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Blefe do Corinthians vira ultimato. E apavora a Globo e CBF

Emissora apela à 'tradição' para impor jogos aos domingos e quartas à noite. CBF sabe:  legislação tem de mudar. Clubes e jogadores se articulam

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Andrés Sanchez sempre foi aliado., Desta vez, complicou a Globo
Andrés Sanchez sempre foi aliado., Desta vez, complicou a Globo Andrés Sanchez sempre foi aliado., Desta vez, complicou a Globo

São Paulo, Brasil

Paulo André e Maicon conseguiram.

Incendiaram os bastidores do futebol brasileiro.

Ao vencerem suas demandas judiciais contra Corinthians e São Paulo, abriram um precedente sem volta.

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As questões trabalhistas vencidas pelos dois são pelos jogos aos domingos, feriados e à noite, principalmente às quartas-feiras, e pela falta de descanso semanal.

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Quando uma equipe joga três vezes por semana, por exemplo, domingo, quarta e domingo, a rotina é sempre a mesma.

Logo após a partida de domingo, todos os atletas têm de se reapresentar na segunda-feira à tarde e participarem do 'treino regenerativo', para recuperar os músculos. Na terça-feira são treino tático e concentração. Quarta, jogo. Quinta, treino regenerativo. Sexta, tático. Sábado outro tático e concentração. Domingo jogo. 

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Várias e várias semanas, por anos, não há folgas.

Isso jamais foi pago.

Vários atletas até que tentaram.

Mas Paulo André, campeão mundial com o Corinthians, venceu. E conseguiu R$ 750 mil, que serão divididos em quinze vezes.

Maicon conseguiu o mesmo benefício da justiça do trabalho, contra o São Paulo. Por enquanto, são R$ 200 mil. Mas há a possibilidade de chegar a mais de R$ 700 mil.

Andres, a princípio, queria blefar.

Avisou a TV Globo, a CBF e a Federação Paulista que o Corinthians não quer mais jogar aos domingos e à noite, quando terminar a quarentena pela pandemia.

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Só que, tudo o que o presidente do Corinthians conseguiu, foi incentivar mais atletas a entrarem na justiça contra seus clubes. Principalmente os que encerraram carreiras e podem conseguir dinheiro extra para seguirem a vida.

"Tem mais de 100 jogadores reclamando isso, faz tempo. Só que você ia recorrendo, chegava no TST (Tribunal Superior do Trabalho), a partir de 2011 você ganha. Mas leva quatro, cinco anos para isso, é um passivo (dívida) do clube, que tem que pagar advogado também", disse o Andrés em uma live com o comentarista da Globo e ex-jogador, Casagrande.

Só que não é bem assim.

Se fosse, o Corinthians não teria de propor acordo e pagar R$ 750 mil a Paulo André. O São Paulo perdeu na primeira instância, vai recorrer contra o mesmo pedido de Maicon. Mas o advogado do jogador buscará a equiparação ao pedido de Paulo André. 

"Uma hora a conta vem", diz o presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo, Reinaldo Martorelli.

"Conversei diversas vezes com presidentes de clubes, com o Andrés, sobre a necessidade de um acordo. Mas sempre esbarrou nos departamentos jurídicos", insiste Martorelli.

Paulo André não quis saber de idolatria. Processou e garantiu R$ 750 mil
Paulo André não quis saber de idolatria. Processou e garantiu R$ 750 mil Paulo André não quis saber de idolatria. Processou e garantiu R$ 750 mil

Ele defendia um adendo aos contratos para que constasse um pagamento a mais por jogos aos domingos, feriados, semanas sem folgas e adicional noturno.

A Lei Pelé, que rege a relação entre clubes e jogadores, é omissa sobre a questão. A Legislação Trabalhista, não. Daí, Paulo André e Maicon vencerem seus processos.

"Requer-se que, a partir do retorno das competições que foram suspensas e daquelas que não foram iniciadas por conta da pandemia do Covid-19, não sejam mais marcados jogos do Sport Club Corinthians Paulista à noite ou aos domingos. Na hipótese de serem agendadas partidas à noite ou aos domingos, o Sport Club Corinthians Paulista se reserva no direito de eventualmente não participar dos referidos jogos."

Esse é um trecho do pedido enviado oficialmente pelo Corinthians à Globo, CBF e Federações.

Executivos globais, que já estão desnorteados pela quarentena sem jogos, por conta do coronavírus, demoraram mais de 24 horas para responder ao Corinthians. Temendo o efeito cascata, com todas as equipes indo pela mesma direção.

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Dirigentes dos clubes grandes de São Paulo, acompanham com todo o interesse o desenrolar da história, já temendo processos iguais ao que o Corinthians recebeu.

A resposta da Globo foi decepcionante.

Por que despreza o lado legal. 

E só enfatiza a 'tradição'.

"Os jogos aos domingos e em horários noturnos são uma tradição de décadas e se consolidaram como parte da rotina dos torcedores. Essa não é uma característica específica do futebol brasileiro, acontece com o esporte no mundo todo, que, como produto de entretenimento, é disputado em horários atrativos para seus fãs.

"Clubes, Federações e CBF, como protagonistas e organizadores das competições nacionais, devem zelar para que elas ocorram em ambiente de segurança para os jogadores, estrelas do espetáculo.

"Às autoridades cabe considerar as peculiaridades dessa atividade profissional, inclusive dias e horário em que tradicionalmente é desempenhada, a fim de que se fortaleça e possa continuar a oferecer opção de trabalho para milhares de brasileiros.

"A Globo é parceira incondicional do esporte nacional e continuará a contribuir para seu desenvolvimento, buscando a maior divulgação possível da transmissão dos espetáculos esportivos."

A cúpula da CBF pressente que poderá haver um novo colapso no futebol brasileiro. O que era para ser um blefe de Andrés se tornou em algo muito maior.

Processo de Maicon contra o São Paulo pode chegar a R$ 700 mil
Processo de Maicon contra o São Paulo pode chegar a R$ 700 mil Processo de Maicon contra o São Paulo pode chegar a R$ 700 mil

O presidente da CBF, Rogério Caboclo, tem conversado com seu articulador político, o secretário-geral Walter Feldman, para estudar com a bancada da bola em Brasília, deputados e senadores aliados da CBF, sobre a possibilidade de mudança na Lei Pelé. Para encaixar os jogos aos domingos, feriados, semanas sem folgas e jogos à noite dos atletas.

O que não é nada fácil.

E que demandará muito tempo.

Poucos jogadores se manifestam. Preferem se calar e estudar seus direitos.

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Fagner, lateral do próprio Corinthians, é exceção.

Ele acredita que jogador tem uma carreira diferente da dos outros trabalhadores. E não há cabimento entrar na justiça para pedir mais dinheiro por jogos aos domingos, feriados, semanas sem folgas e adicional noturno.

"Eu até comentei com a minha esposa ontem: o futebol sempre foi de quarta e de domingo. Não vou ser contra ou a favor de ninguém, mas não tem como mudar uma coisa que foi assim a vida inteira.

"Nós, jogadores, na maioria, somos privilegiados.

"Esse tipo de ação não convém.

"Meu filho, que está começando a jogar futebol, sabe que não vai ter sábado, domingo e feriado, como uma pessoa normal que trabalha de segunda à sexta.

"Por outro lado, com 20 anos ele pode resolver a vida da família inteira dele."

O Corinthians é o 'campeão de audiência' no futebol paulista para a TV Globo. O time que todos os anos é o mais mostrado. Às quartas à noite e aos domingos.

Seria um caos para a emissora caso Andrés levasse a sério sua ameaça e não colocasse o time em campo nos dias 'tradicionais' de futebol.

Paulo André e Maicon mexeram em um vespeiro.

Aproveitaram a lacuna na Lei Pelé.

Martorelli vinha avisando os clubes que os processos chegariam. Chegaram
Martorelli vinha avisando os clubes que os processos chegariam. Chegaram Martorelli vinha avisando os clubes que os processos chegariam. Chegaram

E mostraram que, pelo lado legal, os clubes estão errados em não pagar a mais pelos jogos aos domingos, feriados, à noite. E nas semanas sem folgas.

Jogador precisa de uma legislação à parte, já que não é um trabalhador comum.

Mas completa.

A Lei Pelé não é...

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