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Cosme Rímoli - Blogs

Tricampeã mundial, a Argentina se vinga dos jornalistas. Cantando, xingando. Imitando o que fez a Seleção Brasileira em 2002

Messi carregando a taça de campeão do mundo era o primeiro da fila. Todos os jogadores cantavam, xingando os jornalistas argentinos. Vingança infantil

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Jogadores argentinos cantam música que ofende os jornalistas. Vingança infantil
Jogadores argentinos cantam música que ofende os jornalistas. Vingança infantil

Doha, Catar

O que há de comum no Yokohama Stadium, no Japão, com o Lusail Stadium, aqui em Doha?

O sentimento de vingança de uma seleção campeã do mundo.

Aqui, foi idêntico.


Primeiro, Messi não foi à entrevista coletiva obrigatória da Fifa, após a partida. Mais de 300 jornalistas o aguardavam.

Na zona mista, que é um corredor gigante, onde os jogadores passam antes de irem embora dos estádios e dão entrevista, foi caótico.


Esperamos por mais de duas horas, os atletas passarem.

A Seleção Francesa teve de passar primeiro. Esse é o privilégio dos derrotados.


Cercado por três truculentos seguranças, Mbappé fez questão de se fazer de surdo, diante de nós, desesperados jornalistas, querendo ouvir o que tinha a dizer. Foi embora sem dizer uma palavra.

Muito diferente do que fez em no estádio Lujnik, em Moscou. Eu estava na zona mista da Seleção Francesa, campeã do mundo.

Mbappé ficou 30 minutos dando entrevista para jornalistas do mundo todo. Sorria, se admirava vendo os jornalistas se espremendo para colocar os celulares gravando perto de sua boca.

Hoje, estava com a cara fechada, irritado, ofendido. Saiu bufando.

Justo ele que havia dito que as seleções sul-americanas estavam abaixo das europeias. Fugiu da pergunta óbvia. Como é que a Argentina foi campeã vencendo a sua França?

Os jornalistas franceses foram questionar funcionários da Fifa. Mas eles não podiam fazer nada. Era obrigatória a passagem dos jogadores, não falar. 

Os repórteres argentinos estavam mais decepcionados que os franceses, com a fuga de Mbappé.

Depois de mais vinte minutos, ouvimos vozes. Eram gritos misturados com músicas de torcedores argentinos. 

Sim, era a Seleção Argentina.

Messi puxava a fila, com a taça nas mãos. Ele sorria e estava evidente o que o time faria. Passaria cantando, ignorando os jornalistas.

Havia muito rancor por conta das cobranças fortíssimas da imprensa argentina na primeira fase da Copa América, quando o time jogou mal, mas foi campeão. Com o título, o clima ficou melhor. 

Mas voltou a piorar com a derrota na estreia da Copa, contra a Arábia Saudita. Principalmente contra os jornalistas do El Clarin.

Só que os argentinos decidiram generalizar.

E eles passaram como um bloco de Carnaval na Vila Madalena, depois das três da manhã. Repleto de adrenalina. Alguns deles carregavam champanhe. E fizeram questão de estourar a rolha, perto da maior concentração de jornalistas, os da imprensa escrita.

Foi quando começaram a cantar entre eles, sem olhar para nenhum repórter específico.

Na verdade, a música servia para todos.

"Estou feliz e não me importa o que digam, esses p... jornalistas.

"Vão para a p... que pariu."

Cantavam, sorriam, dançaram e foram embora, felizes, com a taça.

O que isso tem a ver com Yokohama, em 2002?

Muito.

Porque a primeira campeã a tomar essa atitude foi a Brasileira.

Seguindo uma ideia de Ronaldinho e Roque Junior, os jogadores decidiram se vingar dos jornalistas que fizeram uma cobertura muito crítica na Eliminatórias para o Mundial do Japão. O Brasil esteve a ponto de não se classificar. 

E eles não se esqueceram das cobranças.

O grupo pentacampeão do mundo passou diante de cerca de cem jornalistas, na época o número era menor, sambando, cantando, tocando samba. Eles tinham instrumentos que tocavam na concentração.

A grande diferença foi que, pelo menos, eles não xingaram os jornalistas.

Foi um aprimoramento argentino.

Ou seja o que aconteceu aqui em Doha não foi inédito.

Foi uma vingança infantil.

Porque, com exceção de Messi e do goleiro Martínez, que falaram no gramado, os demais ficaram em silêncio talvez no maior momento de suas carreiras.

Eles fazem graça.

E deixam de falar para a história...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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