Flamengo, Atlético e Corinthians pressionam Leila por reforços 'de verdade'. A Europa, perigosamente, descobriu Abel

São Paulo, Brasil

Leila Pereira vai ter de agir.

Mudar sua estratégia de comandar o Palmeiras como se ele fosse uma de suas lucrativas empresas. E entender que se trata de um clube vice-campeão do mundo, de 107 anos, e não de uma financiadora ou de uma faculdade.

Membros da diretoria, conselheiros e torcedores perceberam que o time fez "o máximo" contra o Chelsea, na decisão do Mundial, que perdeu ontem nos Emirados Árabes.

Abel Ferreira, que levou o clube a sete finais em 15 meses de trabalho, e já tem marcada a oitava, a Recopa Sul-Americana, no mês que vem, foi ao limite. Ao levar a final contra o poderoso Chelsea até o segundo tempo da prorrogação, ele ganhou elogios da imprensa europeia. E entrou no seleto grupo de técnicos que será levado em consideração no meio do ano, quando se iniciará nova temporada no Velho Mundo.

Para que o Palmeiras não interrompa o excepcional trabalho, que pode não agradar aos olhos dos mais exigentes que não entendem o abismo financeiro entre um clube brasileiro e um dos mais ricos do mundo, como o Chelsea, Leila terá de parar de economizar.

O mínimo que Abel deseja é manter a hegemonia na América do Sul, conquistando a Libertadores pela terceira vez. Só os reforços para 2022 foram muito limitados para essa expectativa: Jailson, Murilo, Atuesta, Navarro e Marcelo Lomba.

Os grandes inimigos do continente, Flamengo e Atlético Mineiro, estão mais fortes. O Rubro-Negro trocou, com ganho técnico, Michael por Marinho. Buscou Fabricio Bruno, firme zagueiro do Red Bull Bragantino. Tenta o goleiro Santos, do Athletico Paranaense. Fechou a contratação em definitivo de Andreas Pereira. E busca ainda outros defensores no exterior.

O Atlético Mineiro foi buscar o zagueiro uruguaio e líder Diego Godín. Ainda fechou com o artilheiro Fábio Gomes; com o versátil atacante Ademir, um dos destaques do futebol brasileiro em 2021; e com o volante Otávio, moderno meio-campista que estava no Bordeaux.

Assim como os dois, o Corinthians, que também jogará a Libertadores, já contava com um elenco forte. Ganhou Paulinho. E promete brigar como nunca na competição, alvo maior de 2022.

Há mais de seis meses, Abel Ferreira implora por um atacante definidor. Ele sabia que Luiz Adriano já não mostrava a explosão muscular de que precisava. Borja não tinha técnica. Assim como Deyverson. Mas a economia exagerada de Mauricio Galiotte chegou a Leila. 

O Palmeiras teve tempo de sobra para contratar um artilheiro. 

Lucas Alario, do Bayern Leverkusen; Castellanos, New York City; João Pedro, Cagliari; Álvares, Peñarol; Kaio Jorge, Juventus; e Yuri Alberto, Internacional.

Todos jogadores possíveis, mas caros. 

E a diretoria não levou adiante a negociação por eles. 

Também se afugentou ao saber que Diego Costa queria R$ 1,5 milhão por mês.

Ou seja, preferiu apostar em Navarro, destaque da Série B, que veio "de graça" do Botafogo, com contrato acabado.

Abel Ferreira sabe que o futebol brasileiro considera os vice-campeões os primeiros dos últimos colocados. Ou seja, ele foi cobrado pela perda da Supercopa do Brasil, para o Flamengo. Da Recopa, para o Defensa y Justicia. E do Paulista, para o São Paulo. Tudo no ano passado. 

E agora, o Mundial.

Seu sistema defensivo já é questionado por veículos de comunicação importantes do país, independentemente da diferença brutal entre os elencos.

A decepção com o vice, que pressiona Leila Pereira a "reforçar de verdade" o Palmeiras para a Libertadores, com o sonho de voltar à disputa do Mundial, também preocupa a segurança do clube.

Em vez da festança que foi a saída do ônibus para o embarque no aeroporto, na viagem de ida aos Emirados, havia o medo da própria torcida, depois da derrota.

Sim, o comando das torcidas organizadas quer reconhecimento, aplausos aos vice-campeões do mundo. Mas há o medo de que alguns torcedores protestem. E aconteçam tumultos. Como as brigas que aconteceram ontem em frente ao clube. E que terminaram com a morte de um torcedor de 35 anos, assassinado com um tiro no tórax. 

Policiais já foram deslocados para a Barra Funda, e barreiras foram montadas em frente ao centro de treinamento, por precaução. 

Abel Ferreira já sabe que será questionado, cobrado. Terá a "obrigação" de vencer o também reforçado Athletico Paranaense, na disputa da Recopa Sul-Americana.

Enquanto isso, seu nome cresce na Europa.

E Leila entendeu na prática, ontem, a importância de ter um elenco forte de verdade.

Com reservas como Atuesta, Deyverson, Navarro, Jailson e Wesley, não há como sonhar com o Mundial. E, agora, nem com a Libertadores.

O Palmeiras será muito cobrado em 2022...