E enfim o Golden State Warriors merece se considerar 'Dinastia'
Um placar de 103 X 90 sobre os Celtics, dentro de Boston, 4 X 2 nas 'Finals' da NBA, e uma história maravilhosa de regeneração de um elenco que, por duas temporadas. só amargou azares e infortúnios
Silvio Lancellotti|Do R7
Nos esportes norte-americanos se batiza de “Dinasty”, a “Dinastia”, a geração dos atletas que acumulam títulos basicamente em sequência na sua modalidade. Na NBA do Basquete, por exemplo, implantaram uma “Dinastia” os Boston Celtics (de Bill Russell e Larry Bird, dezessete triunfos e três vices em 31 certames, de 1957 a 1987), os Los Angeles Lakers de Kobe Bryant (também dezessete, cinco ouros e duas pratas em onze anos, de 2000 a 2010), e os Chicago Bulls (de Michael Jordan, seis sucessos em oito torneios, de 1991 a 1998). Elencos que se eternizaram. Como o do Golden State Warriors de San Francisco, Califórnia – que nesta noite de 16 de Junho de 2022, na casa dos adversários, derrotaram os Celtics por 103 X 90 e com 4 X 2 nas “Finals”, abiscoitaram com garbo o título da temporada.
Em 2015, sob o treinador Steve Kerr, um dos craques menos celebrados dos Bulls de Michael Jordan, a equipe dos Warriors inaugurou uma coleção de triunfos que lhe propiciaria vencer cinco troféus consecutivos na Divisão do Pacífico, outros cinco na Conferência Oeste e três nas “Finals” da NBA. Na temporada de 2018/2019, já parecia bem engatilhada a conquista do tetra e do seu direito de se chamar “Dinastia” quando os Warriors se emaranharam numa sucessão impensável de infortúnios. Favoritos diante dos Raptors de Toronto, se desfalcaram do super-cestinha Steph Curry (um tornozelo torcido e um dedo destroncado) e dos seus dois principais parceiros, Klay Thompson (um estiramento de coxa e joelho torcido) e Kevin Durant (um tendão-de-Aquiles rompido).
Um sonho frustrado que inclusive provocou as lágrimas do habitualmente controlado Bob Myers, “manager” dos Warriors. Incrível perder dos Raptors, que nunca, antes, tinham levantado um troféu nas “Finals”. Pior, tudo isso dentro da sua casa na época, a Oracle Arena de Oakland, cidade irmã de San Francisco, dela separada por uma baía sobre a qual paira uma ponte de 5.920m de comprimento. Tristeza múltipla: os Warriors não mais se apresentariam em Oakland. Já estavam com nova sede programada para o Chase Center, do outro lado da baía. E Myers afirmou, numa frase, o que poderia se provar uma previsão ou seu oposto, uma maldição: “Agora veremos se somos apenas um time capaz de ganhar alguns títulos ou, melhor, capaz de se levantar do chão, voltar ao topo e lá permanecer”.
De 2019 aos meados de 2021 Steve Kerr e seus Warriors se obrigaram a suportar as agruras de um drama que ameaçou não chegar a um desfecho saudável. Em Julho daquele ano, mesmo contundido, e sem deixar saudades na maioria dos colegas de elenco que o consideravam um desagregador, Durant se transferiu aos Nets de Brooklyn. Em Outubro, Steph Curry sofreu uma fratura na sua mão esquerda. Adveio a Covid-19, que limou grande parte da temporada, e os Warriors optaram por aplicar o seu tempo e o seu dinheiro no desenvolvimento de jovens promessas. Daí, em Novembro de 2020, quando voltava aos treinos com bola, Klay Thompson lastimou o rompimento do seu tendão-de-Aquiles no tornozelo direito. Atravessaria uma segunda temporada sem pisar numa quadra.
Nada de “Dinastia”. Uma outra palavra passou a flagelar a torcida e a pererecar na mídia: “Decadência”. De fato, efetivamente, ao invés dos números luminosos, estupendos, da “Regular Season” de 2015/2016, quando obtiveram 73 triunfos em 82 prélios, os Warriors despencaram na tabela: em 2019/2020, num total bem mais enxuto de 65 cotejos, meros 15 sucessos. O investimento nas novas aquisições, entretanto, logo se demonstraria providencial. Caso de Jordan Poole, classe de 1999, selecionado de número 28 no “Draft” de 2019; do congolês Jonathan Kuminga, classe de 2002, número 7 no “Draft” de 2021; e também de Andrew Wiggins, um tiquinho mais velho, 27 de idade, muito mal utilizado nos quase nada competitivos Timberwolves de Minnesota. Valeram os ensinamentos de Kerr.
Nada de maldição, sim. E Myers se aliviaria. Mesmo com diversos solavancos no percurso, os Warriors, apelidados de “Dubs”, o diminutivo para “Double Vs” ou “Dáblius”, realizaram a terceira melhor performance na Conferência Oeste, 53 vitórias em 82 pelejas. Nos Playoffs, em séries de sete jogos, despacharam os Denver Nuggets por 4 X 1, os Memphis Grizzlies por 4 X 2, os Dallas Mavericks por 4 X 1, e alcançaram as “Finals” contra os Boston Celtics. Nada mais adequado para a celebração do 75º aniversário da NBA do que um duelo entre dois de seus fundadores. Os Warriors, aliás, haviam amealhado o título inaugural, em 1947, quando se alojavam na Philadelphia e bateram os extintos Stags de Chicago, 4 X 1. Contra os Celtics, só uma vez tinham se defrontado, em 1964, com o resultado de Boston 4 X 1.
Impressionou, nestes Warriors de agora, a capacidade de regeneração. Habitualmente dependentes das tentativas de três pontos dos “Splash Brothers”, ou Steph Curry e Klay Thompson, exibiram, pugna a pugna, uma variação primorosa de arremessadores: além de Jordan Poole e de Andrew Wiggins, basicamente do nada despontaram os talentos de Gary Payton II e de Otto Porter Jr. O furioso, determinante Draymond Green, precisou de suporte físico na marcação de portentos dos rivais? Fulguraram Wiggins e Jonathan Kuminga, e até sobressaiu, enfim re-equilibrado, o irregular Kevon Looney, na melhor temporada de sua carreira. Os Celtics se aproximaram do título 18 que os colocaria um à frente dos Lakers na História da NBA. Os Warriors, entretanto, somaram 4 X 2 na série e alcançaram sete taças no total do currículo, quatro desde 2015. Melhor, com as suas sete assumiram a terceira posição no ranking, adiante das seis dos Bulls. Maravilhosos “Dubs” de Curry e Thompson e Kerr, sim, perfeitamente podem dizer, orgulhosissimamente: somos “Dinastia”.
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