Não, não é apenas simbólico o título de um primeiro turno no Brasileirão
Bom para o Flamengo, desde o início do certame por pontos corridos, em 11 de 15 vezes o líder da metade também se transformou no campeão de fato
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Os fatos garantem. Para a História, a conquista do título de um primeiro turno do Campeonato Brasileiro de Futebol não vale basicamente nada além da simbólica posse do Troféu Osmar Santos, preciosa homenagem do Lance! ao antológico narrador. Estatisticamente, porém, existe um significado crucial em tal façanha. Desde que o certame se inaugurou, em 2004, com o formato dos pontos corridos, em 11 de 15 temporadas o time que terminou à frente, na sua metade inicial, na frente permaneceu, airosamente, até o seu final.
Assim aconteceu quatro vezes com o Corinthians (2005, 2011, 2015 e 2017), duas com São Paulo (2006 e 2007) e Cruzeiro (2013 e 2014), em uma ocasião com o Santos (2004), com o Fluminense (2010) e o Palmeiras (2016).
Onze a quatro. Em 2008, depois de arrebatar a taça, o Grêmio amargou a ascensão do São Paulo. Em 2009, o Internacional viu a sua liderança se esvair em favor do Flamengo. Em 2012, soçobrou o Atlético Mineiro e subiu o Fluminense. E, em 2018, desabou o São Paulo e o Palmeiras se locupletou.
Nesta tarde de sábado, dia 14 de Setembro, em um Maracanã praticamente repleto, 68.243 presentes, o Flamengo, que tinha 39 pontos em 54 possíveis, desafiou o Santos, que acumulava 37, pela consolidação do topo da tabela de classificação na semi-temporada de 2019. Além de escancarar uma vantagem de 5 pontos o clube da Gávea queria se apossar do comando de uma enorme possibilidade matemática. Não se despreza a circunstância de que, nos pontos corridos, o elenco vencedor do Troféu Osmar Santos manteve a primazia de galopar adiante dos outros em quase 75% do total dos torneios.
Placar do duelo: Flamengo 1 X 0 Santos. Um duelo que se desenvolveu empolgantemente desde o apito inaugural do catarinense Bráulio da Silva Machado, 40 de idade. Ambos os elencos programados ao ataque por dois xarás, o “Urubu” de Jorge Jesus, um português de 65 anos, e o “Peixe” de Jorge Sampaoli, um argentino de 59, prestes a ser pai de um menino, León, ele que já tem um casal de adultos, de um matrimônio anterior. O seu Santos, aliás, mesmo com menos de 2.000 torcedores no Maracanã, em nenhum momento se intimidou com a tonitruante barulheira dos majoritários do Fla.
As divididas sempre ríspidas e a atenção das retaguardas evitaram a eclosão de um tento até os 44’. Porém, quando saiu, o gol foi maravilhoso. Everton Ribeiro roubou uma pelota na sua intermediária e esticou até Gabigol, na linha divisória do gramado. O artilheiro destacado do certame, ex-Santos, atropelou até quase a entrada da grande área, deu um corte atordoante em Gustavo Henrique, percebeu que o arqueiro Éverson estava adiantado e arrematou, por cobertura, de canhota, ao velho estilo da “folha-seca”, a pelota que invade a meta, mansamente, juntinho à rede. O 16ª tento do Gabigol em 15 partidas, a média efetivamente maravilhosa de 1,07 por cotejo.
E não se alterou a postura dos xarás, nos derradeiros 45’ e nos seus acréscimos. Sempre divertido o contraste, nas respectivas laterais, entre os dois Jorges. A sobriedade do Jesus, apesar dos cabelos esvoaçantes, e a dramatização folclórica e teatral do Sampaoli. E o contraste no gramado. O “Peixe” capaz de pressionar, porém atabalhoadamente, e o “Urubu” a desferir investidas pontuais mas agudas, muito mais perigosas. Apelidado de “Mister” nos idos de carreira na Europa, ao se encerrar o jogo o Jorge do Fla ganhou da multidão, unânime, uma saudação inusitada no Brasil: “Olê, olé, olé Mister, Mister”. Nada como uma singela aula de civilidade no País do Futebol.
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