Motoboy volta a correr em SP e realiza sonho de conhecer ídolo
R7 promoveu encontro entre Diego ‘Curumim’ Fernandes, que juntou dinheiro para correr, e Alexandre Barros antes de prova do Superbike em Interlagos
Especiais|André Avelar, do R7
O sonho de pilotar novamente uma moto era tanto quanto o de conhecer o ídolo. Diego ‘Curumim’ Fernandes, motoboy e entregador de pizza na Grande São Paulo, participou no último domingo (2), da etapa derradeira do Superbike Brasil. Diferentemente de quando correu na ‘categoria escola’ do campeonato pela primeira vez, agora não foi preciso emprestar absolutamente tudo para se desafiar a mais de 260 km/h na reta de Interlagos.
Depois de uma reportagem do R7, Curumim foi procurado por uma marca de capacetes para ganhar um modelo próprio para a corrida — além de não oferecer a proteção necessária, o ‘capacete do serviço’ é pesado e sem a mesma aerodinâmica do modelo profissional. A escolha do motoboy-piloto foi o LS2 Arrow R, assinado por Alexandre Barros. O brasileiro de sete vitórias na MotoGP, principal categoria na motovelocidade, corre entre os pilotos profissionais no mesmo evento.
Com Barros no mesmo evento, faltava promover o encontro entre os dois. Ainda na sexta-feira de treinos livres, o ídolo, sempre muito solicito com todos os fãs que rodeiam os boxes da Alex Barros Racing, atendeu Curumim, de 32 anos, por quase uma hora.
“Senta aqui nessa cadeira, fica à vontade. Contaram para mim da sua história. Parabéns pela coragem”, disse Barros, hoje com 48 anos, conduzindo o piloto para dentro da garagem entre pneus, tanques de gasolina e peças para as motos.
“Para ele conseguir isso, foi esforço e recurso próprio. Sem nenhuma ajuda. O meu pai me ajudou. Ele falou: ‘você quer correr, é na pista’. Se ele tivesse essa orientação desde pequeno, poderia fazer o que eu fiz. Fico admirado com a dedicação que precisa ter para conseguir o que ele conseguiu. Além do sustento dele, ele precisa de um extra para realizar o sonho dele. Isso não é fácil. A sorte existe para quem corre atrás dela”, continuou Barros.
Curumim chegou a ficar com a voz embargada ao conversar com Barros, ver de perto suas cicatrizes e suor pelo trabalho na pista. A experiência de vivenciar a afinada orquestra que é uma garagem profissional também foi a realização de um sonho. A admiração por outro ídolo, o italiano Valentino Rossi, sete vezes campeão mundial, não chegou a diminuir, mas aumentou bastante por Barros.
“Para mim, é Barros no céu e Rossi na terra. O Barros é o brasileiro, foi o gênio e está aqui perto da gente”, disse Curumim, antes de conseguir um autógrafo de verdade no capacete.
Para participar da sua primeira corrida no ano, o piloto, que presta serviços para a oficina da equipe Sport Plus, teve de reformar uma Honda CBR RR 2005, que era dada como perdida depois de uma batida violenta. Ainda assim, foi para a pista e, naquela oportunidade, conseguiu o quarto lugar. Agora, conseguiu emprestada uma BMW S1000 RR 2012, também de mil cilindradas, como pede a categoria apesar de ‘escola’.
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“Aquela primeira moto não tinha mais como usar. Era dali para o ferro velho. Mas ele arrumou tudo para correr, emprestou macacão, luva... A gente tenta fazer o máximo para ajudar ele a correr porque ele é um cara do bem. Merece tudo isso que está acontecendo com ele”, disse Paulo Defavari, chefe da equipe.
Ainda pouco adaptado à nova moto, segundo Curumim, “mais arisca”, ele marcou o 11º tempo na classificação. Ao seu melhor estilo, de quem não desiste nunca mesmo em meio às dificuldades de quem passou sete dias no hospital depois de um acidente, o piloto foi ganhando posições e chegou a andar na zona de pódio. Depois de muitas ultrapassagens, ele terminou a prova na sexta colocação na sua categoria e um enorme sorriso no rosto.
“Gostei muito do fim de semana todo, me diverti, aprendi mais, melhorei meu tempo, bati papo com o Barros... Agora só estou com medo de usar o capacete assinado e perder a assinatura dele”, disse Curumim.