Adeus, Holanda. Agora a nação dos diques vai se chamar Nederlândia!
Numa decisão oficial, o governo de lá resolveu acabar com a nomenclatura antiga. Agora, vale o nome "Países Paixos". No seu idioma, "Nederland".
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Nos meados da década de 80, quando comecei a escrever, na “Folha”, sobre o Futebol no Mundo, apenas desejoso de não repetir diversas vezes num mesmo texto a palavra “holandês”, optei pela brincadeira de substituí-la, sempre que viável, por “nederlandês”. Era como “Netherland”, afinal, que a FIFA, entidade que cuida do Ludopédio, e o Comitê Olímpico, consideravam a nação aqui no Brasil essencialmente celebrizada como Holanda.
O mesmo poderoso rotativo abrigava uma coluna sobre a Língua Portuguesa, séria porém repleta de ensinamentos práticos e muito divertidos, assinada por Pasquale Cipro Neto, carinhosamente apelidado de Professor Pasquale. E eis que em certa ocasião o Professor me esculhambou, no próprio diário e também num então concorridíssimo programa da Rede Cultura de TV, sob a alegação de que eu era um inventor desabusado de vocábulos.

Sucedeu um debate público, com fãs de ambos os lados, e um dia o Pasquale me entrevistou e até se convenceu de que o meu esforço em não repetir os termos tinha lá a sua utilidade. Inclusive nos tornamos amigos. Passaram-se os anos e, neste exato princípio de 2020, o próprio governo da, digamos, Holanda, acaba de determinar que em todos os seus documentos oficiais a sua nação, de agora em diante, será tratada como os “Países Baixos”.
Há uma lógica geográfica e política na decisão. Holanda é apenas uma parte dos tais “Países Baixos”. A Holanda do Norte, capital Amsterdam, e a Holanda do Sul, capital Roterdam, são meras duas das doze províncias da nação. E, no seu idioma basilar, o Frísio, a nação, uma monarquia parlamentar, se chama Nederland. Neder para “baixo” e Land para “terra” ou para “pátria. Baixo por se localizar numa planura absurda e com trechos em depressão: os de Nieuwerkerk aan den Ijssel, junto a Roterdam, pairam quase sete metros inferiormente ao nível do oceano.

Tal peculiaridade, claro, redundou em Nederland, ou em “Paesi Bassi”, como se diz no idioma italiano. Uma nação pequenina, 41.528km2, equivalente à soma de Alagoas e Sergipe, e 17 milhões de habitantes, a população apenas menor que as de São Paulo, Minas ou o Rio de Janeiro. E uma nação de população pujante, que foi capaz de rodear o seu território com diques destinados a impedir a invasão pelas águas do mar. Merece respeito a, sim, Nederlândia, principalmente na sua decisão. Cada qual tem o direito de ser conhecido como prefere. Portanto, sinto bastante, adeus, Holanda.
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