Pelé faz balanço dos 80 anos e agradece ao 'querido futebol'
Recluso em função da pandemia e por questões ligadas à mobilidade, Atleta do Século enviou ao R7 depoimento com sua fala tranquila e jeito espontâneo
Especiais|Eugenio Goussinsky, do R7
Quando alguém faz 80 anos, são muitas as celebrações em função da data. Mas, no caso de Pelé nesta sexta-feira (23), no futebol, ele é o único no planeta que após os cumprimentos tem o direito de ouvir o lema famoso nos tempos imperiais: "vida longa ao Rei". Com a mesma fala tranquila e jeito espontâneo, em depoimento enviado ao R7, o Atleta do Século fez um balanço da carreira e de vida. Conformado com o fato de que, agora, tem de assistir tudo de camarote, não resolver mais lá dentro. Mas fazendo dessa saudade um motivo de orgulho.
"Olha, agradeço a todos aqueles que já me mandaram mensagens, outros e-mails, mas, pelos 80 anos, tenho de agradecer pela saúde de chegar até aqui lúcido", declarou no início.
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E, mesmo que neste momento ele esteja recluso, em função da pandemia e de questões ligadas à mobilidade de suas pernas, as inúmeras recepções de gala pelas quais passou até pouco tempo atrás se mantêm em sua mente. E ele dá mostras de que, em breve, pretende voltar a participar de eventos.
Do alto de sua idade, ele olha para trás e parece ouvir o murmúrio de todas as suas conquistas, dificuldades, luta, misturado ao clamor da torcida, ao instante mágico do gol, aos flashes, aos xingamentos, à sensação de exaustão, a pele suada grudada na camisa de tecido áspero, e vê tudo isso como um retrato da vida como ela foi. E é. Seja para um ídolo ou uma pessoa comum, cheia de surpresas. Para ele, apesar de alguns percalços em meio às glórias, quase sem arrependimento.
"Claro que algumas vezes, dentro de todos esses anos da minha carreira, nestes 80 anos da minha vida, fiquei meio chateado, meio aborrecido, meio triste e até com raiva de muitos jornalistas que inventaram coisas, mentiram as coisas. Jogadores que em campo xingavam minha família, minha mãe, claro que eu tinha certeza de que não era de coração que estavam fazendo isso, mas queriam me desconcentrar, me tirar do controle, para eu revidar ou brigar e ser expulso", disse.
"A intenção dos jogadores, das pessoas que torciam para os outros times, contra a minha equipe, é claro que queriam fazer todo o motivo de me tirar do controle... Entendia mais ou menos que aquilo tudo era provocação, quer dizer, acho que errei muito pouco", finalizou.
Se eu fiz alguma coisa que deixou alguém triste%2C alguma vitória que o Santos teve%2C que a seleção teve%2C que a seleção do Exército teve%2C todos os campeonatos que eu ganhei e jogos que ganhei%2C isso é coisa da vida%2C me desculpem
Por fim, ele conclui, com uma dose de compreensão sobre a real essência do jogo. A de que adversário não é inimigo e o esporte serve para unir e não separar as pessoas, nem vencedores de derrotados.
"Se eu fiz alguma coisa que deixou alguém triste, alguma vitória que o Santos teve, que a seleção teve, que a seleção do Exército teve, todos os campeonatos que eu ganhei e jogos que ganhei, claro que o outro lado fica um pouco triste, isso é coisa da vida, me desculpem, mas agradeço de coração tudo o que ganhei na minha carreira", finalizou o Rei.
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