De Itápolis ou Barueri? Oeste segue como estranho no ninho no Paulista
Time, que ainda não empolga torcedores na nova cidade, levou apenas 828 pessoas em dois dos três jogos que fez até agora ‘em casa’, no Estadual
Especiais|André Avelar, do R7, em Barueri
O time não é dali e a torcida tampouco é de lá. O estranho jogo de palavras é na verdade o retrato de um jogo de futebol. E de Campeonato Paulista. Como um autêntico estranho no ninho, o Oeste, que nasceu em Itápolis e há dois anos manda jogos em Barueri, não empolga a nova cidade. Em dois dos três jogos ‘em casa’, contra Bragantino e Grêmio Novorizontino, levou respectivamente 453 e 375 pessoas à arena municipal. Só contra o Palmeiras, foram 9.229 torcedores.
Para o torcedor comum, os 360 km entre o antigo e o atual estádio do Oeste são até poucos se levado em conta o esforço para assistir ao empate contra o Novorizontino, na última segunda-feira (4), com início às 17h30 (de Brasília). O horário nada atrativo também não foi recompensado com ingresso a R$ 40 (ou R$ 20 para quem tem direito à meia-entrada).
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Dos 375 torcedores contra o Novorizontino, 260 eram familiares, amigos e dirigentes do clube, que tinham entradas gratuitas de camarote e tribuna. Ou seja, apenas 115 entradas foram efetivamente comercializadas. O total gerou uma renda de R$ 3.800, que não passa nem perto dos R$ 13.653,50 de despesas — como comparativo, só os custos para a operação dos ingressos é de R$ 2.500. Na ponta do lápis, a partida registrou um déficit de R$ 9.853,50.
"Tem muita gente que ainda não saiu do trabalho. Eu tenho sorte que saio às cinco horas, mas é difícil. Não ajuda o time e para a renda deles não deve ser bom", disse o torcedor Manuel Carlos, enquanto acompanhava atentamente o empate em casa.
Apesar da reclamação do dia e horário da partida, em 23 de janeiro, Oeste x Bragantino jogaram a partir das 19h15, para 453 torcedores, com R$ 5.145 de renda, mas déficit de R$ 13.130,23. A exceção até aqui foi a partida contra o Palmeiras, também em uma quarta-feira, às 21 horas, com 9.229 torcedores e receita líquida de R$ 235.510,52.
O diretor de futebol do Oeste, Mauro Guerra, se diz refém dos horários exigidos pela emissora de TV, detentora dos direitos do campeonato, mas cita a pouca a identificação da cidade com o clube. Segundo ele, o Estádio dos Amaros foi “condenado pelos Bombeiros”, o que motivou a troca de cidade, rumo a Barueri, que havia extinto o antigo Grêmio Barueri.
“A grande maioria dos clubes não vive de renda. Hoje, infelizmente, há uma concorrência muito grande de situações em que o pessoal tem opção para ver jogo de futebol. Então, os clubes estão cada vez menores, sem grandes jogos”, explicou Guerra. “Você acaba tendo de se sujeitar àquilo que é determinado. Há uma cota de televisão embutida dentro daquilo que a federação repassa para os clubes.”
A FPF (Federação Paulista de Futebol) foi procurada para comentar a escolha do dia e do horário da partida, mas não respondeu os questionamentos até o fechamento da reportagem. Na sétima rodada, o Oeste volta a jogar em uma segunda-feira, às 17h30, desta vez, contra o São Bento, de novo na Arena Barueri.
Arredores vazio
Comum nos arredores dos estádios brasileiros, os conhecidos flanelinhas não apareceram para oferecer uma vaga, tamanha a facilidade para parar o carro na Avenida João Vila-Lobos. Os pipoqueiros certamente preferiram as saídas de escola, enquanto uma turma de 10 a 12 anos parecia fazer provocações com tanta gente que mobilizavam em uma roda de bobinho. Camisa do time mandante entre os postes naquele improvisado varal? Nem pensar.
“Ainda não vendi nenhuma capa de chuva”, disse o ambulante, meia hora antes de a bola rolar. “Em jogo grande, a gente chega a vender umas 200 capas.”
Para piorar a situação dos comerciantes locais, a lei estadual 9.470, de dezembro de 1996, proíbe a venda, distribuição ou utilização de bebida alcóolica “a um raio de 200 metros de distância das entradas dos estádios de esporte”. Hoje com a fiscalização rigorosa, os donos dos estabelecimentos tratam logo de expulsar a clientela e baixar as portas.
“O ofício [da Prefeitura] obriga a gente a fechar quatro horas antes. E mesmo para um jogo desses que não tem ninguém. É uma vergonha. A gente não pode trabalhar”, disse Joseval, o Bahia do Restaurante, dono do comércio localizado na esquina do estádio.
Amor por Barueri
Dentre esses 375 torcedores, um grupo de quase 40 pessoas se fazia ecoar no estádio com capacidade para 31 mil. Os integrantes da torcida “Garra Barueri” bem que conseguiram animar o time no primeiro tempo, com dois gols de Matheus Jesus. Na etapa final, Cléo Silva e Carlinhos, esse aos 44 minutos, empataram a partida.
Em dez anos nas arquibancadas, o fundador Victor Martins viu múltiplos acessos da equipe até a estreia na Série A do Campeonato Brasileiro, em 2009. Naquele ano, o time chegou a ter Leandro Castán (hoje no Vasco), Ralf (Corinthians), Fernandinho (Chongqing Lifan-CHN), Pedrão (aposentado) e depois Val Baiano (aposentado). Assim como subiu repentinamente, o time despencou, foi para Presidente Prudente por divergências políticas, voltou, mas caiu nas tabelas até sumir e ficar sem divisão em 2015.
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“Agora estamos em uma ascensão novamente, com o Oeste na Série A-1 do Paulista. Estamos juntos desde que o time voltou para cá. Digo sempre que a gente tem que fazer a nossa parte que é vibrar como Barueri e aproveitar do mesmo jeito que aproveitamos lá atrás”, disse Martins, que reafirmou o “amor por Barueri, e não por um CNPJ”.
“É claro que o time não vai trazer as mesmas alegrias que o Grêmio Barueri trouxe para a gente, mas que ele reponha o que ficou faltando quando aquele time foi embora”, completou.