No seu centenário, o Sassuolo surpreende e brilha no "Calcio"
Nesta sexta-feira, dia 6 de Novembro, só empatou com a Udinese, o placar nulo de 0 X 0, mas se fixou no segundo lugar, apenas atrás do líder Milan.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Nesta sexta, dia 6 de Novembro, um clube habitualmente verde-preto, estranhamente uniformizado em azul-anil, de nome Sassuolo, apenas empatou com a Udinese por 1 X 1 mas se preservou, com 16 pontos em 21 possíveis, no segundo lugar da Série A do “Calcio” da Velha Bota. É, Sassuolo. Esse nome provém, quase certamente, do latino Saxum Solum, ou Saxolum, ou “A Terra das Pedras”. E a cidade assim batizada, pequenina, com 41.900 habitantes, fica num vale, aquele do Rio Secchia, de fato ladeado por imponentes colinas de rochedos aparentes, redondezas de Modena, na região da Emília, centro-norte da Itália. Não se conhece uma data exata de fundação. Sabe-se que, por ali, já existiam agrupamentos perto de 3.000 anos atrás.
Depois de 1200, a região pertenceu a castas aristocráticas que lá se fixaram com objetivos estratégicos ou políticos. Até que, nos entornos de 1861, época da proclamação da Unidade Italiana, uma comissão governativa, composição inusitada de conservadores e libertários, passou a criar as regras de uma emancipação. Expedicionários brasileiros participaram ativamente da sua tomada aos nazistas e aos fascistas, em 23 de Abril de 1945, a origem definitiva da sua formalização como cidade. Daí, aos poucos, Sassuolo começou a se industrializar. Terra riquíssima em argila de uma qualidade excepcional, lá se implantaram dezenas de produtoras de cerâmica, de peças de revestimento a lajotas, 80% da exportação italiana desses materiais.
Claro que o Futebol independe dessa história tão repleta de singularidades. E data de 17 de Julho de 1920 a ficha de afiliação da Unione Sportiva Sassuolo Calcio na FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio), a agremiação que impacta mesmos os seus “tifosi” mais otimistas pelas suas exibições no campeonato da Velha Bota da temporada de 2020/2021, com 9 tentos concedidos mas 18 realizados, a melhor ofensiva do certame até o momento. Sim, o mesmo Sassuolo que, neste seu centenário, pôde esquecer que até 2008, pererecava nas divisões de baixo até que, então, foi promovido à Série B, com um certo Massimiliano Allegri, aquele que seria "mister" da Juventus, como treinador. E que, depois, em 2013, com Eusebio Di Francesco no comando, subiu à Série A para lá se manter, altaneiramente, sem os riscos de um triste rebaixamento.
Em 2016/2017, antes de Di Francesco se deparar com um caminhão de dinheiro e se transferir à Roma, o Sassuolo conseguiu uma inédita primazia, sua classificação à Liga Europa. Parou na fase de grupos. De todo modo, logo em seu primeiro combate na UEFA obteve um maravilhoso e antológico triunfo, 3 X 0 no Athletic Bilbao da Espanha. Advieram três certames em que se situou nos meados da tabela, duas vezes o 11º lugar, numa ocasião o 8º posto e, agora sob Roberto De Zerbi, um ex-armador inteligente e muito bom nos tiros de distância, surpreende ao se juntar ao Milan líder, 16 pontos, e à Juventus, terceira colocada nos 12, como os três únicos invictos no certame.
Curiosamente, o Sassuolo não pertence a donos, pessoas, mas a uma espécie de sociedade anônima, a Mapei SpA, indústria de apoio à Construção Civil, nascida em Milão, 1937, com sete funcionários, e agora internacionalizada, modernizada pela melhor tecnologia de ponta, e já com cerca de 11.000 empregados. Marco Squinzi, um neto do fundador Rodolfo Squinzi, preside o Conselho Diretor e, por extensão, o Sassuolo, embora o clube disponha de um cartola remunerado, Carlo Rossi. Esportes à parte, a Mapei também patrocina a cultura e as artes, do celebrado Teatro Alla Scala ao Duomo e ao soberbo Museu de Ciência e de Tecnologia Leonardo Da Vinci, ambos em Milão.
Pelo seu tamanho, Sassuolo, a cidade, não comporta um estádio digno de Série A. Assim, o Sassuolo, o clube, faz as suas pugnas, como mandante, no antigo Stadio Giglio, de Reggio di Emilia, apenas 27,3 quilômetros ao Norte. Inaugurado em Abril de 1996, então co-propriedade da municipalidade e da Reggiana, que faliu em 2006, entrou na negociação dos prejuízos, e caiu no bolso dos Squinzi, que o revigoraram integralmente entre 2014 e 2015, até mesmo com a colocação de um tapete de grama sintética. Para os detratores, estaria nessa artificiosidade a explicação para a evolução do Sassuolo. Tolice.
Não basta um campo de 105m X 68m, hoje Mapei Stadium, com a capacidade de 21.525 espectadores, para tornar um elenco, digamos, quase anônimo, num contendor de fato. No percurso, os Squinzi e Carlo Rossi pacientemente se empenharam em investimentos na base e, quando contrataram De Zerbi em Junho de 2019 para um período de doze meses, entregaram uma mescla de atletas experientes e jovens promissores. O destaque maior é o atacante Francesco Caputo, já nos 33 de idade, carreira essencialmente desenhada no Bari, 26 tentos em 41 jogos desde o mesmo Junho de 2019, a quem inclusive Roberto Mancini recém-convocou para a sua “Squadra Azzurra”.
Contra a Udinese, que tinha meros 3 pontos e amargava a zona de queda, o elenco de De Zerbi, ironicamente, não se acomodou na friorama do Mapei. Dominou integralmente a posse de bola, cerca de 70%, desperdiçou cinco chances tranqüilas diante do arco de Musso mas empacou, 0 X 0. Foi nulo o vigoroso Caputo, 1m81 e 74kg, que já anotou 5 dos 18 gols do elenco. Assim como seus os coadjuvantes de talento. Como Domenico Berardi, 26, no clube desde 2012, com 83 tentos em 249 cotejos, o maior artilheiro da história do Sassuolo. E como o volante Filip Duricic, 28, sérvio, no clube desde 2018 e 10 tentos em 57 cotejos. Os dois haviam anotado, no torneio 6 gols, 3 cada.
Além os três “cannonieri”, o clube tem ótimos zagueiros provenientes do Brasil: Marlon, de 24, ex-Fluminense, da seleção Sub-23; Rogério, de 22, ex-Inter de Porto Alegre, da seleção Sub-20. E aos dois se acrescentam o precioso arqueiro Andrea Consigli, de 23, da “Azzurra” olímpica, e o primoroso volante Manuel Locatelli, de 22, titular da “Squadra” de Mancini, valor avaliado no correspondente a R$ 200 milhões. Sem dúvida, apenas graças a Locatelli a Mapei resgatará todos os investimentos que já efetuou. Quanto a Roberto De Zerbi, claro, claro, já reformou o seu contrato por outros 24 meses.
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