Sem cicatrizes, o COB se recupera de um desnecessário tiro no pé
Humberto Martins, o Corregedor Nacional de Justiça, volta atrás numa decisão afobada e o Comitê de Ética felizmente volta a se recompor
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
No dia 4 de Dezembro de 2018, cá mesmo neste espaço nobre que o Portal R7 me concede, entristecido eu revelei um episódio ao qual apelidei de “Um tiro direto no pé do Esporte do Brasil”. Então, numa decisão intempestiva, o ministro Humberto Martins, o Corregedor Nacional de Justiça, acabara de esfacelar com uma das promessas mais notáveis da modernização do COB, o Comitê Olímpico do Brasil. Tudo porque, numa decisão que nada tinha a ver com o COB, para o novo Comitê de Ética da Conmebol a CBF havia sugerido o nome de um desembargador, Marcelo Buhatem, do Rio de Janeiro.
O ministro Martins vetou aquela indicação por considerar que o fato de um juiz ou desembargador ocupar, além de suas tarefas convencionais, qualquer encargo paralelo, representaria “função potencialmente conflituosa”, no caso “relacionada às paixões futebolísticas e que teriam o condão de interferir na imagem do Poder Judiciário e na independência e/ou imparcialidade dos julgamentos de questões submetidas ao julgamento (sic) do desembargador Marcelo Buhatem”. O desembargador, lógico, se defendeu. Afirmou que não receberia qualquer tipo de pagamento na sua função na Conmebol. Observou que representar o Brasil no Comitê de Ética da Conmebol não equivale a ser um membro da Justiça Desportiva, por exemplo. O Comitê de Ética, afinal, não possui competência legal para um julgamento disciplinar.
O Corregedor, porém, não perdoou. E, por escrito, emitiu um documento perigosamente generalizante. Um texto em que recomendou que juízes se abstivessem de exercer funções, em caráter honorífico ou sem remuneração, em qualquer órgão ligado a federações, confederações ou outras entidades desportivas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mirou em Buhatem, na CBF, na Conmebol - e acertou no COB. E obrigou à saída, do Conselho de Ética do COB, livremente eleito em Março de 2018, de dois magistrados de prestígio no Esporte, Guilherme Augusto Caputo Bastos, um ministro do TST, e o desembargador Ney de Barros Bello Filho.
Com o presidente do CdeE, Alberto Murray Neto, herdeiro da competência do saudoso Sylvio de Magalhães Padilha, mais Sami Arap Sobrinho, ex-presidente da entidade que comanda o Rúgbi no Brasil, e Bernardino Santi, por anos um dos médicos de diversas delegações do País, Caputo Bastos e Ney Bello já compunham, num dos melhores quintetos que a História Olímpica do País havia conseguido reunir, a Comissão de Ética do COB. Sem saída, naquele 4 de Dezembro, ambos encaminharam os seus pedidos de demissão a Paulo Wanderley, o obviamente perplexo Presidente do COB.
Não sou um fã da expressão “furo de reportagem”. Até porque, nestes tempos de “Redes Sociais”, os vazamentos atropelam tonitruantemente as informações oficiais. Ao contrário do que lastimei quase três meses atrás, aqui no R7, não deixa de ser com orgulho que eu me antecipo ao comunicado público do COB e, bastante alegre, anuncio que o ministro Martins voltou atrás na sua desnecessária imposição e que Ney Bello e Caputo Bastos retornarão ao CdeE. Felizmente, sem cicatrizes do tal tiro no pé.
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