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O triste centenário da bandeira olímpica do Barão de Coubertin

Desenhada por ele mesmo, em 1913, desvendada nos Jogos de Antuérpia em 1920, não terá festa, como deveria, no evento suspenso de Tóquio/2020

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

O belo projeto do Barão de Coubertin
O belo projeto do Barão de Coubertin O belo projeto do Barão de Coubertin

Pierre de Frédy (1863-1937), o Barão de Coubertin, era um personagem de múltiplas habilidades. Fruto de uma família aristocrática, pôde estudar História, Pedagogia, Direito, Ciências Políticas, e ainda teve a inspiração e o tempo para resgatar a idéia dos Jogos Olímpicos. Melhor, do pai, Charles Louis, nas horas vagas um ótimo pintor, também herdou alguns dotes artísticos. Tanto que, num momento de devaneio, em Julho de 1913, em carta a um amigo, esboçou o dístico dos cinco anéis entrelaçados que depois se eternizaria como o maravilhoso símbolo gráfico dos Jogos.

Coubertin e os anéis, à frente do Estádio Olímpico de Tóquio
Coubertin e os anéis, à frente do Estádio Olímpico de Tóquio Coubertin e os anéis, à frente do Estádio Olímpico de Tóquio

Hoje, no planeta do politicamente correto, talvez os anéis do Barão não sobrevivessem a uma acusação de racismo. Obviamente sem qualquer conotação lateral, apenas com a identificação geográfica daqueles idos, ele codificou os africanos como pretos, os americanos como vermelhos e os asiáticos como amarelos. Bobagem, porque a Europa, azul, não é única a ostentar um céu ou um oceano. Muito menos a Oceania, verde, é a dona de todas as florestas da Terra. De todo modo, numa época em que não havia uma preocupação com a instituição da “Marca Registrada”, os anéis viraram logotipo e, no congresso do COI, o Comitê Olímpico Internacional, em Paris, 1914, se oficializou a sua aposição numa bandeira de fundo branco.

A estréia da bandeira, em Antuérpia 1920
A estréia da bandeira, em Antuérpia 1920 A estréia da bandeira, em Antuérpia 1920

Presidente do COI desde os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas, na Grécia, 1896, Coubertin imaginava inaugurar a bela cerimônia do hasteamento da bandeira no evento de Berlim/1916. A I Guerra impediu. E, assim, a celebração pioneira só aconteceu no dia 14 de Agosto de 1920 no Kielstadion de Antuérpia, na Bélgica, durante a abertura daquela sétima edição dos Jogos. Daí, assim se estabeleceu, a cada festiva cerimônia de encerramento se realizaria um ritual solene, com a bandeira entregue, a um dignitário, um representante da cidade imediatamente sucessora.

Em Paris/1924, no Juramento do Atleta
Em Paris/1924, no Juramento do Atleta Em Paris/1924, no Juramento do Atleta

Exemplo, na noite de 21 de Agosto de 2016 coube ao Rio passar a bandeira a um enviado de Tóquio. E desde então a bandeira ficou em exposição na Prefeitura da capital do Japão. Caso não eclodisse a Covid-16, nesta semana, um século depois de Antuérpia, o COL, Comitê Organizador Local, principiaria os ensaios da cerimônia de abertura do evento no Sol Nascente, programada para 24 de Julho. O adiamento dos Jogos, entre outras complicações, obrigou o COL a de novo guardar a bandeira e deixá-la protegida. Em Antuérpia, afinal, aquela que deveria ser transportada a Paris, para a respectiva inauguração dos Jogos de 1924, impacto, sumariamente desapareceu.

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Harry Prieste, em 1997, com a bandeira que havia furtado em 1920
Harry Prieste, em 1997, com a bandeira que havia furtado em 1920 Harry Prieste, em 1997, com a bandeira que havia furtado em 1920

Incrível, mas absolutamente verdadeiro. Só em 1997, por acidente, se descobriria o paradeiro do pendão. Durante um banquete do Comitê dos Estados Unidos, um repórter fazia uma entrevista corriqueira com um remanescente de Antuérpia, o venerável Harry Prieste, 103 de idade, prata nos 10m Plataforma dos Saltos Ornamentais, e o assunto surgiu do nada até Prieste revelar: “Oras, a bandeira está na minha maleta de viagem”. E se justificou: o havaiano Duke Kahanamoku, do time dos EUA, ouro nos 100m da Natação, o havia desafiado a escalar o mastro e a furtar a bandeira. Absurdo, por 77 anos ele não tinha pensado na importância do episódio, até aquela conversa. Combinou-se a devolução, com uma homenagem a Prieste, durante o evento de Sydney, em 2000. E o pendão acabou devidamente entronizado no imponente Museu dos Jogos, em Lausanne, Suíça.

O desembarque da bandeira em Tóquio
O desembarque da bandeira em Tóquio O desembarque da bandeira em Tóquio

Por causa do sumiço inesperado, o COI necessitou fazer uma outra bandeira para os Jogos de 1924. Cuja, aliás, se manteve praticamente intacta até o evento de 1994, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Nódoas aqui, máculas ali, pontos esgarçados através do pano, compeliram Juan Antonio Samaranch (1980–2001), o presidente do COI na época, a encomendar uma novíssima para Seul/1988, a mesma que o Rio transmitiu a Tóquio e que, depois de volteios pela capital do Japão, necessitou se re-esconder da Covid-19 numa vitrina da Prefeitura. Agora, esperançoso, claro, o mundo aguarda que a pandemia se dissipe e que, em 23 de Julho de 2021, além dos anéis, também a Chama Olímpica possa, sobranceira, dominar os ares da cidade.

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