Enfim, a Juventus é enea na Itália. Mas, com um futebol medíocre.
Ao bater a Sampdoria, por 2 a 0, garantiu o seu título de número 36, o nono consecutivo. Mas, sem nenhum mérito para a gestão de Maurizio Sarri.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Eneacampeonato. A expressão “campeonato” provém de “campeão”, que provém do latim “campio”, um derivado de “campus”, palavra que adveio do germânico “kamp” ou “kampjo”, de “campo de batalha”. Enea, por sua vez, vem de um termo do grego clássico, que exprime a noção de “nove”.
Todo esse prolegômeno significa que a Juventus Football Club, fundada em Turim, região do Piemonte, Itália, em 1º de Novembro de 1897, nesta quinta-feira, 23 de Julho de 2020, abiscoitou pela nona vez consecutiva o título do Campeonato Nacional do “Calcio” da Velha Bota. Aliás, ao bater a Sampdoria de Genova por 2 X 0, arrebatou o seu “scudetto” de número 36, precisamente a soma de sucessos da Internazionale e do Milan, ambos 18 cada. E seriam 38 se a “Velha Senhora”, penalizada pelo envolvimento em um escândalo robusto de designação de árbitros, não tivesse perdido aqueles de 2005 e de 2006.
A proeza se desenrolou em Turim num Allianz Stadium vazio mas capaz de ecoar a berraria dos 22 jogadores, os reservas e os integrantes das comissões técnicas. E também ficou ostensiva, logo nos movimentos iniciais, a tensão de Cristiano Ronaldo, que luta pela artilharia do torneio mas, pouco antes, na porfia Verona 1 X 5 Lazio, havia testemunhado Ciro Immobile marcar três tentos, alcançar os 34, e relegá-lo nos 30. Bem difícil, quase impossível, para o CR7, subir ao topo da relação dos “cannonieri” da temporada, tão impiedosa a retranca que o experiente Claudio Ranieri criou na sua “blucerchiata”.
E se repetiu o drama que aflige a “Senhora” de Maurizio Sarri: precaríssima a criatividade na armação do ataque e triste a impotência do CR7 e de Paulo Dybala na frente. O Dybala que, aos 38’, sentiu uma contusão e solicitou a sua substituição. Opção solitária na “panchina” da Juve: o outro argentino, o Pipita Higuaín. Num raro arremate, aos 43’, Bernardeschi fuzilou da meia-lua mas o arqueiro Audero, ex-juvenil da “bianconera”, espalmou. Feliz da “Senhora” que, aos 52’, ainda no primeiro tempo, tantos foram os acréscimos, na cobrança ensaiada de uma falta Pjanic tocou de lado até o CR7 que fulminou Audero.
Com 1 X 0 no placar, transcorreu mais leve o intervalo de Sarri e de seus pupilos. A Samp, todavia, não desistiu da possibilidade de estragar a festa. Sem pretensões, livre do risco do rebaixamento, ousadamente pressionou, como se a Juve fosse o clube menor. Existisse platéia no Allianz, a “Senhora” mereceria apupos. Os ridículos passes laterais e os chutões inconseqüentes se sucederam irritantemente. Aos 67’, de todo modo, surgiria a libertação. Da entrada da área o CR7 bateu cruzado e Audero colaborou, soltou a pelota diante de Bernardeschi, 2 X 0, incrível, enfim um seu gol depois de nove meses de jejum. Enea! Mas, infortúnio, um penal que Cristiano Ronaldo desperdiçou na trave, aos 88, simbolizaria toda a triste mediocridade da Gestão Sarri.
Sim, Que os fãs da Juve não se iludam com o enea. De todos os seus nove lauréis em sequência, este, de agora, essencialmente se caracterizou pelo pior, pelo negativo. Antes de superar a Samp, a “Zebra” só havia vencido uma das suas cinco últimas partidas. E na sua hibernação engoliu 12 dos 38 tentos que cedeu no certame inteiro. A causa básica? A contusão que deixou o capitão Chiellini longe da pelota, durante 32 “giornate”, e a aposentadoria de Andrea Barzagli, desmontaram o esquema “BBC” e a melhor retaguarda da Bota desde 2011. Graças ao “BBC” o rudimentar Bonucci podia se dispor atrás da bequeira de três zagueiros e não se expor tanto nas saídas de bola.
No desenrolar do octo, de 2011 a 2019, em três vezes sob Antonio Conte, hoje na Inter, cinco sob Massimiliano Allegri, este numa fase sabática, a Juve atuou fundamentalmente no 3-5-1-2, com dois alas-apoiadores, e ainda podia recorrer á garra e à ousadia do croata Mario Mandzukic que, em 162 jogos, anotou 43 “reti” e participou de 20 assistências. E não se responsabilize somente Maurizio Sarri pela precariedade do desempenho. É Fabio Paràtici, 48 de idade, ex-volante de contenção, um mastim de meio-campo que se tornou cartola na Samp, desde 2010 na “Senhora”, promovido a Diretor de Futebol em 2013, o homem a se acusar. Pois ele trata o seu novo ofício como agia nos seus tempos de atleta: sem sutilezas, aos trambolhões e aos pontapés.
Verdade que coube a Paràtici tentar uma reconstrução da defesa com a contratação do neerlandês Matthijs De Ligt, de fato o melhor da Europa em relação à sua geração, a dos nascidos em 1999, e do turco Demiral, da turma de 1998. Verdade que Paràtici, com um denodo admirável, convenceu o CR7 a trocar Madrid e o Real pela Juve e por Turim. De Ligt, no entanto, mal pôde se entrosar com o sempre ausente Chiellini. E Demiral, lesionado, só disputou cinco pelejas. Bem mais desastrosamente ainda, Paràtici, através de muitos empréstimos e, até, de transferências em definitivo, dilapidou as categorias de base da “Zebra”, particularmente da sua intermediária à sua ofensiva.
Consequência: Sarri, que não conseguira montar um time eficiente com um elenco cheio, desembarcou na reta final da “stagione” quase sem banco de reservas. E dizer que Paràtici, cujo contrato acabará em Julho de 2022, recebe o equivalente a um milhão de reais ao mês, quatro vezes mais do que o vice-presidente Pavel Nedved. Uma ave de linda plumagem nas hostes juventinas me disse que Sarri apenas permanecerá no cargo se a “Senhora” suplantar o Lyon da França, dia 7 de Agosto, em Turim, na volta das quartas-de-final da Champions League. Na ida, deu Lyon por 1 X 0. Depois, bem, depois se verá, inclusive quanto à sobrevivência do próprio Paràtici. Consta que o “capo di tutti capi” Andrea Agnelli já não agüenta mais a arrogância do subalterno.
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