E o River Plate assina o capítulo de 2018 na Libertadores de América
Com um triunfo por 3 X 1, na prorrogação de Madrid, os "Milionários" batem o Boca e vão em busca do título do Mundial da FIFA nos Emirados Árabes
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Nas 57 edições anteriores da Copa Libertadores, o Boca Juniors e o River Plate, esses dois inimigos inconciliáveis de Buenos Aires, se defrontaram em quatro ocasiões. Os “Xeneizes” da Bombonera suplantaram os “Milionarios“ de Avellaneda, pacificamente, em duas competições. Nas outras, como a de agora, a quinta na antologia gloriosa da batalha pelo título continental, se multiplicaram as patuscadas. A de agora, convenhamos, insólita, e imbatível. Tanto que coube à Europa abrigar o cotejo que concedeu o título
Em 1978, o desafio aconteceu durante a fase semifinal e o Boca, com 1 X 1 e 1 X 0, se promoveu à decisão diante do Deportivo Cali, da Colombia, de quem ganharia por 0 X 0 e 4 X 0. Em 2000, nas quartas, por 1 X 2 e 3 X 0, de novo os “Xenezes” eliminaram os “Milionários”. Daí, bateriam o América do México, 4 X 1 e 1 X 3, e então, depois de 2 X 2 em Buenos Aires e 0 X 0 no tempo normal do prélio no Brasil, atropelariam o Palmeiras no bingo dos penais, 4 X 2.
As disputas seguintes, no entanto, se caracterizariam por entreveros inolvidáveis. Na semifinal de 2004, depois de ganhar em casa por 1 X 0 e de cair como visitante, 1 X 2, o Boca levou nos penais, 5 X 4, com direito a pancadaria provocada por seu avante Carlitos Tevez, que imitou uma galinha diante dos rivais. Daí, inesperadamente, impactantemente, cantaria de garnizé o Once Caldas da Colômbia, 0 X 0 e 1 X 1, 2 X 0 nos penais.
O duelo mais retumbante dos quatro do passado ocorreu na etapa das oitavas-de-final de 2015. Os “Milionarios” venceram em Avellaneda por 1 X 0 e, na Bombonera, se preservavam na retranca quando, no retorno do intervalo, vândalos “Xeneizes” perfuraram o plástico do corredor que liga os vestiários ao gramado e, através da abertura, empestearam os atletas do visitante com gás de pimenta. Claro, se interrompeu aquele jogo, o Boca receberia uma punição severa da Conmebol e o River pôde rumar até a conquista do título, os resultados de 0 X 0 e 3 X 0 com o Tigres do México.
Principiou placidamente a decisão de 2018. Aliás, pela primeira vez, na História da Libertadores, decisão direta entre os inimigos inconciliáveis de Buenos Aires. Além dos empurrões de praxe, não houve traumas na peleja de ida na Bombonera, placar de 2 X 2: Ábila/Boca aos 34’, Pratto/River aos 35, Benedetto/Boca aos 45 e Izquierdoz/ River aos 61. A pugna de volta em Avellaneda, todavia, nem sequer começaria. Bandos de imbecis apedrejaram o ônibus que conduzia, a Avellaneda, a assustada equipe do Boca .
Com o estádio superlotado, torcida única, 85.321 pessoas presentes, a Conmebol tentou adiar por algumas horas o seu desenrolar. O Boca, todavia, se recusou a jogar. Não topou sequer o adiamento de uma semana. A solução de compromisso: aceitar o convite do Real Madrid para que a contenda se desenvolvesse no seu templo sagrado, o Santiago Bernabéu.
Fundados, respectivamente, em 1901 e em 1905, o River e o Boca inauguraram a sua rivalidade em 24 de Agosto de 1913, sucesso dos “Milionários” por 2 X 1. No total, incluído este combate de Madrid, se digladiaram em 370 contendas, vantagem dos “Xeneizes”, 133 triunfos a 123, com 484 tentos a 448. Como na Libertadores não existe o critério do gol qualificado, aquele que se conta em dobro no caso de uma igualdade em pontos, os dois treinadores, Guillermo Schelotto (45, Boca), e Marcelo Gallardo, (42, River), ofensivistas, evidentemente precisariam lançar os seus pupilos ao ataque. Porém, o ostensivo nervosismo impediu.
Formidável coincidência. Nos seus idos de atletas, jamais vestiram a camisa de um mesmo clube. Ambos, todavia, participaram da seleção platina que arrebatou a medalha de ouro no Futebol dos Jogos Pan-Americanos de 1995, em Mar del Plata, na sua pátria. Schelotto era o reserva de Gallardo, o artilheiro do torneio com 6 tentos. Suspenso, Gallardo cedeu o seu posto, na lateral, ao auxiliar Matias Biscay. E sofreu bastante com a pressão do adversário. O Boca, menos tenso, mandou na etapa inicial. Contudo, só abriu o resultado aos 45’, numa recuperação de bola em sua retaguarda e no lindo passe em profundidade de Nández a Benedetto.
Sobrariam outros 45’, mais os acréscimos de praxe, para a recuperação, quem sabe a prorrogação, e os penais. De fato o River melhorou. Mas, esterilmente. Reclamou de uma falta do arqueiro Andrada em Pratto, aos 55’, que o árbitro Andrés Cunha, do Uruguai, não apontou. Pratto, contudo, aos 67’desfrutaria uma triangulação espetacular com Fernández e Palácios, 1 X 1, alívio. E a possibilidade dos suplementares. Um acaso definiria a competição.
Pois logo aos 92’, numa imprevidência, o volante Barrios provocou o seu segundo cartão amarelo, viu o vermelho, e limitou os “Xeneizes” a dez homens. Desafortunados, ao invés de se esmerarem nas tramas, os “Milionários” exageram nos chutes à distância e absolutamente sem pontaria. Até que, aos 108’, Quinteros acertou um petardo brutal, fantástico, no ângulo da meta de Andrada, desafogo, River 2 X 1.
O arqueiro, aliás, abandonaria a sua meta na procura da igualdade. E foi com a meta vazia do Boca que, aos 120’, Pity Martinez faria 3 X 1 em favor dos “Milionários”. O River levou a sua quarta Libertadores. E também a honra de representar o Futebol do seu Continente, a América do Sul, no Mundial da FIFA, já nos próximos dias, de 12 a 22, nos Emirados Árabes.
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