O protesto da imprensa paulista contra Felipão. Ele virá pronto para a guerra
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
A 105 dias de completar 70 anos, não há ilusão que a idade tenha amainado a alma de Luiz Felipe Scolari. Pelo contrário. Como sempre faz quando é contratado para um clube ou seleção, ele chega sorrindo, brincando, fazendo piadas, acarinhando os jornalistas que conhece.
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Mas basta uma semana, ou nem isso.
E aflora o admirador assumido do ex-ditador chileno Augusto Pinochet.
Scolari foi direto.
Garantiu que ''Pinochet fez muita coisa boa também''. ''Ajeitou muitas coisas lá (no Chile). O pessoal estava meio desajeitado. Ele pode ter feito uma ou outra retaliaçãozinha aqui e ali, mas fez muito mais do que não fez", declarou à rádio Jovem Pan.
O general comandou o Chile com mão de ferro, depois de um violento golpe militar. Foram 17 anos de opressão. Com fuzilamentos e desaparecimento de inimigos. Foram mais de 50 mil mortes ligadas ao seu regime, de acordo com organizações de direitos humanos. Acabou comprovado que Pinochet também desviou mais de 100 milhões de dólares, cerca de R$ 370 milhões, de dinheiro público.
O treinador deveria ser melhor orientado sobre seus ídolos políticos.
Ele queria demonstrar respeito à hierarquia, educação, ordem e usou um dos piores exemplos possíveis.
Felipão o responsável por inúmeras regras no Palmeiras, com o auxílio de seu assessor de imprensa pessoal, Acaz Felleger. Felipão já nutria antipatia pela imprensa paulista. A via como inimiga, nos duelos históricos entre o seu Grêmio e o de Vanderlei Luxemburgo, no início dos anos 90. Acaz, ex-repórter esportivo que aceitou ser assessor da Parmalat, admirava a rigidez que os clubes europeus reservava aos jornalistas.
Foi a combinação mortal para um clima bélico nos três primeiros anos de Scolari no Palmeiras. Acompanhei tudo de perto. Vi Acaz mandar pintar uma faixa ao lado do campo, onde os repórteres eram proibidos de pisar. Acabar com a liberdade dos jornalistas entrevistarem quem desejarem.
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"Da porta da rua para cá, é Europa. Da porta da rua para fora é Brasil", me dizia Acaz, sarcástico.
Felipão teve inúmeras discussões com quem questionava seus métodos. Ficou transtornado quando um câmera colocou um microfone no vestiário e ouviu os absurdos que disse aos seus jogadores antes de um clássico contra o Corinthians. Perguntou quem iria dar "uma catarrada na cara do Edílson. Enfiar o dedo nele, porque é c..ão, covarde, cafajeste..."
Estava ao seu lado quando acertou um soco na cara do então repórter do Diário de São Paulo, Gilvan Ribeiro. O crime do jornalistas foi insistir na pergunta se havia sido o treinador que impedira a torcida de acompanhar o treino. Velloso segurou Felipão para evitar o massacre, já que era duas vezes mais forte que o franzino Gilvan.
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Reprodução/SportvNa sua segunda passagem pelo Palmeiras, em 2010, o treinador disse que a imprensa paulista estava de 'palhaçada' com ele. Como protesto, os setoristas do clube apareceram com nariz de palhaços. O treinador ficou possesso, mas pelo menos não espancou ninguém.
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Estas histórias verdadeiras ilustram e até animam a direção do Palmeiras. Mauricio Galiotte sabia muito bem quem estava contratando.
Queria um treinador vencedor, o que conquistou a primeira e única Libertadores do clube. Mas também alguém de sangue quente, sem papas na língua, capaz de enfrentar, sem medo todos os questionamentos da imprensa sobre o Palmeiras.
Galiotte se cansou do politicamente correto. De treinadores 'bonzinhos' que se submetem com calma às críticas, aos questionamentos sobre o time, sobre o clube, sobre a diretoria.
Perto dos 70 anos, Felipão ainda infla o peito e parte para o confronto verbal. E até físico, se precisar. Em Portugal, ele foi considerado um herói por ter acertado um soco no zagueiro sérvio Dragutinovic, durante um jogo pelas eliminatórias da Eurocopa.
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Na Seleção Brasileira de José Maria Marin, ele se viu completamente arrependido por escancarar a concentração e os treinos para a TV Globo, por ordem do ex-presidente da CBF e hoje presidiário nos Estados Unidos. E também por tentar mostrar um lado amigável demais. A Seleção já capengava e antes da partida contra a Alemanha, entre 300 jornalistas, ele escolheu seis repórteres amigos para pedir auxílio e desabafar. Criou 294 inimigos mortais, com a sua postura infantil seletiva. E foi trucidado, com mais gosto, pelos 7 a 1 diante da Alemanha. Seus jornalistas 'amigos' não o defenderam.
Na China, voltou a ser o comandante. Aproveitando o respeito do país pelas autoridades, ele fez o que quis. Sem questionamento da insipiente imprensa esportiva. Os jogadores do Guangzhou Evergrande se comportavam como soldados diante de um general, quando recebiam qualquer determinação tática do técnico. Ele já havia desenvolvido esse método no Uzbequistão.
Felipão é uma pessoa que se manteve saudável, fazendo ginástica, caminhando muito. Milionários, tem acesso à vitaminas, à melhor alimentação. Apesar dos 69 anos, ele aparente ter pouco mais de 50.
Chegará ao Brasil na próxima semana com energia para representar o personagem Felipão, que ele tanto adora. E encarar a imprensa que mais o questiona e para quem deseja mostrar que não está ultrapassado.
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Apesar do erro histórico que cometeu em de 2014. Manter o mesmo esquema tático, o 4-2-3-1, com o qual havia vencido a Copa das Confederações, em 2013. E que ingenuamente não percebeu a decadência dos adversários. Japão, México, Itália e Espanha não conseguiram sequer passar pela primeira fase do Copa do Mundo do Brasil. Pior, acreditou que não precisava mudar a estratégia.
Se tornou refém de Neymar. Com a contusão do jogador e com os treinos abertos para a Globo filmar, a Alemanha fez o que quis no Mineirão. O técnico Low teve pena porque o placar teria passado dos dez gols se ele desejasse. 7 a 1 foi um presente.
Com problemas particulares, seu velho escudeiro, Flávio Teixeira, não poderá trabalhar no Palmeiras. Não no primeiro momento. O que será ruim para Felipão. É o baixinho, sósia de personagem de propaganda de cerveja, que o acalma nos momentos de crise. Quando acaba o período 'paz e amor'.
Felipão é muito trabalhador. Não conseguiu acompanhar as mudanças táticas e os métodos de trabalhos modernos. Tanto que tem as portas dos grandes clubes e selecionados europeus fechados.
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Mas para a realidade da América do Sul poderá impor sua maneira aguerrida, montra uma equipe competitiva, que atue em bloco, tenha contragolpes em velocidade, jogadas ensaiadas em escanteios e faltas laterais. Time guerreiro, que não aceita a derrota em instante algum.
Jogadores como Dudu, Lucas Lima, Gustavo Scarpa, de toques refinados, terão de se adaptar ao treinador. Não ao contrário. Lembrando que ele não tolera ser desobedecido, questionado. Basta lembrar da difícil convivência com ele e o chileno Valdivia.
Os atletas atualmente estão cada vez mais egocêntricos, vaidosos. Não aceitam gritos, palavrões, socos na mesa para que façam o que o treinador definir.
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Reprodução/SportvO preparador de goleiros, Carlos Pracidelli, também parceiro de trabalho de Felipão, já adiantou em entrevista que o Palmeiras terá um arqueiro titular. Acabará de vez com o rodízio ou a insegurança de Jaílson, Weverton e Fernando Prass. Está claro que o espaço será pequeno para os três. Um irá embora para sanidade do grupo.
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A interferência, as cobranças costumeiras do executivo Alexandre Mattos não terão mais vez. Felipão pode até manter um bom relacionamento, principalmente diante da imprensa. Mas está acostumado a se explicar apenas ao presidente ou o dirigente do clube que tiver maior cargo. Ele respeita a hierarquia da diretoria da equipe e não um profissional contratado.
Galliote queria um técnico 'cascudo'.
Talvez tenha contratado o maior deles entre os brasileiros.
O trouxe de volta ao clube mais problemático para trabalhar.
Da organizada mais violenta.
Da torcida mais exigente.
Ainda mais sabendo dos bilhões da patrocinadora.
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E das centenas de milhões que deixa nas bilheterias da arena.
Veio ao encontro da imprensa mais detalhista.
O zagueiro viril, que passava o unguento Vick Vaporub nas partes baixas, para passar o jogo todo irritado, e descontar nas canelas dos atacantes adversários, não mudou.
Aprendeu como treinador que futebol é guerra.
Uma guerra precisa de inimigos.
Chega ao Palmeiras para calar a boca de quem o chama de ultrapassado. De quem o culpa pelo segundo rebaixamento palmeirense, em 2012. De quem não esqueceu o vexame do 7 a 1 para a Alemanha.
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Agência PalmeirasE também fazer com que o mimado e enriquecido elenco palmeirense se dobre a um treinador. Situação que não ocorre, não por coincidência, desde a sua demissão sumária, em 2012.
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Ele mergulha com gosto no olho do furacão.
O resultado é completamente imprevisível.
O Palmeiras está pagando e muito caro para ver.
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