‘Eu vi o FBI prender os corruptos da Fifa. Robinho... Daniel Alves... A imagem do jogador brasileiro no mundo é péssima’, diz Jamil Chade
Um dos melhores e mais premiados correspondentes do Brasil no Exterior. Jamil Chade cobriu guerras, entrevistou ditadores, detalhou crises econômicas. Mas se surpreendeu com o mundo do futebol. ‘Há muita sujeira, falta de transparência. E poucos lucram muito’
27 de maio de 2015.
Hotel Baur au Lac, um dos mais luxuosos de Zurique.
7h30 de uma manhã gelada na Suíça. Agentes do FBI e soldados da polícia suíça invadem quartos com diárias de R$ 5 mil.
E prendem 14 membros da altíssima cúpula da Fifa. O maior esquema de corrupção da história do futebol foi desarticulado. No lobby do hotel, ‘enrolando’ com um café que custou R$ 50,00, estava um jornalista brasileiro. Ele acompanhou dirigentes sendo presos e levados para carros da polícia, com os rostos e corpos cobertos por lençóis egípcios. Para não serem reconhecidos. Estava lá para cobrir uma reunião do Comitê Executivo da Fifa e presenciou o marco mais significativo dos bastidores do futebol.
O Fifagate foi só uma das inúmeras coberturas históricas do premiado jornalista Jamil Chade. Há 24 anos, decidiu fazer mestrado em Genebra, quando decidiu se tornar correspondente do Brasil no Exterior. E virou um dos melhores da história do jornalismo deste país. Eclético, corajoso e com visão profunda dos principais acontecimentos, fez questão, nestes 24 anos, de estar no ‘olho do furacão’.
“Cobri guerras, escândalos financeiros, entrevistei ditadores árabes e apaixonado por futebol, acompanhei a exposição da corrupção da Fifa, a queda de João Havelange, de Joseph Blatter, que eram tratados com mais respeito que presidentes de países”, diz Jamil. Pelas apurações e matérias que fez, foi chamado para depor na CPI da Nike, em Brasília.
Dos nove livros que escreveu, três são sobre bastidores do futebol. Expôs, aos políticos deste país, de forma didática, os fatos chocantes que descobriu.
A entrevista vai além dos bastidores da queda da alta cúpula do futebol, mergulha na Seleção Brasileira e na visão que o mundo tem, do time que fracassa em Copas do Mundo, desde 2006. “Interesses comerciais sequestraram a Seleção Brasileira. Desde então, vieram as derrotas, a falta de identidade. É triste. O mundo perdeu o encanto com a camisa verde e amarela.” Jamil está passando por um período em Nova York, depois de mais de duas décadas na Suíça. Segue sua missão de traduzir o mundo para vários veículos jornalísticos.
Tive a sorte de trabalhar por décadas com ele no Jornal da Tarde e comprovei seu talento único como correspondente. Acesso a fontes importantíssimas.
E coragem.
Jamil foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça. Foi um dos pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade, criada para investigar crimes e violações dos direitos humanos na Ditadura Militar.
Ganhou o prêmio Audálio Dantas, reservado aos jornalistas que dedicaram suas vidas à democracia, justiça, direito à informação e direito à informação.
O que vai para o ar hoje não é uma entrevista.
É um privilégio.
A chance de decifrar não só o futebol brasileiro, mas este país, com os olhos do mundo...
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