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Diego Maradona foi o mais humano dos heróis ‘sem nenhum caráter’

Tal qual personagem Macunaíma, de Mário de Andrade, eterno camisa 10 da seleção argentina sintetizou alma de alguém adoravelmente cheio de defeitos

R7 Só Esportes|André Avelar, do R7

Por se entregar aos excessos da vida, Maradona começou a morrer há 20 anos
Por se entregar aos excessos da vida, Maradona começou a morrer há 20 anos

Por que gostar tanto de alguém viciado em drogas, alcoólatra e que, em determinado momento da carreira, ainda se aproximou da Camorra? Além de uma natural empatia pelo ser humano, às vezes perdida por aí, Diego Armando Maradona nunca escondeu do mundo que foi exatamente esse “herói sem nenhum caráter”. Tal qual Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1928, Maradona sintetizou o melhor, e o pior, de alguém adoravelmente cheio de defeitos.

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Nascido na pobre Villa Fiorito, ao sul da capital argentina de Buenos Aires, o baixinho de traços indígenas também se transfigurou e teve uma trajetória movimentada em aventuras pelos quatro cantos do mundo. A sua “muiraquitã” era a bola, que lhe deu e tirou absolutamente tudo que teve. Se conquistou a glória com a Copa da Uefa com o modesto Napoli (1989), se rendeu aos efeitos da cocaína. Se conquistou a Copa do Mundo com a seleção argentina (1986), foi pego no estranho doping por efedrina, substância encontrada em um remédio para emagrecimento, oito anos depois.

Nem por isso assumiu para si o batido discurso do vitimismo, tampouco se furtou a dar a cara a tapa nas questões mais embaraçosas da geopolítica mundial. O eterno camisa 10 nunca pensou em resolver um conflito na irritante “melhor maneira possível” que jogadores em geral repetem hoje quando se pronunciam. O gol da 'trampa' com as mãos e a ‘gambeteada’ que enfileirou um exército de ingleses nas quartas de final aconteceram em cima de um contexto da Guerra das Malvinas, que havia sido travada antes no território argentino.


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Maradona já atirou com espingarda de ar comprimido e trocou sopapos com jornalistas. Internou-se na Cuba de Fidel Castro, praticamente seu segundo pai, e tinha Che Guevara tatuado no braço. Gostassem ou não. Perdesse seguidores no equivalente às redes sociais da época ou não. Além de tudo, continuou jogando muita bola, com uma perna esquerda absolutamente extraordinária que, essa sim, chegou perto de ser unânime.

"Sabe que jogador eu teria sido se não tivesse usado cocaína? Que jogador nós perdemos", chegou a dizer Maradona, a Emir Kusturica, cineasta do melhor documentário já produzido sobre Dom Diego.


Sem medo de exagerar nos prazeres, Maradona viveu intensamente e por isso começou a morrer há dez, 15, 20 anos... Custasse o que lhe custasse e, no último 25 de novembro de 2020, custou-lhe a vida. Dieguito ‘botou a boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma’, herói do povo argentino, ídolo até de quem nem gosta de futebol. Tinha muito caráter. Por seus defeitos, esse foi o mais humano dos anti-heróis.

“Tem mais não”.


Maradona: o herói 'torto' deixa Argentina órfã de seu maior ídolo

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