Juventus 4 X 3 Napoli, e as muitas peripécias do calendário do Calcio
Num jogo incrível, logo na segunda rodada do certame, a octocampeã supera o seu maior rival numa peleja empolgante, repleta de surpresas
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Faz exatamente meio século que um computador decide os calendários da Série A do Calcio, o Futebol da Velha Bota. São tantas as variáveis a se analisarem que, até 1969, matemáticos e outros especialistas confabulavam durante três semanas a fim de se determinarem a ordem e as datas das partidas. Claro, então se utilizava um equipamento gigantesco, um GE de 6m X 6m e 2.500kg, e o procedimento demorava algumas horas. Hoje, tudo acontece graças a um prosaico laptop e a tabela fica pronta em minutos. De complicado, mesmo, só a programação do software indispensável.
Leva-se em conta o fato de haver equipes de uma mesma cidade, que mandam as suas pelejas num mesmo estádio. Também se impede que, numa rodada, se oponham times em ação, antes e depois, nas competições do continente, e ainda se evita a possibilidade de uma agremiação realizar, consecutivamente, dois prélios como mandante, ou como visitante. Enfim, não se repetem jogos na mesma jornada da temporada anterior. E a definição da tabela ocorre em público, em um auditório e com transmissão pela TV. Por isso calhou de Juventus X Napoli, o principal desafio da Série A da Bota nos últimos anos, cair neste 31 de Agosto, já na segunda rodada do torneio.
Octocampeã, a Juventus acumula títulos desde 2012. No mesmo interregno o Napoli foi o seu vice quatro vezes e ficou na terceira colocação em duas. Uma semana atrás, na jornada inicial, curiosamente, ambos viajaram, prova de que nem um computador soluciona todos os dilemas. E ambos venceram. Numa exibição medíocre, a “Velha Senhora” bateu o Parma, 1 X 0. Numa peleja empolgante, o “Burro” da Terra da Pizza superou a Fiorentina, 4 X 3. Agora, desabava por 0 X 3, brilhantemente se resgatou, 3 X 3, mas, aos 93’, concedeu uma “autorete” grotesca e acabou por amargar uma derrota - por 3 X 4.
Programado para o Allianz Stadium de Turim, vendidos absolutamente todos os seus 41.507 lugares, o combate deste sábado deveria confrontar dois treinadores de ótima história passada em ambas as equipes: Maurizio Sarri, no Napoli, de 2015 a 2018; Carlo Ancelotti, na Juve de 1999 a 2001. Todavia, ainda convalescente de uma pulmonite, Sarri cedeu a batuta a seu sub, Giovanni Martusciello. O detalhe explicativo, e punitivo: Sarri fuma quatro maços de cigarros ao dia. Fuma até onde o vício é proibido, nas laterais do campo, durante os seus cotejos, e abusadamente, diante das câmeras.
Impressionante: a “rete” do 1 X 0 aconteceu logo aos 15’, quando o Napoli predominava e num lance que envolveu dois brasileiros, um deles estreante na “Senhora”, Danilo. Mineiro de Bicas, 28 de idade, Danilo mal tinha acabado de substituir o lesionado De Sciglio quando acompanhou Douglas Costa num contra-ataque fulminante e, de bate-pronto, desfrutou um cruzamento baixo do companheiro. Daí, aos 18’, de novo através do flanco direito do rival, a “Zebra” galopou com Matuidi, que colocou Higuaín, um ex-Napoli, entre a marca do pênalti e a linha da pequena área. Higuaín entortou o atrapalhado Koulibaly e cravou os 2 X 0. Detalhe: a Juve não pretendia manter o argentino em seu elenco. E apenas segurou Higuaín por pressão da sua “tifoserìa”.
Não existiu o Napoli na etapa inicial. O time “biancoceleste” de Ancelotti, contudo, renasceu espetacularmente na derradeira. Os fãs da “Senhora” mal puderam apreciar a atuação do holandês Matthijs de Ligt, o central mais caro da História, contratado ao Ajax de Amsterdam pelo equivalente a R$ 360 milhões, substituto de Chiellini, lesionado no joelho destro e afastado da pelota por, talvez, cinco meses. Triste, terrível, aos 35 de idade.
Das tribunas, o “capitano” viu a Juve, tempestivamente, rebater os levantamentos inúteis do “Burro” sobre a área de Szcsesny, até que aos 62’, depois de outra combinação Matuidi & Douglas Costa pelo lado direito da defesa, patética, do Napoli, a bola rolou até Cristiano Ronaldo que arrematou, 3 X 0. O Napoli, todavia, ainda reagiria, espetacularmente. Aos 66’, na cobrança de uma infração, Mario Rui alçou, precisamente, para a cabeçada de Manolas. Imediatamente depois, aos 68’, Zielinski fugiu pela esquerda e encontrou Lozano livre – ironicamente, numa distração de De Ligt. A promessa de uma surra, em 120 segundos se transformou em um quase drama.
Imperdoável acomodação. “La palla” pune aquele que se satisfaz nos 3 X 0. Martusciello não percebeu que Mário Rui e Lozano, entrados no segundo tempo, exigiam uma atenção mais meticulosa. Pior, aos 76’, numa tentativa de amarrar o jogo, trocou Higuain por Dybala. Pois no lance subseqüente, mais uma bola no meio da zaga da Juve, e o esperto Di Lorenzo desfrutou um passe de Callejon numa cobrança de falta. Imperdoável, mesmo, dois tentos com a bola parada e falhas toscas da “Zebra”, 3 X 3. E a Juve se desarvorou. De todo modo, nos acréscimos, o incrível ao quádruplo ocorreu. Um alçamento de Pjanic, também na cobrança de uma falta, uma joelhada do pobre Koulibaly contra a sua própria meta, e o impacto do triunfo alvinegro, 4 X 3.
As duas esquadras se digladiaram, pela primeira vez, no dia 21 de Novembro de 1927. Na Terra da Pizza, em um campo hoje desaparecido, a Juventus bateu o Napoli, 3 X 1. A contenda deste sábado, pela Série A, foi a de número 147 entre a “Senhora” e o “Burro”. Agora, a Juve ostenta 69 triunfos a 31, com 219 gols a 160. E, no total de todos os cotejos, a vantagem está em 84 X 36, com 275 tentos a 195. A partir da temporada de 2011/12, quando iniciou o seu chorrilho de títulos, a “Zebra” alvinegra e os celestes do Napoli se enfrentaram em 21 ocasiões, uma bela folga da Juve, 13 vitórias a 4, com 44 tentos a 28. O resultado deste sábado promete alvitres divertidos para 2019/2020.
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