O sacrifício de Paulinho. Com fortíssimas dores, colocou o Palmeiras entre os oito melhores do mundo. Ele sofrerá nova operação, depois do Mundial. Só deverá voltar a jogar em 2026

Nem se o confronto de hoje na Filadélfia tivesse um enredo de cinema, seria tão perfeito.

Nenhum atleta do Palmeiras e do Botafogo misturava na mesma dose talento com dores.

Só Paulinho.

E o destino reservou a ele, a felicidade de marcar um dos gols mais importantes de 110 anos palmeirenses.

Eram nove minutos do primeiro tempo da prorrogação. O Botafogo seguia retrancado, fechado em uma linha de cinco na defesa, com quatro jogadores no meio-campo, três deles volantes, e apenas Igor Jesus na frente.

Mais o goleiro John fazendo uma partida espetacular.

Até que Paulinho, na direita, decidiu acabar com a mesmice, com a falta de imaginação do time de Abel Ferreira. Resolveu fazer tudo sozinho. Ele deu um lindo corte em Marlon Freitas, se aproveitou do titubeio da zaga carioca, invadiu a área e bateu como queria, rasteiro, cruzado.

A bola desviou em Barboza e morreu no fundo do gol do Botafogo.

1 a 0, Palmeiras.

Todos no estádio Lincoln Financial Field sabiam: o jogo estava decidido. Abel fechou seu time, Renato Paiva não tinha jogadores de talento no banco para lutar pelo empate.

O time paulista se classificou, com mérito, para as quartas-de-final. Está entre os oito melhores do mundo, graças ao seu jogador mais sofrido.

Paulinho ficou 30 minutos em campo. Entrou no lugar de Estêvão e saiu para a entrada de Micael.

“(O gol) Me dá mais confiança ainda. Estou passando por um momento difícil por conta da lesão. Ainda sinto bastante dor, está sendo difícil”, disse o jogador, que não estava eufórico. Pelo contrário. Se mostrava tenso.

O motivo foi revelado por Abel Ferreira.

O atacante de 24 anos ará nova cirurgia na canela direita, por conta de uma fratura por stress. Muitas pancadas e movimentos repetitivos, como saltos, arrancadas, chutes na bola.

“Foi para isso que nós o trouxemos, sabíamos que não podíamos contar com ele mais que 30 minutos e todos sabem o que vai acontecer depois que acabar este Mundial.

“Ele vai ter que ser operado novamente”, revelou Abel, quebrando o clima pela classificação do Palmeiras.

A expectativa é que Paulinho não volte a jogar nesta temporada. Só volte a entrar em campo, em 2026. Mas completamente curado.

Ele é o atleta mais caro da história entre clubes brasileiros.

Abel Ferreira convenceu Leila Pereira a gastar 18 milhões de euros, atuais R$ 115 milhões, junto ao Atlético. O clube mineiro não escondeu o problema médico de Paulinho. Ele foi operado em dezembro.

A cirurgia consolidou a sua tíbia direita, osso da canela. Mas a recuperação mostrou que houve algum problema ligado ao sistema de nervos, da perna. Ele vai operar novamente. O Palmeiras quer a cirurgia já em julho, após o Mundial.

Paulinho só conseguiu entrar como titular uma só vez no Palmeiras. Contra o São Paulo. Mas pagou caro. Teve de ficar três partidas fora. Fez apenas 15 partidas. Marcou três gols e deu duas assistências. Dois dos seus gols foram no Mundial.

Abel Ferreira, responsável por sua contratação, no lugar de Endrick, não teve meias palavras, hoje.

“Vou ser muito sincero. Foi para isso que ele veio. Jogar 15 minutos e resolver.

“Foi uma das nossas maiores contrações. Temos outros que conseguem desempenhar seu papel, sabíamos em que condições o trouxemos, sabíamos porque também ninguém obriga ninguém.

“Fizemos os exames que tínhamos que fazer, conversamos com o jogador, dissemos que seria importante porque era isso, o que lhe disse: foi para isto que vieste. Para entrar e resolver."

Paulinho revelou que sabia como poderia marcar o gol que eliminaria o Botafogo.

“O John estava indo muito bem nos chutes pelo alto. Eu sabia que, na chance que eu tivesse, deveria bater rasteiro. Até para testá-lo. E deu certo. Eu tinha avisado, dois minutos antes, ao Mayke, o que eu faria.”

Paulinho é um jogador diferenciado.

Até começar a sentir as dores no Atlético, era um atacante convocável para a Seleção Brasileira.

Ele começou no Vasco, passou pelo Bayer Leverkusen, fez sucesso no Atlético.

Ganhou a medalha de ouro olímpica, em 2022.

Palmeiras o contratou sabendo da tentativa de recuperação. E até da possibilidade de nova operação. Mas a própria Leila Pereira repete o que ouviu de Abel Ferreira, aos conselheiros mais próximos.

O atacante tem contrato com o Palmeiras até dezembro de 2029. Ou seja, com a certeza de recuperação, o clube terá um jogador importantíssimo, com alto valor de revenda.

Paulinho foi outro jogador que saiu do banco para marcar pelo Palmeiras.

Neste Mundial tem sido assim.

Contra o Porto, foi 0 a 0. Mas diante do Al Ahly, dois gols de Flaco Lópes, que entrou no lugar de Vitor Roque. Contra o Inter Miami, gols de Maurício, que entrou na vaga de Raphael Veiga e do mesmo Paulinho, que substituiu Facundo Torres.

“Ao final de cada jogo, quando leio as análises de vocês, os melhores são sempre os que entram. Olha, eu fico muito feliz por quase todos poderem ter jogado e participado desse mundial. Eu disse que iria procurar viver esse mundial de forma diferente. Com a mesma entrega, dedicação, mas mais leve.

“Aquilo que é exigência que eu coloco em mim mesmo e nos meus jogadores. Isso pode deixar uma pressão extra e não deixar os jogadores e o próprio treinador ser mais criativo. As vezes a vontade de querer ganhar atrapalha as decisões”, disse Abel.

Sobre o confronto diante do Botafogo, técnico se mostrou entusiasmado.

“Após o último jogo (contra o Inter Miami) nós todos estávamos muito chateados, nossa performance e o trabalho tático não ajudou meus jogadores no primeiro tempo. Acho que aprendemos muito e nós sabemos que cada jogo é uma nova história. Nos preparamos muito bem para esse jogo. Acho que desde o início jogamos com muita dinâmica, criamos muitas oportunidades e em minha opinião um dos melhores jogadores no campo foi o goleiro rival. Mas pelo que fizemos em toda a partida, nós merecemos.

“Mesmo antes dos 90 minutos, porque fizemos muito bem. Não podíamos deixar eles muito com a bola. Nós tentamos encontrar espaços atrás dos linhas do nosso oponente.

“Nós criamos muito e merecíamos marcar nos 90 minutos, mas no fim acho que nós fomos melhores que nosso adversário e nós continuamos na competição. É nosso objetivo e vamos lutar até o último minuto para continuar na competição.”

A respeito de Paulinho, o plano é o mesmo.

Seguirá no banco nas quartas.

Será assim até terminar o Mundial.

E se submeter à desejada nova operação.

Para acabar de vez com as fortíssimas dores na canela.

Enquanto isso, entrará no sacrifício.

“O que amo fazer é jogar.

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