Numa aposta equivocada de Jorge Jesus, a triste derrota do Flamengo
Com o jogo equilibrado, o "mister" colocou Vitinho e Diego Ribas nas posições de De Arrascaeta e Éverton Ribeiro. Fatal prorrogação, Liverpool 1 X 0.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Em 120 edições do Campeonato da Inglaterra, nas 93 da velha The Football League e nas 27 da Premier League de agora, o Liverpool, fundado em 1892, levantou a taça em 18 ocasiões. Também ganhou a Champions da UEFA em seis de suas 65 versões. O Flamengo, datado de 1895, venceu 38 dos 118 campeonatos cariocas, dois dos 18 brasileiros de pontos corridos, além de 6 dentre outros 45 certames diversos que a CBF, a entidade que toca o Esporte Bretão no País, politicamente formalizou como nacionais. Ainda amealhou duas vezes a Libertadores do continente, hoje no aniversário número 60.
No dia 13 de Dezembro de 1981, numa outra competição extra-oficial, circunscrita aos melhores clubes da Europa e da América do Sul, e por isso batizada, apenas, de Copa Intercontinental, o Liverpool e o Flamengo diretamente se digladiaram pelo seu primeiro troféu universal, placar de 3 X 0 em favor dos cariocas. Em 2000, de todo modo, com o triunfo do Corinthians, a FIFA passou a organizar um Mundial de fato para as agremiações de todas as suas confederações afiliadas. Em 15 contendas, só brasileiros e europeus subiram ao topo do pódio. Já houve, contudo, times da África e da Ásia com a segunda colocação. Daí o epíteto, um Mundial de fato.
Para 2019, competição sediada pelo Qatar, os “Reds” e o “Urubu” atingiram a final, respectivamente, com vitórias sobre o Monterrey do México, por 2 X 1, e o Al-Hilal da Arábia Saudita, 3 X 1. A decisão, realizada neste sábado, 21 de Dezembro, no Khalifa Stadium de Doha, marcaria a estréia do Flamengo num Mundial de fato, a sua busca por um bi planetário. Para o Liverpool, poderia significar uma revanche tripla. Além daquela derrota de 1981, tinha tombado na Intercontinental de 1984, o Independiente da Argentina 1 X 0. Também no Mundial de fato, em 2005, tinha sofrido 1 X 0 do São Paulo. Poia se vingou pelo placar de 1 X 0, estreito, mas justo e digno do seu belíssimo trabalho.
Embora longe de atordoante, o clima do Qatar bem mais incomodou os “Reds” do que o brasileiros. Não pelos 20 graus da temperatura, confortável. Mas, pelos quase 75% de umidade do ar. Mudaram de cor as camisas vermelhas de seus atletas. Na etapa inicial, o Flamengo predominou na posse de bola, dois terços dos 45’. E nos chutes à meta do rival, 6 X 3. Todavia, logo que principiou o segundo, coube ao Liverpool o único lance de perigo iminente até então em todo o cotejo, a virada do alagoano Roberto Firmino que resvalou num poste do aflito arqueiro Diego Alves. Voltara dos vestiários com mais volume o elenco de Juergen Klopp. Na sua área técnica, numa das laterais do gramado, o adversário Jorge Jesus se descabelava. A previsão do triste tombo.
Valeu o momento de tensão para escancarar as ações da partida. As duas equipes passaram a intercalar situações de risco. Tornou-se claro que decidiria o resultado ou um lampejo de brilho ou uma distração infeliz. Daí, entre os 75 e os 85’, o “mister” Jorge Jesus apostou alto. Trocou De Arrascaeta, um dos seus super-pilares na temporada, por Vitinho, e trocou o capitão Éverton Ribeiro pelo seu amuleto de plantão, Diego Ribas, quase 35 de idade. Uma especulação do “mister”, inverter a grande especialidade de Klopp, a “Gegenpressing”, o contra-ataque do contra-ataque. Ao invés de espicaçar, aceitar o domínio territorial do inimigo e então fulminá-lo na velocidade.
Nem brilho e nem distração. Aos 92’, já nos acréscimos, Rafinha derrubou o senegalês Sadio Mané. Derrubou? Nada como o VAR para salvar o “Urubu”. Estabanadamente o mediador Abdulrahman Al Jassim, um qatarí, apontou a marca penal. Bateu a dúvida, dentro ou fora da área? O árbitro de vídeo aconselhou um exame mais profundo. E Al Jassim concluiu que nem a infração acontecera. Pé de Rafinha na pelota e não em Mané. Haveria a prorrogação. E, nos 30’ suplementares, a loteria entre a sorte e o azar. E a fortuna bafejou os “Reds” aos 98’, exatamente ao seu estilo, a rapidez, a profundidade, toque lateral de Mané a Firmino e a finalização implacável do alagoano, 1 X 0.
Infelizmente, para os seus fãs, e para aqueles brasileiros que sempre torcem pelos brasileiros nos desafios internacionais, as saídas de Éverton Ribeiro e de De Arrascaeta se demonstraram cruciais. Em instante algum os dois entrados, Vitinho e Diego Ribas, se provaram suficientes para o Flamengo reprisar, digamos, um minimozinho das suas exibições exuberantes na temporada. Na etapa derradeira da prorrogação o desespero tomou o lugar da categoria. O “Urubu” no aguardo de um milagre, como o da final da Libertadores, 2 X 1 no River Plate da Argentina, nos estertores do combate. Nada. O prélio de 1981, glorioso, continuará o único, por enquanto solitário, no currículo do Fla.
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