O meu "Personagem de 2018", você pode crer, é o controvertido VAR
Não sou de curtir feriados e nem de eleger melhores pessoas ou coisas ao final do ano. Mas o árbitro de vídeo merece toda a consideração.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Não costumo curtir feriados, datas heráldicas, situações correlatas, celebrações forçadas que meramente servem para que se fuja do trabalho. Jornalista com mais de meio século de carreira, rarissimamente desfrutei tais folgas e nem mesmo me lembro das últimas “vacanze” que pude saborear. Carnaval? “Vade retro!” Como meu pai, o avô e o bisavô etcetera e tal, só me delicio com os encontros familiares do Domingo da Páscoa e do Dia de Natal.
Por isso eu também não me empenho em eleger qualquer destaque do ano, pessoa ou bicho, objeto, filme, canção, livro ou algum tópico retrospectivo. Com sacrifício fiz uma lista, a pedidos, representante do R7, nos Esportes, para o jornal “Estadão”. Todavia, ao ler os resultados de uma pesquisa habitualmente organizada pela parceria da “Folha” com o “Uol”, eu me impactei pela repercussão praticamente nula de um item da sondagem: aquele que atestou o apoio à utilização do VAR, o tão controvertido árbitro de vídeo, de 80,2% de 106 atletas de 13 clubes do Campeonato Brasileiro: Atlético-MG, Botafogo, Ceará, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco.
Sou absolutamente favorável ao VAR. Quando a FIFA topou analisar a possibilidade de instalar os mecanismos eletrônicos de apoio aos mediadores, ainda na gestão de Joseph Blatter, por volta da Copa do Brasil, em 2014, em diversas ocasiões manifestei por escrito a minha integral concordância. E o seu sucessor, Gianni Infantino, um dos maiores fãs do conceito, na presidência da entidade desde Fevereiro de 2016, o formalizou logo em Junho, depois da aprovação inevitável, claro, pelo International Board. A estreia do dispositivo em palcos cruciais ocorreria durante a recente Copa da Rússia.
No Calcio, que acompanho mais detidamente desde os idos de 1980, o VAR já deixou de provocar discussões inúteis, como as que ainda proliferam no Brasil. Com um certame de 20 clubes e 380 partidas, na última temporada houve consultas ao VAR em 210 pelejas, 1,078 pedidos no total, média de 5,1 por jogo. Houve 60 correções, uma a cada 3,5 combates, 43 através de checagens dentro do gramado e 17 na mesa dos apetrechos tecnológicos. Das 60 correções, houve interpretações equivocadas em um penal, 2 impedimentos e 5 toques de mão. De todo modo, graças à implantação do VAR, os erros dos apitores de plantão diminuíram cinco vezes.
E que tem o VAR a ver com este meu texto derradeiro do ano cá no querido R7? Simples: subitamente eu resolvi romper com a minha mania boboca e, neste 31 de Dezembro, decretar o VAR como o meu “Personagem de 2018”.
PS: Foi-se o Nenê, Antonio Salvador Succar, pivô da seleção de basquete que arrebatou um ouro no Mundial do Rio, em 1963, e dois bronzes nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, e de Tóquio, em 1964. Éramos amigos desde os anos daqueles triunfos. E, nesta década, em inúmeras ocasiões ele desfrutou as macarronadas do Ristorante PianoPiano que eu tocava em Moema, diante do seu escritório paulistano. Pelo seu brilho fulgurante e pelo seu tamanhão, 2m05, com certeza o Nenê se transformou em duas estrelas lá no Céu.
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