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Entenda, aqui, por que o futebol na Europa permanece uma bagunça

Antes de pensar nas suas copas, a UEFA pretende que os campeonatos terminem. Porém, como cada país tem os seus próprios problemas...

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

O vidro da porta principal da UEFA
O vidro da porta principal da UEFA O vidro da porta principal da UEFA

Uma bagunça total e irrestrita. De todos os personagens de quem tentei alguma declaração digna de colocar entre aspas, Giovanni Malagò, o presidente do CONI, o Comitê Olímpico da Velha Bota, teve a coragem sublime de não se esconder atrás de elipses e de explicitar o ululante e o óbvio: “Cada caso é um caso. Cada esporte é um esporte. Cada país é um país. Nesta situação de crise sanitária, só um insano pode generalizar qualquer coisa. Eu considero inviável, por exemplo, prometer datas ou recomeçar um torneio sem saber se poderá acabar. Portanto, calma.” Um ex-jogador de Futsal, integrante da Azzurra que disputou o Mundial da “Bola Pesada” aqui no Brasil/1986, aos 61 de idade e no topo do CONI desde 2013, ele se refere aos sucessivos entrechoques que, nesta última semana, antepuseram e ao mesmo tempo sobrepuseram a cartolagem do Futebol.

Giovanni Malagò
Giovanni Malagò Giovanni Malagò

Ao contrário do que ocorre cá no País, onde o COB não se mete nas questões da CBF, na Itália, em circunstâncias especiais, o CONI pode, e deve, exercer a sua ingerência na FIGC, a Federcalcio. Tanto que, desde os meados da década de 80, ao menos em cinco ocasiões foi chamado a colocar ordem na acefalia da entidade. Não se trata de um caso sequer assemelhado, o de agora. Todavia, a posição de Malagò, nítida, vale pelo enorme peso específico. Em particular porque a UEFA, depois de infindáveis debates por meio de videoconferências, chegou a uma conclusão que já recebeu interpretações conflitantes. Por um erro de tradução ou de interpretação, houve quem publicasse que a organizadora do Ludopédio na Europa teria autorizado o desfecho, já, dos torneios nacionais. Não. Ao contrário, limpa, lucidamente, a UEFA recomendou a lógica: “Que prevaleça o mérito esportivo e que se acabem os certames nacionais antes que se pense nas copas continentais”.

Liverpool, praticamente o campeão da Inglaterra
Liverpool, praticamente o campeão da Inglaterra Liverpool, praticamente o campeão da Inglaterra

À UEFA pouco ou nada importa se caberá ao Liverpool o título da Premier League ou se o PSG conquistará o topo do pódio na Ligue 1. Basicamente, apenas se preocupa em garantir que sejam legítimas as suas próximas edições de Champions e Europa League, e que não haja nenhuma contestação judicial, por nenhuma agremiação de suas 55 afiliadas, quanto aos clubes qualificados. Para entender o escopo da UEFA, basta ler atentamente o documento que resultou da união das 55, mais os representantes da ECA (Associação de Clubes da Europa), da ELs (a associação que congrega 36 das Ligas que regem os campeonatos da Europa e engloba cerca de 950 times) e até da Fifpro (a associação dos atletas profissionais), com o aval do seu próprio Departamento Médico, dirigido pelo alemão Tim Meyer.

Brugges, praticamente o campeão da Bélgica
Brugges, praticamente o campeão da Bélgica Brugges, praticamente o campeão da Bélgica

Por exemplo, a UEFA apenas aceitará uma interrupção, definitiva, de algum certame doméstico e classificatório, no caso de existir uma determinação oficial, de governo, nesse sentido. As ligas necessitarão envidar o máximo de esforços para que os torneios acabem no gramado. Mas, caso surja um obstáculo intransponível, qualquer que seja a razão, as confederações respectivas precisarão escolher, através de critérios exclusivamente esportivos, os clubes que participarão da CL e da EL Na Júpiter Pro-League da Bélgica, tudo bem se referendar o título do Brugges, com fartos 15 pontos à frente do Gent, a uma rodada do fim. E na Escócia, idem, o Celtic 13 pontos à frente do Rangers. Impossível discurit tais merecimentos.

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Nos Países Baixos, o impasse Ajax X AZ Alkmaar
Nos Países Baixos, o impasse Ajax X AZ Alkmaar Nos Países Baixos, o impasse Ajax X AZ Alkmaar

Na Eredivisie, ex-Holanda, todavia, ainda restavam nove jornadas e o Ajax e o AZ Alkmaar se equiparavam nos 56. Mas, sob ordem do governo, certame finito. Para os efeitos enciclopédicos simplesmente não houve o torneio, embora um asterisco de pé de página possa anunciar que o Ajax se colocou na primeira posição graças a um saldo de gols superior. Uma liderança que lhe assegurou entrar na Champions diretamente na fase de grupos.

Relegado à pré-etapa dos playoffs, contudo, o AZ promete recorrer. E também o Utrecht, que deveria lutar com o Feyenoord pela taça da KNBV Cup e uma vaga na EL. Como o rival, terceiro na Eredivisie, automaticamente ganhou lugar na EL, o Utrecht se considera o herdeiro natural da segunda vaga, que, pela tabela de pontos do campeonato, caiu no colo do Willem II.

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Vem aí uma batalha nos tribunais.

A fachada do prédio da Corte Suprema do Esporte
A fachada do prédio da Corte Suprema do Esporte A fachada do prédio da Corte Suprema do Esporte

Pelo seu documento, a UEFA se reserva o direito de vetar a inscrição, nas CL e na EL, de times que considerar, por qualquer razão, indignos da qualificação. Uma indicação, digamos, ambígua, mas pertinente, de que não aceitará as resoluções adotadas em juizados locais ou mesmo na corte maior dos esportes, a CAS. Na Itália, hoje, a doze “giornate” do final, a Juventus liderava, 63 pontos, um degrau à frente dos 62 da Lazio. Em termos de promoção à CL, perfeito, sem muita discussão, seriam aceitáveis os passaportes de ambas e também da Internazionale de Milão, com 54 pontos.

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Entretanto, e a quarta vaga do Calcio? Teriam chances a Atalanta, 48, e a Roma, 45. Só que a Roma já disputou 26 jogos e a Atalanta, 25. E a Europa League? Além da Roma, aparentemente tranqüilo o Napoli, com 39 pontos. Contudo, além do Milan, 36, sonham Hellas e Parma, 35. Só que o Milan já disputou 26 jogos e a Hellas e o Parma tem uma pugna atrasada. É, também na Bota, a paisagem se enche de nuvens escuras e ameaçadoras.

Andrea Agnelli
Andrea Agnelli Andrea Agnelli

O cauteloso Gabriele Gravina, presidente da Federcalcio, que havia marcado a data de 30 de Junho para o desfecho do campeonato da Bota, já empurrou a sua expectativa ao dia 2 de Agosto. Um mês inteirinho de distância. No olho do furacão, de todo modo, desponta uma boa notícia que, no debate do abre-não-abre, adormeceu despercebida. O Executivo da UEFA afortunadamente resolveu antecipar os pagamentos que compensam os clubes pela cessão dos seus principais, e caros, craques às respectivas seleções.

Um precioso tesouro equivalente a quase R$ 450 milhões, proporcionalmente distribuídos através de 676 agremiações das 55 afiliadas. Parece pouco. Mas, conforme assevera Andrea Agnelli, o bilionário presidente da Juventus/FIAT e da ECA, “admitamos, numa quadra de estiagem, uma preciosa injeção de liquidez em clubes severamente ameaçados pela falta de atividades”.

O Nou Camp do Barcelona
O Nou Camp do Barcelona O Nou Camp do Barcelona

Do turbilhão, ao menos despontou um rascunhozinho de calendário para o próximo semestre na Europa. O esboço pressupõe que, insolitamente, em mais de um século de Futebol profissional, o Velho Continente terá partidas em pleno Verão do Hemisfério Norte. Eis uma observação bem sarcástica de um interlocutor que prefere se ocultar no anonimato: “Desta vez, nada de praias mediterrâneas ou de visitas ao Caribe. Vamos nos bronzear, mesmo, em estádios, talvez sem platéia”. De acordo com o Executivo da UEFA, de fato, são duas as possibilidades: 1) Reinício das atividades em Maio/Junho, de campeonatos a copas, desfecho no começo de Agosto; 2) antes os campeonatos e daí as copas, com a decisão da Champions em 29/08.

Aleksander Ceferin, presidente da UEFA
Aleksander Ceferin, presidente da UEFA Aleksander Ceferin, presidente da UEFA

Em qualquer circunstância, a UEFA pretende conhecer, até 2 de Agosto, todos os times qualificados à CL e à EL de 2020/21. Quanto às copas em andamento, aquelas da temporada atual, na falta de datas o Comitê Executivo não descarta condensar as etapas de quartas e semifinais em um cotejo único, inclusive em campo neutro. Quem sabe, até mesmo, com todos os prélios em sede única, ao estilo dos mundiais entre seleções. Tudo determinado por sorteio. Na EL, restaria complementar os dois confrontos que ainda não tiveram sequer ida e volta: Internazionale X Getafe, Sevilla X Roma. E, na CL, os quatro que ainda não tiveram retorno: Chelsea 0 X 3 Bayern, Real Madrid 1 X 2 Manchester City, Lyon 1 X 0 Juventus, Napoli 1 X 1 Barcelona.

Uáu... Haja paciência e haja trabalheira...

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