Neymar sem saída. Pede arrego. Quem acredita?
Na propaganda de um de seus maiores patrocinadores, Neymar tenta se justificar. E amenizar a rejeição depois do fiasco, de virar piada no mundo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
"Trava de chuteira na panturrilha, joelhada na coluna, pisão no pé. Você pode achar que eu exagero. E às vezes eu exagero mesmo. Mas a real é que eu sofro dentro de campo.
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"Agora, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele. Quando eu saio sem dar entrevista não é porque eu só quero os louros da vitória, mas é porque eu ainda não aprendi a te decepcionar.
"Quando eu parecer mal criado, não é porque eu ainda não aprendi a me frustrar.
"Dentro de mim ainda existe um menino. Às vezes ele encanta o mundo. Às vezes ele irrita todo mundo. E minha luta é para manter esse menino vivo.
"Mas dentro de mim, e não dentro de campo. Você pode achar que eu caí demais. Mas a verdade é que eu não caí. Eu desmoronei. E pode acreditar, isso dói muito mais que qualquer pisão em tornozelo operado. Eu demorei pra aceitar suas críticas.
"Eu demorei a me olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu estou aqui, de cara limpa, de peito aberto. Eu caí. Mas só quem cai pode se levantar.
"Você pode continuar jogando pedra. Ou pode jogar essas pedras fora e me ajudar a ficar de pé. Porque quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo."
Este foi o texto narrado pelo próprio jogador em uma propaganda veiculada ontem à noite, em horário nobre. A publicidade é da Gillette, produto da gigante Procter & Gamble um dos seus patrocinadores mais fortes. O acordo foi fechado há três anos, em 2015.
A rejeção a Neymar depois da Copa do Mundo foi assustadora. E atingiu não só o jogador. Mas seus patrocinadores. Não há lógica em seguir bancando um jogador com a imagem arranhada. Os prejuízos chegam diretamente aos produtos que ele representa. Ninguém quer pagar dezenas de milhões a um atleta que virou sinônimo de piada, por rolar nos gramados, simulando faltas e dores, quando deveria ser um dos destaques da Rússia.
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O fato do brasileiro não figurar nem entre os dez melhores jogadores do mundo, e receber um cachê de um dos três melhores, é absolutamente incoerente.
Há dias circulavam os rumores de que Neymar faria um 'mea culpa'.
Situação mais do que necessária para que teve postura arrogante durante todo o Mundial. Sua verdadeira face foi vista por mais de 300 jornalistas do mundo inteiro, que o aguardavam na zona mista após os jogos. Inclusive o dono deste blog.
E Neymar, jogando mal, simulando faltas, dando chiliques com árbitros, xingando companheiros, ironizava os jornalistas que tentavam ouvir suas explicações. Ele fingia que não ouvia o apelo insistente dos repórtes de todo o planeta. E provocava risos cúmplices de outros jogadores da Seleção Brasileira.
Encarava a todos com nojo e saía sem atender a ninguém. Nem a velhos conhecidos, parceiros. Como a TV Globo, com quem teve contrato de exclusividade na Copa de 2014, por exemplos.
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Jornalistas italianos, franceses, espanhóis perguntavam aos brasileiros porque ele agia daquela forma. Como é que a CBF não interferia. A resposta é que Neymar é intocável e faz o que quer na Seleção. Infelizmente seus privilégios até aumentaram com a chegada de Tite.
A propaganda deste domingo não é uma resposta à imprensa. Mas um pedido de arrego aos internautas.
Um levantamento do Ibope Repucom apontou que o craque dobrou a rejeição a ele na internet na disputa do Mundial da Rússia. A pesquisa mostra que Neymar foi tema em mais de 25 milhões de postagens, entre Facebook, Twitter, Instagram e YouTube (mais que Messi e Cristiano Ronaldo).
A maioria dos comentários, porém, teve teor negativo, abalando bastante a popularidade do profissional enquanto influenciador digital.
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Antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, o astro do PSG, da França, recebia 28% de citações negativas em suas redes, o que aumentou para 61% após o empate com a Suíça e chegou até 68% depois da eliminação para a Bélgica. A cada 100 comentários posteriores ao 2 a 1 para os belgas, apenas um era positivo. 90% do total das críticas girava entre memes e piadas.
O levantamento também fez um ranking dos país que mais depreciaram Neymar. O Brasil lidera, seguido de Estados Unidos, México, França, Reino Unido, Espanha, Portugal, Argentina, Colômbia e Chile.
Quem quer esse tipo de publicidade? Os departamentos de marketing da Nike, Gillette, Red Bull, Gaga, Beatsbydre, Hellyar, principais patrocinadores de Neymar, tinham de reagir.
Como mostrar o jogador tão rejeitado em novas propagandas?
E veio ontem o 'depoimento de cara limpa e peito aberto', anuncia a Gillette, o depoimento que Neymar lê na peça publicitária, que mostra cenas do seu fracasso na Rússia.
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A mensagem chega em um momento que sua popularidade não poderia estar mais baixa. O Real Madrid assumiu publicamente, depois do Mundial, que não quer o jogador.
O PSG, clube que pagou R$ 822 milhões pelo atleta, decidiu que seria outro que mostraria o novo uniforme da equipe para o mundo. Foi o campeão mundial, com a frança, o atacante Mpabbé, com sua novo número de camisa, e com o slogan, o futuro é agora. Não houve qualquer menção a Neymar.
Enquanto a publicidade com Mbappé era apresentada ao mundo, o atacante brasileiro comemorava ter chegado em sexto em um campeonato de pôquer, em São Paulo. E ter ganho R$ 79.440,00.
Na propaganda, ele assume que tem um menino dentro dele. Esquece que fará 27 anos em janeiro e já é pai de um garoto de seis anos. Não há como alegar infantilidade.
O texto que a Gillette apresenta, além de justificativas vazias ao seu fracasso no Mundial. Ainda há espaço para arrogância, prepotência. Vale a pena repetir a frase final.
"Porque quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo."
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O término é lamentável. Quando Neymar fica de pé, o Brasil 'inteiro' levanta com ele. A frase é absolutamente incoerente, tosca, marqueteira.
O Brasil implorou para o seu principal jogador ficar em pé, literalmente na Copa. Não ficar rolando no gramado como um ator. Ele passou mais de 16 minutos caído durante aos cinco jogos que o Brasil conseguiu fazer.
As ironias dos internautas não foram feitas ao acaso. Não virou piada sem motivo. Mas em resposta à sua atitude em campo.
Quem estava na Rússia e viu seu comportamento nos treinos, nos jogos e após as partidas viu um jogador arrogante, infantilizado, que desprezou, humilhou, mais de 300 jornalistas do mundo todo. Repórteres que reproduzem sua imagem para os mais de quatro bilhões de pessoas que usam a Internet na Terra.
Cristiano Ronaldo é o maior exemplo. Após a eliminação de Portugal para o Uruguai, ele não se furtou às entrevistas. O cinco vezes melhor do mundo e favorito a vencer este ano, encarou os jornalistas e deu suas explicações em consideração aos portugueses. Neymar fugiu, seu calou.
A tentativa da propaganda da Gillette era necessária.
Neymar tinha de dar suas desculpas.
E prometer que será um 'novo homem'.
Mas quem acredita?
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