Vlahovic assina contrato com a Juve e (impacto!) vai vestir a camisa 7
De tímido fora do campo a audacioso nos gramados, o sérvio, que na Fiorentina consagrou o apelido de DV9, recusou a oferta de usar o número 28 e anunciou de surpresa que se transformou em #DV7
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Aquilo que se previa para o sábado, 29 de janeiro de 2022, aconteceu mesmo na sexta-feira, dia 28. Ansioso, obviamente muito emocionado, Dusan Vlahovic decidiu antecipar, em 24 horas, a sua apresentação à agremiação que o contratou pelo equivalente a quase meio bilhão de reais. Praticamente obrigou a administração da Juventus de Turim a refazer a sua logística e a mobilizar, depressa, os funcionários da J Medical para os exames essenciais à confirmação do contrato. Quem, todavia, seria tão audacioso a ponto de contrariar uma, digamos, sugestão bem direta de John Elkann, o “capo” da Exor, a holding que manda na fortuna da Família Agnelli/Fiat? De fato, ao contrário do que aconteceu na apresentação de Cristiano Ronaldo, não foi o presidente Andrea Agnelli, um primo-inimigo de Elkann, quem ciceroneou Vlahovic e assinou o contrato, mas Maurizio Arrivabene, ex-Ferrari, principal executivo da Juve, por específica indicação do real controlador das chaves do cofre.

Foi ele, Elkann, que nos bastidores costurou com Rocco Comisso, dono da Fiorentina, os principais termos da aquisição do jovem artilheiro sérvio. O ramo, digamos, mais clássico e tradicionalista da família, o de Gianni Agnelli (1921-2003), avô de John, já estava irritado com Andrea, filho do exuberante Umberto (1934-2004), irmão caçula do sóbrio “L’Avoccato”, desde a aventura da invenção da fracassada “Superliga”, que durou menos de uma semana em abril de 2021. No dia 20, agora, quando se percebeu que Comisso se mostrava disposto a aceitar uma proposta do Arsenal de Londres, imediatamente Elkann interferiu, retirou Andrea e o seu braço-destro, Federico Cherubini, das negociações, e colocou Arrivabene no pedestal. Tudo bem para Massimiliano Allegri, treinador da Juve, que vinha de um empate contra o Milan, 0 X 0, num jogo em que a sua equipe não desferiu um único tiro a gol.

Arrivabene inclusive conseguiu que Comisso lhe facilitasse a forma de pagamento. A Fiorentina havia anunciado que não admitiria nenhum tipo de parcelamento. Arrivabene, porém, o convenceu que três vezes, em euro, o montante correspondente a R$ 145 agora, mais 145 no fim do ano e outros 145 no final de 2023, valem mais do que o nada, caso Vlahovic se fosse a “parâmetro zero” no término do seu vínculo com a “Viola”. Sim, porque o sérvio deixou claríssimo a Comisso que apenas mudaria de time se a sua nova casa fosse a da Juventus. Ao avante caberão cerca de R$ 44 mi por temporada, além da garantia de outros R$ 60 mi, até 2026, como bônus de performance. Vlahovic se sentia, mesmo, tão irrequieto que aportou no número 175 da Via Druento, no portão da Continassa, sede esportiva da Juve, em torno das 5h50, antes do amanhecer em Turim. De terno escuro, mas sem gravata, e de tênis brancos, ganhou os aplausos e o carinho de mais de duas dúzias de torcedores e aguardou até 9h39 para que o conduzissem ao J Medical, onde se submeteu a um batalhão de testes e exames até as 15h50. No interregno, a surpresa de uma visita de Leonardo Bonucci, o capitão do time, que foi saudá-lo em nome dos companheiros.

A caminho do edifício onde se fecharia formalmente o negócio, uma faixa improvisada o homenageava: “Aquele com quem a Juventus sempre sonhou será por nós sempre amado”. Eram 18h36. Mais quase uma hora e, enfim, a euforia da cena oficial, Vlahovic e Arrivabene. Imediatamente, por intranet, a Juve depositou o contrato na FIGC e na Lega Calcio. Impacto: pela manhãzinha, a mídia da Bota havia informado que Vlahovic resolvera adotar o número 28 na sua camisa; assim, porém, que tudo se oficializou, graças à velocidade do seu agente e amigão Darko Ristic, as redes sociais sofreram o bombardeamento de uma mensagem aparentemente cifrada mas óbvia e transparente: #DV7. Isso mesmo, o ousado Vlahovic escolheu para envergar o número que pertenceu a Cristiano Ronaldo. Provocação? Não, ele disse: “Uma honraria”. Pois uma honraria a Juve perpetrou a ele no momento em que, já no vestiário do Allianz Stadium, lhe ofereceu um minibolinho de aniversário, sabor chocolate, pelo seu 22º aniversário, completado exatamente nesse dia 28 de janeiro. E Dusan Vlahovic pôde finalmente passear no gramado de “maglia bianconera” com o seu nome.

Num microfone ele pronunciou, timidamente, o discurso de praxe, de palavras bem ensaiadas e o lema da Juve como assinatura: “A Juventus é orgulho, é tradição, é família. E nós lutaremos ao último instante para conquistar todos os nossos objetivos de sermos os melhores. ‘Fino alla fine’.” Ainda que com pouco tempo de preparação, o treinador Allegri pretende escalá-lo na próxima pugna da Juve, dia 6 de fevereiro, um domingo, contra o Verona. A “Zebra” alvinegra, quinta colocada com 42 pontos, está somente um degrau atrás da Atalanta, 43, mas uma peleja adiada a efetuar. Não pode fraquejar diante do bom Verona, só 33 e no entanto um ataque que registrou 43 tentos contra os 34 precaríssimos da Juve. Vlahovic realizou 17 dos 31 da Fiorentina. E viveu idos preciosos em dupla com Chiesa, hoje na “Senhora” mas fora de combate por uma lesão de joelho até o próximo certame. Então, para que a Juve, ao menos, siga combativa na Champions League de agora e se qualifique à subseqüente, Allegri precisará entrosar o sérvio, e depressa, a municiadores como Bernardeschi, Locatelli, Cuadrado, Dybala. Aliás, Elkann também disse que passou da hora de a diretoria de Andrea se mexer um pouco e renovar o contrato de Dybala.

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