O CR7, a acusação de estupro e a compostura da cidade de Ùdine
Num jogo em que a Juventus ganhou por 2 X 0 e o craque fez um golaço, uma aula de respeito à venerável obrigatoriedade da presunção de inocência
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Ùdine é mesmo uma cidade majestosamente civilizada. Com pouco mais de 100.000 habitantes, localizada na região do Frìuli, norte da Itália, pequenina mas, desde os anos 20 do Século XX um modelo de industrialização, em especial no segmento da tecelagem, neste sábado, 6 de Outubro, hospedou um visitante que outras plagas, talvez, hesitassem em receber com a dignidade e com o respeito que a chamada “presunção de inocência “ exige. Trata-se de Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, astro da Juventus de Turim, heptacampeã do Calcio da Bota, na busca do oitavo scudetto seguido.
Pela oitava rodada do Campeonato Italiano de 2018/19, a Udinese local, meros 8 pontos em 21 disponíveis, pegou a líder Juve, os absolutos 21 e mais dois triunfos seguidos na fase de grupos da Champions League da Europa. Não houve, na torcida que encheu o lindíssimo Stadio Fríuli, 25.132 lugares, inaugurado em 1978 e dotado de um arco maravilhoso de 110 metros de extensão, sem apoios além das suas extremidades, qualquer manifestação contrária ao craque lusitano, às voltas com uma estranha denúncia de abuso sexual, um caso admissivelmente ocorrido depois de um encontro num cassino de Las Vegas, Nevada, Estados Unidos, lá atrás, em 2009.
A Juve bateu a Udinese por 2 X 0. Num contra-ataque de um outro português, Cancelo, e a testada de um uruguaio, Bentancur aos 33’. E num petardo de canhota do CR7 aos 37’. Subiu aos 24 pontos, um vantagem bem larga sobre os 15 do segundo colocado, o Napoli, que neste domingo desafia o surpreendente Sassuolo, 13. O jogo transcorreu sem sobressaltos e, em nenhum momento, no gramado ou nas arquibancadas, se percebeu um indício de incômodo pela presença ou pela movimentação do acusado. Afinal, que história é essa, a própria mídia da Bota, intrigada, se indaga?
Em Junho de 2009, de férias em Las Vegas, entre a saída do Manchester United e a chegada ao Real Madrid, numa noitada o CR7 conheceu a modelo Kathryn Mayorga, que aceitou acompanhá-lo a seu apartamento no Palms Hotel. O que ocorreu lá dentro se desdobra em duas versões. O atleta assegura que houve sexo consensual. A modelo diz que Cristiano Ronaldo a sodomizou à força e que, depois de acuá-lo, aconteceu um acordo que lhe propiciou cerca de R$ 1,5mi em troca do seu silêncio. Três semanas atrás, porém, o tabloide “Sun”, da Grã-Bretanha, famoso pelas suas investidas escandalosas e sensacionalistas, reinventou o episódio. Ficaria no vácuo se o semanário “Der Spiegel”, da Alemanha, habitualmente sério, não tivesse perfilhado a narrativa do “Sun”, inclusive com detalhes sórdidos.
Leslie Mark Stovall, uma advogada de causas polêmicas, assumiu o lado de Mayorga. Imediatamente, o CR7 saiu atrás de um defensor de enorme calibre, David Chesnoff, um penalista que já trabalhou para celebridades como o ex-pugilista Mike Tyson e o ator Leonardo DiCaprio. A Juventus, velozmente, se colocou no apoio ao seu craque. Patrocinadores do CR7, como a Nike, com quem ele tem um contrato perpétuo, e a EA Sports, do jogo “Fifa 19”, que o exibe em sua capa, se pronunciaram com a cautela adequada. Obviamente, vão monitorar o caso. Nada, no entanto, capaz de levar Cristiano a perder R$ 5 bi, como anunciam, pomposa e tolamente, publicações daqui.
Kátia, uma das manas do CR7, a sua mamãe Dolores, e a Juventus, evidentemente, se aliaram na blindagem e na proteção do astro e familiar. Claro, não se esperava nada de diferente. Volto a elogiar, no entanto, a postura dos torcedores de Údine. Num ambiente, como o do futebol, de rivalidades extremadas, habitualmente se exacerbam as paixões, às vezes aos limites da inconsequência. Tanto a Udinese como a plateia do Frìuli, porém, ministraram uma aula de comportamento. Ninguém é condenável, por favor, até que se prove a sua culpa. A advogada Stovall, agora, detona a polícia de Las Vegas por incompetência e pelo suposto sumiço de “indícios” contra o CR7. Ora, o craque jamais negou o seu, digamos, acoplamento físico à Mayorga. Se houve ou não um estupro, o evento desaba na velha questão: acreditar ou não na palavra dela, ou aceitar a negativa dele.
PS: Não creio em nada que brote de uma "Teoria da Conspiração". O jornal "La Repùbblica", um dos mais respeitáveis do planeta, fala de um projeto sinistro do Real Madrid para destruir o CR7. O plano já teria se iniciado com a grotesca expulsão do craque na peleja contra o Valencia, pela Champions League, antes dos 30' (a Juve, mesmo com dez homens, venceu por 2 X 0). E a ressurreição do episõdio Mayorga representaria um segundo passo. Caso se interesse por mais informações, dê uma pesquisada por "La Repùbblica" na Internet.
Clique em “Compartilhar”, em “Tweetar”, ou deixe a sua opinião em “Comentários”. Muito obrigado. E um grande abraço!
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.