Cuiabá...
Algo bem diferente é escrever sobre os elefantes brancos que a Copa do Mundo deixou.
E outra é ver na prática o desperdício.
Acabo de participar do I Seminário Nacional da Crônica Esportiva, aqui em Cuiabá. Debatemos por seis horas o futebol do Mato Grosso. E basta sair do eixo Rio-São Paulo para perceber a incrível dificuldade para o esporte sobreviver nestes tempos de crise.
O sentimento que impera para alguém que não conhecia a Arena Pantanal, como eu, foi de revolta. Na Copa do Mundo, governantes garantiam que o estádio daria, no mínimo, R$ 25 milhões em receitas. Dinheiro que entusiasmaria empresas para administrar a obra de R$ 670 milhões.
Mentira deslavada. Arena está é acumulando prejuízo de R$ 4 milhões ao ano. Não consegue gerar receita. A média de torcedores no Campeonato Matogrossense em 2017 foi de 766 pessoas. Pouco mais de 35 mil pessoas em 46 partidas. A capacidade do estádio é de 43 mil torcedores.
Ela está com vários problemas de infiltrações. Seus telões e sistema de som não funcionam. Abandonada, à noite estava se transformando em local de reunião de usuários de crack, mendigos, pivetes assaltantes. Só depois de muitas denúncias, a PM montou um posto no local, o que não significa segurança, pelo contrário. Há muito medo de quem precisa passar pelas imediações da arena, após o sol se por.
Por problemas no encanamento do estádio, segue comum a falta de água para os jogadores locais tomarem banho, após os jogos. Os clubes querem fugir da Arena Pantanal. Sabem que é prejuízo certo atuar no moderno e caríssimo estádio.
O estádio, terminado às pressas, não tem estrutura para shows.
Para amenizar as críticas, foi improvisada uma escola no estádio.
Mas a manobra não engana ninguém.
A obra foi de uma irresponsabilidade sem tamanho.
Para completar o nefasto quadro, há os Centros de Treinamentos. Sim, seriam dois. Um no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Barra do Pari (em Várzea Grande, cidade da região metropolitana da capital).
Juntos custaram cerca de R$ 50 milhões. Mais dinheiro público. Eles não ficaram prontos para a Copa. Faltam cerca de 10% para estarem concluídos. E não foram finalizados ainda, quatro anos depois do Mundial.
Pior. Foram saqueados. Cadeiras, torneiras e até traves foram arrancadas, roubadas.
Há algo ainda mais vergonhoso no CT da Universidade Federal de Mato Grosso. O MInistério do Esporte liberou R$ 5 milhões para o governo estadual comprar o acabamento da pista de atletismo, emborrachada nos mesmos padrões da pista utilizada na Olimpíada de Londres, em 2012.
Esse tipo de material, que só poderia ser comprado após a finalização da base da pista, já foi adquirido pelo governo, mesmo com a estrutura inacabada.
Ou seja, mais R$ 5 milhões podem ter ido para o ralo.
O irônico é que Dom Bosco e Mixto, os clubes mais tradicionais do estado, não têm Centro de Treinamento. Chega a ser patético.
A TV Centro América, àfiliada à Rede Globo, tem o direito de transmissão dos jogos aqui no Mato Grosso. E o que ela faz? Para economizar custos, mostra apenas as partidas na Arena Pantanal. E espanta ainda mais os torcedores.
A média de torcida consegue ser ainda pior do que no ano passado.
Mal chega a 500 pessoas por jogo.
Só há uma equipe de rádio tradicional que transmite o Matogrossense.
Os times não possuem sequer um atleta renomado, com talento nacional.
Os atletas para melhorar seus rendimentos chegam a disputar torneios amadores. Entram em campo na manhã por cachê de R$ 300,00 e depois jogam profissionalmente à tarde. Isso com a condescendência dos clubes.
A Arena Pantanal, um presente divino para Cuiabá, se tornou um legítimo elefante branco.
E é terrível encará-lo na realidade.
Assim como os dois CTs.
Juntos, custaram R$ 720 milhões.
Quem pagou por isso?
Todo brasileiro que paga impostos...