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"Dois Cigarros", a estreia deliciosa de Flavio Gomes no romance

Jornalista desde meados da década de 80, especialista em F1 e torcedor da Portuguesa, ele encanta e diverte com o seu incrível domínio do idioma

Silvio Lancellotti|Sílvio Lancellotti

Flavio Gomes e o romance de estreia
Flavio Gomes e o romance de estreia Flavio Gomes e o romance de estreia

Conheci Flavio Gomes nos meados da década de 80, ele um jovem e agitado repórter na “Folha de S. Paulo”, tão competente que, em 1990, aos 25 de idade, já era o seu Editor de Esportes. Quando a “Folha”, na Copa da Itália, me designou como um dos enviados à Bota, o Flavio me concedeu uma liberdade então inusitada na mídia e me propiciou realizar a melhor cobertura da minha carreira profissional, eu que já ultrapassei o meio século.

Com Michael Schumacher, nos idos do apogeu do grande campeão da F1
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Depois eu me tornei admirador do seu talento como um especialista em automobilismo e, paralelamente, ainda, um colecionador de carros estranhos, do Lada ao DKW, nos quais me dava caronas via caminhos tortuosíssimos. Voltamos a trabalhar juntos na ESPN e só posso afirmar que, também como apresentador e comentarista, o Flavio se destacou pelo ativismo, pela polêmica. Aliás, trocou a ESPN pela Fox depois da confusão que provocou no Twitter ao detonar a arbitragem tragicômica de um prélio entre a sua querida Portuguesa, a Lusa, e o Grêmio de Porto Alegre.

Sempre brincalhão, vestido de Pokemon, ao vivo, na TV
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Em 2005, lançou “O Boto do Reno” (Letradelta), seleta deliciosa de crônicas das suas andanças pela Fórmula 1. Mesclas de graça e ironia, de sofisticação e singeleza, os seus textos sempre me encantaram. Jamais passou pela minha cabeça, no entanto, que o Flavio um dia ousaria enveredar pelo romance, e que aquele de estreia, “Dois Cigarros” (Gulliver), me surpreenderia de maneira tão prazerosa. Devorei as suas 143 páginas em somente duas noites. Ri. Eventualmente gargalhei. E me comovi, até mesmo me emocionei com as idas e vindas dos seus personagens misteriosos, um talvez arquiteto que herda um prostíbulo, uma violoncelista que talvez também seja uma terrorista, ambos em peripécias através de diversas cidades, de automóvel, trem, bicicleta, personagens que não se sabe como se apaixonaram e se desapegaram.

Com os filhos Pedro e Yuri, num prélio da sua Lusa
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Claro que “Dois Cigarros” ostenta um enredo básico. O seu enredo, contudo, não interessa quando mais vale a escolha das palavras, a estruturação das frases, às vezes curtas e em outras a nadar em parágrafos caudalosos. Frases magistrais como esta, do rapaz em relação à moça: “Queria que você não terminasse nunca”. Se posso resumir numa sentença, “Dois Cigarros” transcorre como se o Flavio Gomes conversasse com ele próprio, a redigir um pensamento e, daí, a comentá-lo, ora a favor e ora contra, num jogo constante de surpresas e impactos que impedem a leitura de se paralisar.

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Ele tem o hábito saudável e adorável de gozar o seu próprio tamanho. Pois eu, que sou um tico mais alto, ahn, meio palmo, aqui determino: sim, saibam todos, quando crescer eu quero escrever como o Flavio Gomes.

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