Triste momento, o Napoli não aparece e a Juventus ganha por WO
Ganha? Bem, com certeza haverá uma longa e confusa batalha na Justiça. Prejudicado pela Covid, o Napoli se defenderá. Difícil que se safe do 0 X 3.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Obviamente, foi um espetáculo triste, patético, mesmo. Às 20h45 na Velha Bota, 15h45 no Brasil, o árbitro Daniele Doveri se aprestou para apitar o início de um duelo que não ocorreria, neste domingo, dia 4 de Outubro, Juventus contra Napoli, terceira rodada do Campeonato Italiano de 2020/21. Impiedosa, a pandemia Covid-19, já ressurgente na Itália, impediu. Dois dos titulares do Napoli, o polonês Piotr Zielinski e o macedônio Eljif Elmas, não superaram os exames médicos de “pre-partita”, e foram isolados em suas residências na Terra da Pizza. Doveri esperou os 30’ regulamentares e decretou o WO, ou “Walk Over”, o não comparecimento do Nápoli. Consequência do tenebroso infortúnio, além da preocupação com a saúde dos atletas, infelizmente uma confusão danada que deverá macular a continuidade do certame.

Até o começo da manhã, na Bota, se acreditava que a delegação do Napoli, mesmo desfalcadíssima, viajaria a Turim – o vôo direto não demora mais do que a duração de um jogo de Futebol. Mas, Aurelio De Laurentiis, o seu presidente, optou por não se deslocar. Argumentou que a sua decisão se baseava na legislação, na entidade sanitária da sua região da Campania que exigiria uma compulsória quarentena. A Lega Calcio no entanto contra-argumentou através do chamado “Protocolo de Conduta”, um acordo que o próprio Ministério da Saúde da Itália oficializou em 18 de Junho.

Por tal documento, mesmo em caso de exames positivos, desde que disponham de um mínimo de 13 atletas, dentre os quais um arqueiro, os clubes são obrigados a aparecer no estádio determinado pela tabela. De Laurentiis exibiu um email da autoridade sanitária como prova eventual da inocência do Napoli. E a Lega sumariamente rejeitou o email como prova, pois em nenhum momento seu texto indicava a impossibilidade de se cumprir aquele mínimo. À Juventus, segundo nota assinada por Andrea Agnelli, o seu presidente, não havia opção além de ir até o Allianz e, mesmo entristecida, se paramentar e subir ao gramado. Nada confortável ganhar por WO.

A FIGC, a Federazione Italiana Giuoco Calcio, esboçou uma defesa do Napoli: “Poderemos considerar a partida como adiada”, observou o conselheiro Pietro Lo Monaco. Só que Lo Monaco é um único conselheiro, não responde por toda a entidade. E a Lega retrucou. Um dos seus dirigentes, que representa a maioria dos clubes e me pediu anonimato. rememorou, por telefone, que em quatro pelejas houve condições parecidas, atletas infectados e isolados, os seus times autorizados a jogar: “Torino contra Atalanta, o Milan em Crotone, o Genoa diante do Napoli e até, hoje mesmo, a Atalanta que recebeu o Cagliari em Bérgamo”. Não preciso enfatizar que irá longe a briga na Justiça.

Claro, também, que o episódio deverá agregar mais um condimento amargo numa relação de rivalidade que se originou na História da Itália, e longe do Futebol. Ou, o Norte contra o Sul, a opulência contra a precariedade. Numa parábola, numa síntese ao mesmo tempo filosófica e dramática, o torcedor do Napoli vive a imperiosidade de confirmar todo o seu amor por Nápoles enquanto que o torcedor da Juventus não sente a menor necessidade de demonstrar que gosta de Turim. Quando o Napoli nasceu, em 1926, a Itália vivia o apogeu do Fascismo do histriônico Benito Mussolini (1983-1945) que terminaria enforcado por gente do próprio povo e pendurado pelas pernas num posto de gasolina. Datada de 1897, a Juventus acabara de bordar o seu segundo “scudetto” e já era uma associação bastante rica.

O Napoli, proveniente de uma região basicamente ligada à agricultura e à pesca, apenas disputou o certame logo a seguir, de 1926/27, por mera imposição do “Duce”, que pretendia, no papel, oferecer oportunidades equivalentes de disputa desportiva ao Sul desprivilegiado da Bota. E a Juventus, orgulhosamente, era propriedade da “Famìglia Agnelli”, da Fiat, da fervilhante indústria automobilística da nação. Ironicamente, a Juventus acabaria com o tempo a se transformar na agremiação mais popular do “Calcio” – 35% de todos os torcedores peninsulares, inclusive os de Nápoles. São torcedores espalhados por toda a Itália, enquanto os do “Burro” se concentram na sua região. A Juve se tornou a segunda no coração dos “tifosi” alheios. A mais amada da Bota, porém, também virou a mais odiada.
Os prélios da jornada:
Fiorentina 1 X 2 Sampdoria
Sassuolo 4 X 1 Crotone
Udinese 0 X 1 Roma
Atalanta 5 X 2 Cagliari
Benevento 1 X 0 Roma
Lazio 1 X 1 Inter
Parma 1 X 0 Verona
Milan 3 X 0 Spezia
Juventus WO X 0 Napoli
Genoa X Torino, adiado desde o dia 1º de Outubro, quando se constataram contaminados no elenco do “Grifone” da Ligúria, número que já atingiu 22.

PS: Tristéza pela partida do velho amigo Zuza Homem de Mello (1933-2020). Aprendi muito, mas muito, muitíssimo com ele, o que sei de MPB.
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