Não, não existe qualquer chance de o CR7 sair da Juventus de Turim
Jornais e Internet até especularam que a "Signora" estaria quebrada. Só faltou, porém, conversar com os seus diretores e com o Cristiano Ronaldo.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Terceira nação mais infectada pela Covid-19 em todo o planeta, logo depois dos EUA e da Espanha, a Itália, hoje, obviamente padece com o vazio de assuntos relacionados ao esporte. Aliás, mesmo em situações de normalidade a sua imprensa adora os exageros e os trocadilhos. Por isso eu não me abalei ao ler, aqui no Brasil, um texto tortuoso que anunciava o risco de a Juventus de Turim, nas bordas de uma quebradeira, se dispor a negociar, e com alguma brevidade, o seu bem mais precioso, Cristiano Ronaldo, o CR7.

Atribuído a “Il Messaggero”, um cotidiano antiqüíssimo, de 1878, com base em Roma e doze edições regionais, o texto dizia, mais ou menos, que em função da pandemia, graças à redução dos salários de seus atletas, a “Vecchia Signora” havia poupado o equivalente a R$ 513 milhões. Paralelamente, porém, a má tradução imputava ao jornal a garantia de que esse valor seria insuficiente para evitar a falência da agremiação. Daí, adiante, justificava: “Vale lembrar que, sem os jogos, e sem a Champions League, as verbas dos direitos televisivos estão congeladas.” Uáu! Fantástico. Ninguém sabia...

A especulação sensacionalista do “Messagero” inoculou até mesmo um periódico específico do ramo, o “Corriere dello Sport”, também sediado em Roma e de circulação nacional. Num chute que, no jargão do Calcio, subiu ao “campanile”, o campanário, o “Corriere” ousou assegurar que a saída do CR7 já seria realidade e que a “Zebra” já havia inclusive fixado o seu preço no equivalente a R$ 350 milhões, cerca de 70% do montante gasto para a sua transferência do Real Madrid no dia 10 de Julho de 2018. Convenhamos, absolutamente ridículo. Particularmente porque faltou o crucial, o óbvio, ou o indispensável: conversar com alguém da Juve e com o CR7.

John Elkann, neto de Gianni FIAT Agnelli, um primo de Andrea Agnelli, o presidente da “Signora”, é o acionista controlador do Grupo Exor, que administra a fortuna da família e, por extensão, a esquadra alvinegra. Numa carta que se iniciou privada mas que se tornou pública, Elkann tranqüilizou parentes, agregados, funcionários e “tifosi”, os torcedores. Admitiu o momento complexo que a Bota e, aliás, também o próprio mundo, hoje atravessam, mas tranqüilizou: “Nos últimos dez anos, nossa Juventus cresceu extraordinariamente e conseguiu reunir uma rentabilidade suficiente para lhe permitir entrar nos próximos dez em posição real de força na Europa.”

Sem sequer mencionar que desde 2011 apenas a Juventus abiscoitou o “scudetto” no Calcio, um octocampeonato inédito na Itália, Andrea Agnelli agregou, à segurança do primo, alguns outros dados irrefutáveis. Por exemplo, o fato de desde 8 de Setembro de 2011 a “Signora” mandar os seus prélios, com exclusividade, no remodeladérrimo Juventus Stadium, que se tornou Allianz em 2017, graças ao patrocínio da megafinanceira alemã. E a inauguração, em 2018, do estupendo Centro Esportivo de Continassa, em um terreno de 60.000m2, com quatro gramados, um ginásio coberto, departamento médico e fisioterápico, um estúdio de TV e inclusive um hotel anexo, num prédio de 11.200m2 com 138 apartamentos para clientes normais e outros para os jogadores e para a comissão técnica. Tudo pago.

Quanto ao CR7, assim que a real gravidade da pandemia interrompeu o campeonato peninsular, chispou rumo ao Funchal, na sua Ilha da Madeira natal, de modo a cuidar da mamãe Maria Dolores, 65 de idade, que havia sofrido um AVC, Acidente Vascular Cerebral. Só o fechamento das fronteiras impediu o retorno a Turim e à sua mansão quase centenária nas colinas que sobem no rumo Leste da capital do Piemonte, dentro do bucólico Parque de San Vito Revigliasco, a mesma residência que abrigou Zizou Zidane e Fabio Cannavaro em seus idos de Juve, e que a trupe da banda U-2 recusou, numa turnê pela Itália, por considerar excessivo o seu aluguel, agora o equivalente a R$ 450 mil ao mês. Coisa simples, oito suítes e um mega salão de jantar de vista para o vale bucólico do Rio Pò e para o centro urbano da cidade.

Cristiano não acalenta a mais escassa idéia de abandonar a Bota. Retornar ao Real e a Madrid, voltar à Inglaterra e ao Manchester United, talvez as únicas sociedades com a dinheirama capaz de seduzi-lo? Ele nem pisca ao jurar a negativa. Primeiro, porque nem precisou atender ao apelo da Juve para rebaixar o seu estipêndio. Ele mesmo topou se agregar a uma campanha de doações à Cruz Vermelha da Itália, iniciativa de seu colega Gigi Buffon, o arqueiro da “Zebra”. Além disso, no seu próprio Twitter, abriu as “hashtags” #beyondthemask e #nevergiveup para colher outros apoios. Como ilustração, duas fotos suas, em preto & branco, sob duas máscaras multicoloridas, uma bandeira do seu Portugal e uma outra da Itália. “Facciamo tutti il possibile per aiutare”, ele escreveu no idioma que já adotou, e que, na minha singela e metafórica tradução, significa: “Diga ao povo que fico.”
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