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Meio século depois, em dois livros, o encontro de dois amigos veteranos

No Jornalismo desde 1968, Pedro Cavalcanti e Napoleão Sabóia lançam obras hilariantes, sobre coisas de família na metrópole e no sertão

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Pedro Cavalcanti e Napoleão Sabóia, 2019, São Paulo/SP
Pedro Cavalcanti e Napoleão Sabóia, 2019, São Paulo/SP Pedro Cavalcanti e Napoleão Sabóia, 2019, São Paulo/SP

Diz um provérbio da Sicília dos meus ancestrais que a vida é feita de esquinas. Cerca de meio século atrás, no primeiro “angolo” da minha carreira profissional, nos exercícios de construção da equipe de redação da futura revista “Veja”, cruzei com Pedro Cavalcanti, diplomado em Economia e, como eu, diplomado em Arquitetura, na busca de um novo rumo. Deu certo e, mais depressa até do que nosso sonho fantasiava, estávamos ambos fixados na editoria de “Internacional”. Batucávamos os nossos textos na mesma baia de um sétimo andar e em mesas contíguas, e nos tornamos bem amigos, ainda que o destino nos encaminhasse a paragens diferentes e longínquas.

Os livros, lançados quase simultaneamente
Os livros, lançados quase simultaneamente Os livros, lançados quase simultaneamente

Então, eu basicamente cobria a política norte-americana, circunstância que me permitiu acompanhar a ascensão e a queda de um certo Richard Nixon (1913-1994). O Pedro havia morado na França e, além de cuidar de assuntos da Europa, também se tornou um especialista nos sucessivos golpes de Estado que assolavam a América Latina. Daí, em outra das esquinas, via Pedro e via Dorrit Harazim, a nossa superior imediata, conheci Napoleão Sabóia, que dividia as missões de correspondente do “Estadão” e de “stringer” da “Veja” em Paris e adjacências da França. O mais curioso dessa, digamos, triangulação acidental: nós três nos arvoraríamos a escritores, romancistas etcetera.

Numa outra coincidência monumental, por volta de 2011 o Pedro e eu, sem qualquer combinação, lançamos livros de nomes praticamente idênticos. Pedro, no seu hilariante “Em Nome do Pai”, trata da aventura de um especialista em inseminação artificial que troca o esperma de clientes pelo seu e acaba por produzir centenas de filhos. No meu caso, uma homenagem à palavra, o título apenas faz uma brincadeira com o clássico apelido do Dicionário. Agora, de novo as esquinas, eu subitamente deparo com a colega jornalista Camila Aranha, da assessoria da Desconcertos Editora, que acaba de lançar a novela “Tradição, Família & Assassinatos”, do Pedro, e a obra “O Senhor da Festa”, invenção do Napoleão – aliás, um maranhense como ela.

Avenida São Luiz, SP, cenário da trama de Pedro Cavalcanti
Avenida São Luiz, SP, cenário da trama de Pedro Cavalcanti Avenida São Luiz, SP, cenário da trama de Pedro Cavalcanti

Inevitável, inexorável que me batesse a idéia de perpetrar eu mesmo um “angolo” singelo, cá no meu espaço do R7, para comentar simultaneamente os dois trabalhos. Aliás, ambos são delirantemente engraçados, ambos se ancoram em histórias de estirpes. Na “Família” do Pedro, fulguram os Fontes, todos moradores do mesmo prédio na Avenida São Luiz do Velho Centro paulistano. Na do Napoleão, a turma dos Brenha Rayol, originários das margens do Rio Itapecuru, que nasce nos grotões do seu Estado e deságua ao sul da Ilha de São Luís. Até na escolha dos nomes dos seus personagens, burlescos, cômicos, folgazões, o Pedro e o Napoleão parecem ter combinado uma parceria que, na realidade, jamais aconteceu, eu posso testemunhar.

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Rio Itapecuru, MA, cenário da trama de Napoleão
Rio Itapecuru, MA, cenário da trama de Napoleão Rio Itapecuru, MA, cenário da trama de Napoleão

Dentre os Fontes, cujo avô-patriarca morre assassinado ao receber na cabeça um alentadérrimo Webster de 2.620 páginas, existem o Cris Tarja Preta e o Zé da TFP. Dentre os Brenha Rayol, o narrador Charles de Gaulle, o Charlô, e seus manos, a matrona Matilde, o Churchill, ou Chu, e o Wellington. Sem dizer que o Charlô aponta, como mestre e guardião do seu “bem falar”, um certo negro batizado de Ovídio Gramático. Enquanto os Fontes se atropelam à cata de uma talvez fortuna, os Brenha Rayol se espraiam e, após perambular, através da Europa agitada de 1968, à procura da Nova Ordem Sexual Igualitária e Depilada do Ocidente, o Charlô, um óbvio alter-ego de Napoleão, se esmera na re-costura das memórias que lhe sobraram. Permanecem dois jovens, eles, o Pedrão e o Napô, aos 78 e aos 82 anos de leveza e de ótimo humor.

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