abraço!
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.