Palmeiras, Santos, e o seu grande clássico de antologia... em 1958
Neste sábado, 23 de Fevereiro, os dois clubes se defrontam pelo Paulistão e volta à memória o jogo que disputaram faz seis décadas, "Peixe" 7 X 6
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Um veterano jornalista não tem o direito de se refugiar por detrás das suas idiossincrasias. Já ficou bem longe o tempo em que eu, petulantemente, não dava palpites em bolões de Futebol, ou me recusava a escolher os meus melhores em qualquer departamento. Hoje, às vésperas de um clássico entre o Palmeiras e o Santos, com o maior prazer eu afirmo que um dos jogos mais espetaculares que eu testemunhei aconteceu entre esses dois clubes.
Noite chuvosa de 6 de Março de 1958, Torneio Rio-São Paulo, e eu nem tinha completado os 14 de idade. Porém, com um bando de amigos da turma da minha esquina, fui até o Pacaembu na expectativa de apreciar o confronto de dois elencos absolutamente admiráveis. Pelo “Verdão”, subiriam ao gramado Edgard, Carabina, Édson, Formiga, Dema, Valdemar Fiume, Paulinho, Nardo, Mazzola, Ivan e Urias. Depois entrariam Vítor, um arqueiro reserva, o uruguaio Caraballo e Maurinho. O “Peixe” apresentaria Manga, Fiotti, Ramiro, Hélvio, Dalmo, Zito, Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. No intervalo entrariam Afonsinho e Urubatão. De fato, uma pugna dramática, antológica, espetacular.
Primeiro tempo, Santos 5 X 2. Pela ordem: Urias, Pelé, Pagão, Nardo, Dorval, Pepe e Pagão. No segundo tempo, duas viradas empolgantes. Graças a Paulinho, Mazzola, Mazzola e Urias, o Palmeiras fez 6 X 5. Daí, de cabeça, Pepe, o “Canhão da Vila”, igualou 6 X 6 e fez 7 X 6. No intervalo, injustamente responsabilizado pela goleada do “Peixe” na etapa inicial, o mineiro Edgard chorou bastante e pediu que o treinador Oswaldo Brandão o substituísse.
O volante Zito, do outro lado, ironizou com um repórter de rádio: “Hoje é cinco vira e dez acaba”. Luís Alonso Peres, o Lula, treinador do Santos, todavia, advertiu os seus pupilos: “Ainda temos mais 45 minutos”. Também teriam a arbitragem de João Etzel Filho, cidadão famoso por dar um jeitinho de fazer os clássicos se encerrarem no empate. E Etzel ajudou o Palmeiras a reagir graças a um penal inexistente, batido por Paulinho. Mas, mesmo os derrotados fãs do “Verdão”, majoritários entre os 43.068 presentes, aplaudiram aquela sessão de beleza pura. Quem viu, não se esquecerá, jamais, daquela noite.
Neste sábado, dia 23 de Fevereiro de 2019, no Allianz Parque, pela oitava rodada do Paulistão, o Palmeiras e o Santos participarão do seu desafio de número 325. Desde o seu cotejo inaugural (3 de Outubro de 1915, amistoso, no Velódromo da capital, “Peixe” 7 a 0 no então Palestra Itália) até o mais recente (3 de Novembro de 2018, pelo Campeonato Brasileiro, no Allianz, “Verdão” 3 X 2), o time atualmente orientado por Luiz Felipe Scolari somou 136 sucessos a 104, nos tentos a folga alentada de 553 a 469.
Repleto de peculiaridades, o Estadual ostenta 16 equipes divididas em quatro chaves e as agremiações de cada grupo exclusivamente duelam com as outras 12, num turno único, de pontos corridos. Passarão adiante as duas melhores de cada grupo, cujas só então se desafiarão em porfias de ida e de retorno. As sobreviventes disputarão as semifinais e, daí, a decisão do título.
Com 18 pontos em 21 disponíveis, o Santos, sob o comando do polêmico argentino Jorge Sampaoli, lidera com folga o Grupo A, à frente do Red Bull Brasil/14, da Ponte Preta/9, e do São Caetano/4. A situação do Palmeiras na tabela parece um pouquinho mais complicada: 14 pontos para os 12 do Novorizontino e os 10 do Guarani, descartável apenas o São Bento de Sorocaba, com 3. Na sua edição 125, o certame exibe, como o campeoníssimo em títulos, o Corinthians, 29, presentemente o seu bi. O Santos e o Palmeiras acumulam, ambos, 22 troféus. O “Peixe” não levanta a taça desde 2018. O “Verdão” não conhece o topo do pódio desde o já distante 2008.
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