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Muita História nas muitas histórias do livro "Aqueles Olhos Verdes"

No seu lançamento mais recente, o jornalista José Trajano mescla realidade e imaginação e faz da cidade de Rio das Flores e de seu time de futebol, o Rio das Flor, deliciosas personagens do Brasil

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Detalhe da capa do livro
Detalhe da capa do livro Detalhe da capa do livro

Carioca da Tijuca, torcedor do América/RJ, agora nos 74 de idade, José Trajano Reis Quinhões sempre se destacou como um grande contador de histórias. Nos dez anos em que foi meu prezado chefe nos canais ESPN, comumente nos encontrávamos numa velha padaria das vizinhanças e ele encantava os circunstantes com os causos divertidíssimos dos seus idos de repórter esportivo, das suas andanças na boemia, do seu apego à MPB, de coisas simples que o alegravam ou de incômodos que o deixavam além de indignado.

Paisagem do centro de Rio das Flores
Paisagem do centro de Rio das Flores Paisagem do centro de Rio das Flores

Eventualmente ele falava de Rio das Flores, cidadezinha quase vila de menos de 10.000 moradores a cerca de duas horas de carro do Rio de Janeiro, onde passou boa parte da infância e da adolescência numa fazenda bucólica da sua família. Nunca imaginei, porém, que Rio das Flores, a personagem central de “Aqueles Olhos Verdes”, seu livro mais recente, significasse tanto na maior das histórias, a História com H, aquela do Brasil, aquela da sua Política, da sua Cultura, ou do seu Futebol. Numa deliciosa salada carioca-fluminense, o Zé majestosamente mistura esses motes/ingredientes num texto de lamber os dedos.

Heleno de Freitas, à beira da praia onde jogava o Futebol de Areia
Heleno de Freitas, à beira da praia onde jogava o Futebol de Areia Heleno de Freitas, à beira da praia onde jogava o Futebol de Areia

Rio das Flores interferiu na História do Brasil? Pois o Zé lá antepõe dois irmãos, o integralista Vicente Meggiore e o getulista Zé Reis. Os manos se atracavam por causa da Política? Sim, mas o Vicente, amigão de cartolas, carregava o Zé a ver um Fla-Flu, o Zé que idolatrava o Ludopédio e que jogava a sua bola de praia com Heleno de Freitas, ou João Saldanha ou o Stanislaw Ponte-Preta/Sérgio Porto. Aliás, num achado primoroso, o Zé até internacionaliza o Futebol de Rio das Flores, representado em campeonatos pelo glorioso Rio das Flor Futebol e Regatas, idealização de um húngaro de nome Ferenc, por lá instalado desde a década de 30. Cabe a Zé Reis e ao factótum Ferenc, de certo modo, num cenário em permanente transformação, costurar o enredo que se devora sem perceber o tempo.

Puskàs, com Evaristo de Macedo, do Flamengo, no Maracanã
Puskàs, com Evaristo de Macedo, do Flamengo, no Maracanã Puskàs, com Evaristo de Macedo, do Flamengo, no Maracanã

Da década de 30 até os meados da década de 60 o Brasil de Zé Trajano se transforma em dependência de Rio das Flores, a cidade, e do Rio das Flor, o time. Claro que ele mergulhou numa pesquisa ingente para recolher os fatos reais que se agregam aos episódios que criou – ou vice-versa, tanto faz, pois o resultado é prazeroso. Mesmo um documentarista experiente fica na dúvida diante de certos relatos: “Será que isso de fato aconteceu?” Por exemplo, será que Zizinho e Jair da Rosa Pinto fulguraram com a com a camisa do Rio das Flor? Ou será que o Ferenc efetivo, aquele Puskàs da formidável seleção da Hungria na Copa da Suíça/54, se apresentou por lá durante uma vinda do Honved à América do Sul?

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Parte do elenco do Madureira, Zé da Gama e o Che Guevara com a bola
Parte do elenco do Madureira, Zé da Gama e o Che Guevara com a bola Parte do elenco do Madureira, Zé da Gama e o Che Guevara com a bola

Será, enfim, que o clube alvi-rubro realizou uma insana excursão através do Mundo, ou o Zé Trajano apenas utilizou a sua licença poética e brincou com uma antológica viagem do Madureira do empresário José da Gama, a mais longa de um time do País, absurdos 144 dias em que, inclusive, esteve em Cuba com o Che Guevara, a quem presenteou com uma pelota de couro? Não importa. É ler para descobrir de que maneira o Zé Trajano trança toda a verdade da História com os passeios da sua criatividade. E para descobrir no fim do livro o quê os “Olhos Verdes” do seu título têm a ver com o seu irresistível desenrolar.

Zé Trajano
Zé Trajano Zé Trajano

“Aqueles Olhos Verdes”, de José Trajano, Alfaguara, 242 páginas.

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