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BRASILEIRO 2022

Clube argentino faz campanha para buscar vítimas da ditadura no país

Entidade promove busca por informações sobre atletas, sócios, funcionários e torcedores que tenham desaparecido no período

Futebol|Do R7

Clube busca cumprir papel social, cultural e histórico
Clube busca cumprir papel social, cultural e histórico

Luis Alberto Ciancio passou pelas categorias de base do Gimnasia La Plata, parando antes do profissional. Era estudante de engenharia civil e militava no Partido Comunista Marxista-Leninista (PCML). Em 7 de dezembro de 1976, desapareceu junto com a namorada, Patricia Dillon, também militante, após deixarem o filho pequeno na casa de seus pais para irem ao dentista. Seus restos mortais foram encontrados em 2009; os de Dillon, apenas em 2012.

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Antonio Piovoso era outro que conciliava a prática do futebol com os estudos: ao mesmo tempo em que cursava arquitetura, chegou a atuar três vezes como goleiro do Gimnasia. Também era militante do PCML, pelo qual apenas panfletava. Foi sequestrado pela ditadura argentina em 6 de dezembro de 1977 e seu corpo nunca foi encontrado.

Para tentar encontrar mais casos como esse, o Gimnasia, clube que ligava as duas vítimas do regime militar, lançou uma campanha oficial de busca por informações sobre atletas, sócios, funcionários e torcedores que tenham desaparecido no período entre 1976 e 1983.


"A ideia central é recompilar dados que, em conjunto com as informações trazidas por organizações de direitos humanos, nos permitam reconhecer e recordar as pessoas com um passado ligado direta ou indiretamente com nossa instituição", conta Camilo Balleto, membro da subcomissão de cultura e museu do clube.

A data do lançamento da campanha foi simbólica: 24 de março, o dia nacional da memória pela verdade e justiça na Argentina, feriado que marca o golpe que iniciou o regime militar e no qual são relembradas as violações de direitos humanos cometidas no país. Na data, o Gimnasia publicou vídeos com parentes de Ciancio, Piovoso e outras três vítimas da ditadura que tiveram ligação com o clube nas redes sociais. A maioria dos grandes clubes argentinos publicou mensagens de repúdio à ditadura no dia.


TRABALHO

"Nosso trabalho consiste em receber informação e dar um marco histórico, localizando os sujeitos dentro da sociedade e os reconstruindo através da memória de seus familiares e amigos", explica Balleto sobre como a subcomissão trata o tema.


Além das histórias de Ciancio, Piovoso e de Miguel Sanchez, nos meses anteriores ao lançamento oficial da campanha o grupo já havia identificado outras duas pessoas ligadas ao Gimnasia que desapareceram na ditadura, Pedro "Bocha" Disalvo e Gustavo Ogando, que jogaram vôlei e ainda estão desaparecidos.

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A subcomissão é composta por sócios e torcedores do clube e conta com historiadores, museólogos, jornalistas e estudantes, todos voluntários. Até agora, o Gimnasia não trabalhou com ONGs ou outros clubes, apenas com entidades públicas como a Secretaria de Direitos Humanos nacional e a da província de Buenos Aires.

As razões para a busca são bem claras. "A instituição cumpre um papel importante na sociedade, não somente no campo esportivo, mas também no cultural, social e histórico. São questões que devem ser abordadas em todos os lugares, em especial nos clubes esportivos", justifica Balleto. "Só de haver portado as cores do Gimnasia, defendendo-as em qualquer lugar, isso te converte em uma peça de nossa história. Por isso, reconhecemos os atletas desaparecidos, assim como buscamos as histórias de sócios e torcedores que foram vítimas do terrorismo de estado."

PARENTES APROVAM

Familiares dos desaparecidos que participaram dos vídeos aprovaram a iniciativa. "É importante que os clubes possam difundir tudo que concerne aos direitos humanos, porque é uma forma de democratizar e gerar consciência em prol de uma organização mais democrática. Isto gera mais igualdade e menos discriminação entre seus seguidores. Hoje, a juventude na Argentina voltou a conhecer a história negra dos anos 70, e o mais importante é recordar para que não volte a ocorrer", afirma Gabriel Ciancio, que perdeu o irmão.

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Gabriel, porém, relata que não foi fácil recordar a história. "Foi difícil contar a história de Luis a jovens que têm a mesma idade que ele tinha quando desapareceu (24 anos). Uma história que começou quando eu tinha 12 anos. Ainda que se passem os anos sempre se faz presente."

"Me parece fantástico que os clubes recordem seus atletas desaparecidos (os que os tem), se manifestem e fixem sua posição contra a ditadura que tanto mal nos causou. Falar do meu tio causa sentimentos divididos, alegria porque sua recordação está viva e tristeza por não tê-lo aqui", fala Sebastian Piovoso, sobrinho de Antonio.

Além da busca e dos vídeos nas redes sociais, o Gimnasia também tem um marco no estádio Juan Carmelo Zerillo com os nomes dos atletas e promoveu conversas de Gabriel Ciancio, Sebastian Piovoso e outros familiares com jovens de coletivos ligados ao clube. E recentemente o time fez homenagens aos soldados que combateram na Guerra das Malvinas.

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