Neymar está entre o ódio e o dinheiro. Não suporta pressão da organizada do PSG, que exige a saída. Tem contrato bilionário até 2027
Neymar não esperava membros da organizada xingando-o e exigindo que saísse do PSG. Ele mora com a namorada, grávida. Seu pai quer que cumpra o contrato de R$ 1,2 bilhão. Messi vai embora. Mbappé se cala...
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O resumo é simples e cruel.
Neymar está entre o ódio e o dinheiro.
O melhor jogador de futebol do Brasil há dez anos vive um impasse enorme.
E que tem como personagens centrais Mbappé, Messi, a Ultra, torcida organizada mais radical do PSG, e a própria direção do clube francês.
A revolta que se desenhava desde maio de 2011 veio à tona.
Em maio de 2011, o fundo catariano Qatar Investment Authority comprou 70% das ações do Paris Saint-Germain. Pagou 90 milhões de euros, cerca de R$ 486 milhões.
O fundo pertence à família real do Catar.
A intenção do investimento era claro: promover a sede da Copa de 2022. Não por acaso, cinco meses antes, em dezembro de 2010, o país conseguiu vencer Estados Unidos, Austrália, Coreia do Sul e Japão.
A escolha surpreendeu o mundo e se mostrou corrupta, com vários dos eleitores da Fifa, presidentes de confederações, sendo banidos ou presos, depois de investigação do FBI. Ganharam dinheiro para votar no Catar.
Mesmo assim, o Mundial foi mantido. O Qatar Invetment Authority resolveu bancar a contratação de grandes estrelas, tendo como meta a conquista inédita da Champions League. Seria uma enorme publicidade para o país e também se reverteria em lucro para o clube.
E passou a montar esquadrões que fracassaram.
Em 2017, a grande aposta. Neymar, no auge no Barcelona, estava com problemas com a direção e, quando ninguém esperava, abandonou Messi e Suárez. E aceitou a proposta do PSG, que comprou seus direitos, pagando a multa rescisória. Deixando o clube catalão sem ação.
Tornou-se o atacante mais caro do planeta, 222 milhões de euros, atualmente R$ 1,2 bilhão.
Paris recebeu o brasileiro com requintes de grande estrela. Fez a Torre Eiffel estampar seu nome.
Neymar foi com a promessa da montagem de uma superequipe para vencer fácil a Champions, tendo o camisa 10 como protagonista.
Só que são seis anos de fracassos, frustrações e raiva para a torcida apaixonada do PSG e de revolta para a direção do clube, que primeiro paparicou Neymar e agora o trata com todo o rigor possível.
Neymar abusou. Recuperando-se de fratura, foi flagrado dançando. Colecionou suspensões em expulsões e cartões infantis. Cansou-se de simular faltas. Viveu escândalos sexuais, com o rompimento com a Nike e as imagens com a modelo Najila Trindade.
O amor dos torcedores e da mídia francesa logo se transformou em cobranças, decepção.
Enquanto isso, Mbappé roubou o protagonismo do brasileiro. Campeão do mundo na Rússia, assumiu o sonho de ir para o Real Madrid, jogar ao lado de Benzema.
Neymar se viu em segundo plano.
A relação entre ele e Benzema, de acordo com jornalistas do L'Equipe e do Le Parisien, se tornou competitiva, fria. Só diante das câmeras de televisão e dos fotógrafos que os dois se abraçam, sorriem. Cada um luta por seu espaço.
Para que Benzema não fosse para o Real Madrid, até o presidente da França, Emmanuel Macron, se envolveu.
A direção do PSG implorou e prometeu que adaptaria o clube aos desejos da estrela francesa. Acertou contrato de três anos. Envolvendo nada menos do que R$ 3,2 bilhões. Além disso, Mbappé teve influência direta na contratação do treinador Christophe Galtier e do executivo de futebol, o português Luís Campos.
Mbappé exigiu comportamento mais profissional do time. Com a saída do ex-jogador da seleção Leonardo como coordenador, de acordo com repórteres franceses, o atacante acabou com o maior protetor da "panela brasileira" no clube.
Em dezembro de 2021, o PSG aproveitou a oportunidade de ter mais uma grande estrela que disputaria a Copa do Catar. E, com o auxílio de Neymar, fechou com Messi. O brasileiro é amigo/irmão do argentino. Sabia que, com a chegada do excepcional jogador, Mbappé perderia poder.
Veio a Copa do Mundo, a Argentina venceu. Mas Mbappé voltou muito poderoso, por atuações brilhantes no Catar. Neymar se tornou ainda mais coadjuvante. Tudo piorou com o rompimento dos ligamentos do tornozelo direito, que exigiu operação delicada, que foi feita no Catar. Justo no pé direto, que sofreu duas fraturas.
Nesse meio-tempo, o PSG foi novamente eliminado da Champions League.
Messi foi escolhido pela sétima vez o melhor do mundo. E se cansou de ficar em segundo plano, abaixo de Mbappé no PSG. Ainda mais com Neymar se recuperando da operação.
Seu contrato termina em junho, daqui a um mês.
E ele decidiu não ficar mais em Paris. Repórteres argentinos destacam que ele não tem o tratamento que acredita merecer. E, quando analisava se voltaria para o Barcelona, recebeu uma proposta bilionária da Arábia Saudita.
São R$ 2,2 bilhões do Al-Ahly por temporada. O clube árabe acena com dois ou até três anos de contrato. Aos 35 anos, Messi aproveitou uma folga e foi à Arábia negociar. Viajou sem a liberação da direção do PSG.
Aí é que a situação se complicou.
Ele foi suspenso por duas semanas pela direção do clube.
Não é só no Brasil que as organizadas têm ligação com a direção do clube. E muitas vezes tomam atitudes que os dirigentes gostariam mas não têm como fazer.
Foi o que aconteceu ontem, quando os Ultras foram à frente do clube pedir para que Messi fosse embora, deixasse o PSG. Isso vai acontecer, mas assim que terminar a temporada.
Movimentado também por uma onda vergonhosa de xenofobia que domina a Europa, os torcedores aproveitaram e foram até a frente da mansão de Neymar. E gritavam para que ele fosse embora, deixasse o PSG em paz.
Só que com o brasileiro a situação é muito mais complicada.
O pai de Neymar, que gere sua carreira, decidiu acessar a cláusula de renovação automática até 2027, em julho do ano passado, quando a rejeição já era crescente.
Neymar pai pensou "apenas" nos 215 milhões de euros, ou cerca de R$ 1,2 bilhão, a que tem direito até julho de 2027.
O atacante jamais havia passado por uma situação dessas.
Com centenas de torcedores do PSG postados exigindo sua saída.
Ele ainda está se recuperando da reconstituição dos ligamentos do tornozelo direito. E está vivendo com sua namorada, Bruna Biancardi, grávida.
A situação repercutiu mundialmente.
Neymar reclamou nas redes sociais, em que tem mais de 270 milhões de seguidores. "Não deixe as pessoas te colocarem na tempestade delas. Coloque-as na sua paz."
E também curtiu uma publicação que o mostrava abraçado a Messi no Barcelona. No texto, estava escrito: "Todos os fãs pensam o mesmo: eles eram muito felizes naquela época".
O blog teve acesso a pessoas ligadas a Neymar e ao seu pai.
A situação é clara.
Se depender do jogador, o melhor caminho é buscar outro clube, mesmo se for para ganhar menos. O sonho seria o retorno, com Messi, para o Barcelona.
Mas o pai do atleta pede calma e quer esperar o fim da temporada para analisar como ficará o PSG. E não jogar R$ 1,2 bilhão pela janela.
Seu filho tem 31 anos, duas fraturas no mesmo pé direito, com direito a uma terceira cirurgia, dessa vez nos ligamentos. E não receberá nem perto disso em uma outra equipe até 2027.
Neymar não quer conviver com o ódio da própria torcida.
Ainda mais com sua namorada grávida.
Enquanto isso, Mbappé não se manifesta.
Nada de apoio a Messi ou a Neymar.
Se depender dele, de acordo com a imprensa francesa, o PSG começa uma nova história na temporada 2023/2024, que terá início em agosto.
Sem Messi e Neymar.
Com ele como figura principal, buscando atletas que se adaptem ao seu futebol.
Mas o brasileiro só sai se quiser.
Tem um contrato espetacular em vigência até 2027.
Se o PSG não o quiser, terá de pagar o que ele teria a receber nos próximos quatro anos.
Rasgar dinheiro os catarianos não vão fazer.
No máximo buscar equipes interessadas no brasileiro.
Perder dinheiro com o repasse, já que Neymar vale 70 milhões de euros, de acordo com um site especializado em transações financeiras, o Transfermarkt. Nada menos do que 52 milhões de euros, cerca de R$ 288 milhões a menos.
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