Pela viagem e pela altitude, ótimo o empate do Corinthians em Bogotá
Na estreia de Fábio Carille em Libertadores, um placar de 0 X 0 e o infortúnio de um belo petardo do zagueiro Henrique, de virada, no travessão
Silvio Lancellotti|Sílvio Lancellotti
No comecinho de 1938, estudantes abonadíssimos do El Colegio Mayor de San Bartolomé, fundado em Bogotá, na Colômbia, em 27 de Setembro de 1604, juntaram as suas economias e as suas mesadas e criaram um time de futebol imediatamente batizado de Juventud Bogotana.
Quando, porém, em 1946, nasceu no país um primeiro campeonato nacional efetivamente organizado, embora não legalizado, o mimo dos garotos de San Bartolomé já havia se transformado num clube celebrado, capaz de pagar generosas fortunas a atletas, principalmente de outros países, que topassem aderir à sua competição pirata. Bancava o brinquedo um ricaço, Alfonso Senõr (1912-2004), que não hesitou em buscar na Argentina o arqueiro Júlio Cozzi, o volante Néstor Rossi e os atacantes Alfredo di Stefano e Pedernera.
Señor adorava chamar o seu grupo de “El Ballet Azúl”. Mas, Luís Camacho Montoya, um jornalista do diário “El Tempo”, crítico feroz de tanto esbanjamento, preferiu ironizá-los como “Los Millionarios”. E o apelido pegou. O mega-cartola rebatizou o time dos garotos de Azul y Blanco Millonarios Fútbol Club S. A. Isso, exatamente, Sociedade Anônima. Purista, por um bom tempo a FIFA tentou impedir que os craques importados, cerca de 60, retornassem às suas seleções de raiz. Sucumbiria. Sob o novo nome, contudo o clube se eternizou. Levantou o título da Colômbia em quinze ocasiões, a mais recente em 2017. Ironicamente, nenhum troféu internacional, além da nada representativa Copa Merconorte, em 2001.
Adversários desta quarta-feira, dia 28 de Fevereiro, no El Campin Nemésio Camacho de Bogotá, pela Libertadores de América, o Millionarios e o Corinthians já tinham se digladiado em cinco pelejas. Em 1954, no mesmo 28 de Fevereiro, no mesmo estádio, por 1 X 0 o Azul y Blanco quebrou uma série invicta de 32 jogos do “Mosqueteiro” contra adversários estrangeiros, 25 em viagem. Daí, em 28 de Março, na mesma excursão, houve um empate de 3 X 3. E, em 20 de Janeiro de 1963, sempre no El Campín, deu Millionarios 4 X 2. Uma época em que o calendário permitia que se realizassem excursões amistosas.
Oficialmente, só na Libertadores de 2013, em que o Boca Juniors eliminou o “Timão” nas oitavas-de-final, os dois se defrontariam, novamente. Aconteceu na Chave 3 e o Corinthians bateu o Millionarios por 2 X 0 no Pacaembu e por 1 X 0 no El Campin. Agora, ambos se inscrevem no Grupo 7, que ainda inclui o Deportivo Lara de Cabudare, Venezuela, e o Racing de Avellaneda, Argentina, de jogo programado para esta quinta, 1º de Março. Embora sob a orientação de um platino, Miguel Ángel Russo, o Azul y Blanco da atualidade, curiosamente, ostenta apenas dois não nativos no seu elenco, o zagueiro uruguaio Matias de los Santos e o atacante Roberto Ovelar, do Paraguai.
Por opção de Russo, o guarani permaneceu no banco. No entanto, Fábio Carille, o treinador do Corinthians, estreou numa Libertadores com um problemaço, a suspensão do seu melhor jogador no momento, Rodriguinho, expulso contra o Racing na pugna que eliminou o alvinegro da Sul-Americana de 2017. Carille precisou recorrer ao garoto Mateus Vital, de 19 de idade, recém trazido do Vasco da Gama. Consequência: timidérrimo o moleque, na etapa inicial o “Mosqueteiro” mal atravessou a linha divisória do gramado. Aliás, na verdade, mesmo diante de um elenco bem fraquinho, a inapetência do “Timão” prevaleceu até os 62’, quando Jadson cobrou um corner, Balbuena testou nas costas de um adversário e, na sobra, o zagueiro Henrique, espetaculosamente, de virada, acertou o travessão.
Só então o elenco de Carille despertou. Sim, com algum empenho e a correção nos passes e nos arremates, seria perfeitamente possível acumular três pontos, apesar dos 2.640m de altitude e de ar rarefeito em Bogotá. Padeceu muito o Corinthians, com a falta de fôlego, nos últimos dez minutos de escaramuças e de tensão. Na tentativa de melhorar as suas chances, o treinador enviou ao gramado Junior Dutra, Émerson Sheik e Lucca. O Millionarios, do seu lado, escolheu os chuveirinhos sobre a marca penal. Já mais entrosados, todavia, Balbuena e Henrique devolveram todas as pelotas com oportunas e eficientes cabeçadas. No final das contas, pelo sacrifício da viagem e pelo incômodo da altitude, um ótimo 0 X 0.
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