As coincidências, a ascensão e o desabamento de Mano Menezes
Em 117 dias, o treinador perdeu o seu emprego em times de origem italiana, Cruzeiro e Palmeiras, e logo depois de derrotas para o mesmo Flamengo
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti
Entre 7 de Agosto e 1º de Dezembro deste ano de 2019, num intervalo insignificante de 117 dias, Luiz Antônio Venker Menezes, gaúcho de Passo do Sobrado, nascido em 11 de Junho de 1962, apelidado Mano, conseguiu o milagre de perder o seu emprego duas vezes e em clubes que, ironicamente, despontaram no Futebol do País com um mesmo nome, Palestra Itália. Primeiro, o Cruzeiro de Belo Horizonte. E, agora, o Palmeiras da Paulicéia.
Diplomado em Educação Física e um boleiro meramente amador, nos seus idos de peladeiro ele só não atuou como arqueiro. Versátil, de todo modo, acumulou experiências que o transformariam num treinador eficaz e, já em 2004, conduziu o pequenino 15 de Novembro de Campo Bom, cidade do Vale do Rio dos Sinos, a uma das semifinais da Copa do Brasil. Ficou um tempo no Caxias e logo atraiu as atenções do Grêmio. E lá, em 2005, arrebatou o título da Série B do nacional. No estadual do Rio Grande levou o bi de 2005/06. Daí, em 2 de Dezembro de 2007, com o “Mosqueteiro” do Sul, na última jornada do Brasileiro de então se igualou ao Corinthians, também “Mosqueteiro, 1 X 1, num prélio que representou a queda do inimigo à segunda divisão mas sem o Grêmio desfrutar o resultado, que lhe custou a sua vaga na Libertadores.
Seria exatamente no Corinthians o seu próximo encargo, em 2008, com a volta à Série A. Em 2009, arrebataria o título estadual, invicto. Também abiscoitaria o troféu da Copa do Brasil. Em 2010, com a eliminação da seleção de Dunga na Copa da África do Sul, assumiu o sonhado posto de comandante do time “Canarinho”. E se iniciou, ali, uma sequência de decepções. Apesar da convocação de jovens promissores como um certo Neymar, o fracasso na Copa América/2011 e na Olimpíada de Londres/2012. Uma passagem patética pelo Flamengo. Outra, medíocre, pelo Corinthians. Uma experiência infeliz no Shandong-Luneng da China. E, apenas em 26 de Julho de 2016, ele retomaria a rota da alegria ao acertar com o Cruzeiro uma razoável durabilidade.
Pela “Raposa” de BH, Mano Menezes acumulou títulos na Copa do Brasil, em 2017 e 2018, e no estadual, 2018 e 2019. Na temporada atual, porém, começou a degringolar em 27 de Abril quando o Cruzeiro perdeu do Flamengo, 1 X 3, e ele invadiu a história do certame nacional através da porta dos fundos: aos 81’, com o placar ainda em 1 X 2, Mano viu o árbitro Anderson Daronco lhe mostrar um cartão amarelo, um episódio inédito – antes, as regras do Ludopédio não pressupunham tal tipo de punição. Mano já não detinha o controle do elenco. Desabaria de vez ao sucumbir ao Internacional de Porto Alegre, no Mineirão, 0 X 1, nas semis da Copa do Brasil. Fôra o treinador mais antigo em atividade dentre todos os vinte da Série A.
De todo modo, não ficou no vácuo. E, em 3 de Setembro, firmou contrato com o Palmeiras até o final de 2021. No lugar de Luiz Felipe Scolari, outro gaúcho, este de Passo Fundo. Felipão havia se esboroado exatamente depois de o “Verdão” apanhar do Flamengo, 0 X 3, no Maracanã. A vitória colocou o “Urubu” no patamar dos 35 pontos e o Palmeiras ficou nos 33. Com Mano, o “Verdão” ganhou quatro cotejos sucessivos e preservou aquela diferença. Nas dez jornadas seguintes, porém, o time de Jorge Jesus reuniu oito triunfos e dois empates enquanto o de Mano estacou: apenas seis triunfos, três empates e uma derrota. Pois é. Já começavam a definhar as suas expectativas.
Bem pior, nas cinco pugnas mais recentes, o Flamengo amealhou 13 pontos contra ridículos dois do Palmeiras. O “Urubu” estraçalhou uma tonelada de recordes e, duas rodadas antes de o Brasileiro terminar, se delicia na cota dos 87 pontos. O “Verdão”, 68, desmoronou até abaixo do Santos, 71. Claro, se tornou absolutamente impossível, para a diretoria do “Verdão”, resistir à pressão dos seus torcedores e dos sub-cartolas de plantão. Plantel repleto de craques supostos, excesso de vaidosos, estilo de jogo envelhecido, inúmeros fricotes e quase nenhuma energia. Curiosidade e ironia: se Mano Menezes, em menos de seis meses, perdeu os dois excelentes empregos que tinha em clubes de sangue italiano, coube a um lusitano, Jorge Jesus, derrubar do Palmeiras, basicamente no mesmo intervalo, a ele e ao Felipão.
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